terça-feira, 2 de novembro de 2010

Derrotados pela arrogância

Dilma está eleita e as razões para este fato consumado podem ser lidas abaixo, no meu último post, datado de 27 de junho. Pelo menos a maior parte delas.

Para resumir, pode-se aceitar que o cone de trânsito transmutou-se em presidente por conta de um Lula que vestiu, sem pudores, a farda de presidente-militante , por um TSE frouxo o bastante para não enquadrá-lo e, sobretudo, por uma campanha de rádio e televisão competentíssima.

Na outra ponta, aquilo que sacramenta qualquer vitória eleitoral: a campanha de Serra errou mais. Erros novos, como a tragédia anunciada de um jingle citando Lula - e, pelo-amor-de-deus, uma foto de Lula com Serra na abertura do programa. Erros irritantemente velhos, como embarcar na agenda das privatizações proposta pela campanha petista, que já havia derrotado Geraldo Alckmin em 2006. Erros inexplicáveis, como não mostrar um só corredor de hospital lotado em uma campanha de oposição que dizia ter como carro-chefe a saúde.

Não quero - e não vou - me estender no tema campanha. Em primeiríssimo lugar porque tudo o que eu tinha a dizer sobre esta última foi dito no final de junho. Depois, não sou sou eu quem tem que fazer isso. E o motivo deste post é justamente este: ninguém mais parece disposto a fazê-lo.

A contar estas primeiras 48 horas, o que se vê é o melô do - perdão pela expressão - corno-manso. No afã de não parecer derrotada, a oposição comemora, com aplauso de boa parte de sua militância, os 44% obtidos. Há os que ficam, inclusive, fazendo as contas por estado e, até mesmo, por município: "parabéns para o Cú-do-Mundo porque lá Serra ganhou com folga".

Eu não sei se vocês se dão conta do quanto estas primeiras 48 horas evidenciam uma arrogância ímpar. Nas entrelinhas - e, às vezes, literalmente - o que esta postura demonstra é: "nós fizemos tudo certo; o povo é que não sabe votar".

Não vou, aqui, discutir a capacidade intelectual do eleitor. Já fiz isso no passado. Não faço mais. O eleitor que realmente enche urnas é pragmático, não liga para valores abstratos como democracia e quer saber o que tem a ganhar votando em fulano ou beltrano. Ao mesmo tempo, ele acredita em milagres e tende a ser sensível à figura de um salvador, um líder carismático - desde que, é claro, os botões emocionais sejam acionados corretamente.

Certa ou errada, é assim que a coisa é. E eu só precisei perder uma eleição presidencial, a de 2006, para entender que este é o jogo. Fosse a oposição menos arrogante, a afirmação que deveria imperar nestas primeiras 48 horas é: "nós não conseguimos falar com o povo que - para ficar na linguagem corrente - não sabe votar". Ao invés disso, preferem comemorar os altos índices obtidos em estados com melhores índices de escolaridade - como se isto não fosse uma prova vexatória de seu fracasso, de que eles, vamos de caixa alta?, NÃO SABEM FALAR COM QUEM ENCHE URNA.

Sinto em avisá-los: se a oposição não abandonar este melô do corno-manso em prol de uma discussão séria, aberta, sobre os inúmeros erros de suas últimas três campanhas eleitorais... Se insistir em apontar o dedo para o povo ao invés de apontá-lo para os que tomaram decisões - e os que escolheram os que tomaram decisões - ao longo desta campanha, nada vai mudar. Vai ser um festival de derrotas até o final dos tempos.

domingo, 27 de junho de 2010

Hora da verdade

Alguns persistentes - obrigada pela fidelidade -perguntam por que eu parei de postar.

Antes de qualquer coisa, há a questão do tempo. Neste último ano, um ritmo mais intenso de trabalho não está me permitindo atualizar o blog como antes. Também é verdade que o Twitter caiu como uma luva para este novo momento. Aqueles 140 toques podem não permitir profundidade, mas são melhores do que o silêncio absoluto. Mais do que isso: permitem que se faça muitas coisas em pouco tempo - opinar, saber dos amigos e debater brevemente a pauta do dia.

