É o que dá unir-se a caloteiros.
Desde que assumiu a presidência da república, Lula empenhou-se em apoiar as desgraças de Kirchner frente ao FMI. Em março último, quando a Argentina estava a apenas cinco horas de cometer um calote, o presidente brasileiro gastou o dinheiro do contribuinte em ligações telefônicas para dirigentes da França, Alemanha e Espanha a fim de obter-lhes solidariedade em prol de Kirchner. Ligou também para Bush, solicitando uma atitude compreensiva diante da situação dos hermanos. Era a "aliança Brasília-Buenos Aires", que previa estratégias conjuntas para lidar com as dívidas públicas dos dois países - e que, dias depois, foi seguida pela assinatura da Ata de Copacabana.
Maravilhada de ver o torneiro mecânico guindado à posição de lider do terceiro mundo latino - e, talvez, antecipando que aquele apoio a um premente calote argentino pudesse indicar o caminho a ser seguido pelo próprio Brasil - a imprensa tupiniquim delirou.
Pois, agora, o retorno nos chega na forma de um velho e previsível tango: Kirchner está ameaçando ampliar as restrições impostas aos produtos brasileiros. E isto no momento em que o próprio Kirchner está passando a Lula a presidência temporária do morimbundo Mercosul.
É como diz aquele belíssimo Tango Ingrato de Zabaleta e Larrea:
Ahora me toca olvidar
tus palabras de despido
como si es fácil borrar
todo lo que hemos vivido.