Mas o que realmente está pegando é que eu não tenho coisas muito agradáveis para dizer. Na verdade, sei que o que eu tenho a dizer vai desagradar a grande maioria dos leitores. Medo de perder, leitores? Não. Se fosse isso, era só seguir escrevendo elogios oposicionistas feito uma matraca - e, acreditem, eu sei fazer isso como poucos. O que eu me pergunto é se vale à pena perder as raras horas de lazer para comprar briga com quem superestima o poder da internet na conquista de votos - e que, por isso mesmo, sugere que a gente dê uma de avestruz e não aponte publicamente os erros da oposição.

Eu não tenho vocação para avestruz. Criei este blog em março de 2003 para dizer o que penso. E é assim que ele vai continuar. Mais lento em épocas em que não estou com tempo ou com paciência. Mas jamais servil a qualquer linha de pensamento que não seja a minha - ou a reboque de certa militância oposicionista que, pelo que ando vendo por aí, virou torcida apaixonada. Incapaz de ver os erros do time, mesmo quando as derrotas estão se acumulando. Preferem chorar sobre o leite derramado no final do campeonato do que apontar agora os erros que poderiam mudar o destino do time.

E porque não nasci para avestruz - e, mais ainda, porque concordo com a máxima rodriguiana de que "toda unanimidade é burra" - dedico as linhas abaixo a todos os leitores: aos que reclamam do meu silêncio e aos que preferem que eu me cale.

Vamos às verdades

1 - Sem Aécio Neves na chapa, perdemos Minas Gerais. E esqueçam as histórias da carochinha. Se o PSDB não conseguiu enquadrar o mineiro para aceitar a vice-presidência não conseguirá enquadrá-lo a trabalhar por um resultado diferente daquele obtido no segundo turno de 2006: 66% dos votos daquele estado foram, então, para Lula.

2 - Sem Minas, é prioritário buscar um vice que traga votos novos. Quem é ele? Não sei. Mas Álvaro Dias não é. Quem vota em Álvaro dias já votaria em Serra de qualquer maneira. Estou dizendo isso porque quero um vice do DEM? Não. Vou repetir para que fique bem claro: quero Aécio de vice - chapa pura, pois não? Tenho algo contra Álvaro Dias? Também não. Acho que é um dos bons quadros do PSDB. Mas ele não serve para vice porque oferece uma sobreposição de votos quando é preciso conquistar votos novos. É fácil falar isso sem indicar outro nome? Não, não é fácil. É triste. Principalmente quando penso que a obrigação de indicar outro bom nome que não Aécio nunca foi minha - e que quem deveria fazê-lo, ao que parece, não se preocupou com o assunto ao longo dos últimos quatro anos.

3 - Dilma é ruim de discurso? É péssima. Qual a influência concreta disso nas urnas? Quase insignificante, meus caros. O programa do PT na TV e as negativas de participar de debates e entrevistas já apontaram a linha a ser seguida pelo marketing da candidata: pouca exposição. O programa vai ser muito Lula - esqueçam o TSE, ok? -, muitas realizações de governo, muito jingle e pouca Dilma. E os debates? Claro, claro... Serra vai dar um banho nos debates. Mas informem-se sobre os índices de audiência dos debates - principalmente depois do terceiro bloco, quando a coisa realmente esquenta - , antes de contar com eles para virar qualquer tendência. Dilma gaguejando no Jornal Nacional funciona como piada interna da oposição. Mas desconfio que não lhe tire um voto.

4 - Dilma ontem agradou aos socialistas, hoje às socialites? Uma vergonha do ponto de vista ideológico, né? Tema sensacional para inflamar o debate em blogs e fóruns oposicionistas. Mas, no que diz respeito às urnas, é ponto positivo para ela que aprendeu, com louvor, a lição do "mestre" Lula: eleição se ganha dizendo o que as pessoas querem ouvir. Uma ideologia por dia é receita de sucesso eleitoral no Brasil. Não adianta chorar. Tem é que aprender como ser cara-de-pau assim - e como fazer isso melhor do que eles.

5 - As obras do PAC são fictícias? São. Mas espero que não deixem de falar disso nos programas. E não adianta só falar. Tem que ir até lá, mostrar quão fictícias elas são, DESDE A PRIMEIRA SEMANA DE PROGRAMA. Porque Dilma vai mostrá-las quase concluídas, lindas, bem filmadas. Aquela célebre frase de José Serra é uma síntese maravilhosa do jeito tucano de fazer campanha: "Quanto mais mentiras eles disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles". É um alento aos corações cansados de tanta baixaria eleitoral, certo? Mas, sinto dizer, sem qualquer efeito eleitoral se quem mente for mais competente em vender o peixe do que quem fala a verdade. A verdade não tem poder, por si só, de operar milagres. É por isso que o vulgo diz: "mais cedo ou mais tarde, a verdade aparece". Na política, normalmente a verdade aparece mais tarde - tarde demais, arrisco dizer.

6 - O PT mente bem. Usa verossimilhança para mentir. Aprendeu, depois de perder três eleições presidenciais, que só se ganha eleição no Brasil mentindo. Querem ganhar falando a verdade? Ok, isso é mesmo maravilhoso do ponto de vista da ética - embora eu tenha minhas dúvidas sobre a concreta possibilidade de tal coisa funcionar. Mas, se insistem, acho bom encontrarem uma fórmula milagrosa para tornar a verdade mais atraente que a mentira. Estou sendo cínica demais? Pode ser. Fiquei assim depois de ver Geraldo Alckmin vestir uma jaquetinha cheia de logotipos para combater a boataria mentirosa das privatizações. Desculpe se a cena não me sai da cabeça. Mas é o exemplo mais acabado de como a verdade mal explorada é, por si só, impotente diante de uma mentira brilhante.

7 - Mentira, verossimilhança e estética luxuosa. Eis uma coisa que os marqueteiros petistas aprenderam como poucos. Desde o "advento" Duda Mendonça, eles sabem que ninguém quer ver pobre desdentado na televisão. A estética "jornalismo verdade" não conquista votos. Mais uma vez, vamos voltar a 2006: o pobre, nos programas do Lula, era bonitinho, bem arrumado, penteado e banhado. As imagens, coloridas ao exagero. Nunca me esqueço de uma fabriqueta de fundo de quintal - acho que de roupas para bebês - que foi mostrada com tamanha cor e capricho de produção que mais parecia a "Fantástica Fábrica de Chocolates". Verdade? Não. Verossimilhança. O segredo é oferecer uma imagem na qual o pobre queira se projetar - e não o mundo cão que ele vê todos os dias no Jornal Nacional. Por que estou trazendo o tema? Porque tive calafrios ao assistir o último programa do PSDB. Tecnicamente perfeito, discurso afiadíssimo, o maldito do programa repetia a estética de 2006. Se não estiverem escondendo o jogo e insistirem nisso durante a campanha, estamos perdidos.

8 - Finalmente, as pesquisas. Há maracutaias? Há. Mas, queiram me desculpar, não há tanta maracutaia assim. Uma negociaçãozinha de margem de erro aqui e acolá até aceito. Dirigir um pouco a pesquisa mediante a escolha de determinadas cidades e bairros, ok. Agora, dizer que todos os institutos estão vendidos é um pouco demais para a minha cabeça. É inegável que Dilma cresceu. E as razões são óbvias: qualquer criatura minimamente esclarecida sabe que um governo com 70% de aprovação sugere uma eleição de continuidade. Brigar contra esta realidade é uma rematada burrice – principalmente quando ela se apresenta estável há mais de quatro anos. Achar que Lula não transferiria votos para Dilma foi uma aposta inacreditável de tão amadora. Portanto, se eu quisesse realmente ganhar esta eleição, partiria do pressuposto de que Dilma cresceu e que ela e Serra estão tecnicamente empatados. E trataria de descobrir os motivos da evidente queda de José Serra. Ficar dizendo que ela não existe é loucura. E, pelo-amor-da-santinha esqueçam o tracking. Muita gente acha que, em 2006, se divulgava tracking fictício favorável a Alckmin só para animar a torcida. Não é verdade. O que aconteceu, então, é que o tracking nunca batia com as pesquisas dos institutos. Portanto, não se fiem nesta ferramenta. Não me interessa se é porque ela é "um retrato de momento" e "não pode ser comparada com as pesquisas tradicionais", blá, blá, blá". Esqueçam esta merda porque ela não é confiável.

Tendo dito tudo o que penso a respeito da campanha presidencial tucana, aviso que não pretendo mais voltar ao tema. Vou, no máximo, remeter links para este post sempre que considerar adequado - e é por isso que os parágrafos foram numerados. Não tenho tempo, nem paciência, para ficar apontado os mesmos erros de quatro em quatro anos. Vou seguir, claro, falando de política. Mas de estratégia de campanha? Esqueçam. O PSDB que tome suas decisões e faça suas escolhas. De minha parte, vou me limitar a votar em Serra, pedir votos para ele e torcer para que, em outubro, a gente possa comemorar uma vitória.

sábado, 12 de junho de 2010

Bom dia, Bahia

Hoje é dia do lançamento oficial da candidatura de José Serra.
Acompanhe tudo ao vivo, pela Rede Mobiliza clicando aqui.
O Brasil pode mais.

sábado, 1 de maio de 2010

Tirania jurídica na web: o cyber-suicídio do PT

Reflexo direto do desespero da cúpula petista com o péssimo desempenho de Dilma Rousseff - as aparições e entrevistas da candidata têm sido uma fonte inesgotável de piadas -, a prática da tirania jurídica na internet pode custar caro ao partido.

Ao ameaçar o blog Gente que Mente com uma ação criminal, o PT transporta para a web uma postura que, até agora, por ser praticada de forma mais dispersa, podia passar desapercebida por uma parte significativa dos eleitores: aquela parte que não se interessa por política.

Quando se fala de jovens internautas, então, a fatia dos que dão de ombros para a política compreende a grande maioria. Essa turminha que não lê jornais - ou fica só nos cadernos de variedades e cultura, passando batido pelas notícias - tende a gostar do PT porque ser de esquerda, anti-americano e fã do Michael Moore é o comportamento estário padrão. Eles não sabem quem é Yoni Sánchez e não param para pensar que o apoio de Lula ao governo cubano é, também, o apoio à censura - inclusive na web. Para eles, "ditadura" é coisa milico e direitista. Nascidos em um país onde a liberdade de expressão é formalmente garantida, educados por professores com tendências à esquerda, eles não conseguem identificar quando a censura vem travestida de um discurso revolucionário. O PNDH III, o Conselho de Jornalismo, a censura ao Estadão imposta por um lulista José Sarney - para ficar apenas em alguns exemplos - são coisas distantes, chatas e sutis demais para acordar este pessoal.

Nesta semana, porém, o PT forneceu um novo elemento que pode mudar este quadro. A censura à livre expressão na web, o uso da Justiça como arma para para calar internautas opositores, pode funcionar como um chacoalhão. Para tanto, é só o PT levar adiante a ação contra o Gente que Mente e direcionar, como já ameaça, sua tirania jurídica para outros blogs e até mesmo aos usuários do Twitter. Bem explorada pela oposição - que deverá fazer a ameaça chegar a todos os ambientes jovens da internet - tamanha sanha totalitária na web é algo que a moçada vai entender e repudiar.

Caso persista nesta estratégia de perseguir juridicamente os internautas opositores, o PT terá engatilhado o revólver. Bastará, então, um simples incentivo nosso para que o partido cometa um cyber-suicídio sem precedentes: perder o apoio de um público jovem, com poder de comunicação viral, às vésperas daquela que promete ser a primeira eleição realmente embalada pelo poder da internet. Seria uma besteira tão grande que já estou quase torcendo para que eles façam mesmo isso.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Anote aí e fale com o seu vice, dona Marina: "hipoalergênica"

Em entrevista ao programa CQC, a senadora e pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, foi questionada por um telespectador: "Por que a senhora não coloca um batom e solta o cabelo?".

Marina respondeu que é alérgica a maquiagem. Também brincou com a famosa música de Dorival Caymmi, "Marina": "Ele me convenceu que sou bonita com o que Deus me deu."

Vou de rima pobre: aceito a poesia, não a alergia.

É que há uma boa variedade de maquiagem hipoalergênica no mercado. Bastaria dona Marina conversar com seu pré-candidato a vice: Guilherme Leal que, vejam só!, é co-presidente do Conselho de Administração da Natura. Ele certamente saberá indicar os produtos certos.

Que fique bem claro: Marina Silva, como qualquer mulher sobre a face da Terra, tem todo o direito de não usar maquiagem. Por opção pessoal, por estratégia de marketing ou, como expliquei no último parágrafo do post anterior, por opção pessoal que se revelou uma boa estratégia de marketing.

O que não vale é usar alergia como desculpa. Fica parecendo ignorância - mal do qual dona Marina certamente não sofre.

domingo, 25 de abril de 2010

Sobre bons marqueteiros

Já notaram que, nos últimos anos, o marketing político virou uma espécie de fonte de todos os males para a política nacional? O marqueteiro político, então, virou um mágico ilusionista, sobre cujos ombros gente supostamente inteligente costuma jogar a culpa de ter votado mal. É tão forte a carga negativa do termo que a maioria dos marqueteiros políticos passou a detestar ser chamado assim.

É claro que boa parte deste ódio é culpa do Duda Mendonça. Depois que o consagrado marqueteiro de Lula apareceu numa CPI dizendo que fora pago pelo PT mediante uma conta do exterior o termo ficou, para usar a expressão de um marqueteiro amigo meu, "radioativo".

Na verdade, o episódio da CPI foi a cereja do bolo. Bem antes disso, durante a campanha presidencial de 2002, quando Duda nos apresentou aquele Lulinha-paz-e-amor, marqueteiro político virou sinônimo de embusteiro. Primeiro para a oposição que logo acusou a inexistência daquela versão soft do torneiro mecânico. Depois para boa parte dos eleitores de Lula - aquela esquerda festiva que acha que artista é aquele que vai onde o povo está e outras baboseiras românticas - e que se sentiu ludibriada quando estouraram os primeiros escândalos do governo Lula.

Uma origem mais remota poder ser apontada também na eleição de 1989: Fernando Collor foi o primeiro presidente brasileiro eleito na era do marketing. A coisa terminou mal e, já naquela época, se apontava para a perversidade desta figura, o marqueteiro político, que nas palavras dos críticos mais suaves "vive de iludir o eleitor". E, aqui, vale um parêntese para observar que a acusação não era totalmente original: os publicitários - classe de onde, usualmente, nascem os marqueteiros políticos - sempre foram vistos como aqueles caras que "vivem de iludir o consumidor".

É um senso comum que só se sustenta porque ainda é forte a crença - nascida no alvorecer do marxismo - de que ambos, eleitor e consumidor, podem ser iludidos, manipulados, moldados ao bel prazer de quem sabe apertar os botões certos. Como quase tudo o que habita o universo do senso comum, esta também é uma meia-verdade.

Comunicação, a ponta mais visível do marketing, é, sim, uma arte muito poderosa. Mas para dar razão a esta crença, a gente teria que jogar no lixo todas aquelas constrangedoras reuniões em que publicitários (os honestos, pelo menos) se viram obrigados a avisar aos seus clientes: "meu filho, o seu produto é uma bosta. Ou você muda o produto ou não há propaganda que o salve". E isto é coisa que acontece com muita freqüência.

Também seria preciso jogar fora todos os bons estudos acadêmicos sobre emissão e recepção de mensagens surgidos nas últimas cinco décadas. Não vou chatear vocês com um desfile teórico. Mas saibam que há muito já não se tem os receptores como amebas passivas. Comunicação não é hipnose. Se você ainda acha que é, deveria se perguntar por que não basta aos regimes totalitários ter o controle dos meios de comunicação de massa - por que todos eles precisam recorrer à violência para sobreviver?

Se é verdade que comunicação e marketing podem muito, também é verdade que não podem tudo. Não podem, em primeiro lugar, prescindir de verossimilhança. É por isso que Duda Mendonça jamais tentou fazer de Lula um intelectual. Isto não colaria. Duda apresentou Lula como um homem do povo, que pensava nos pobres - qualidades que o senso comum já lhe atribuía. Em 89, Chico Santa Rita não tentou fazer de Collor um operário. Isto não colaria. Chico apresentou Collor com um jovem abastado, dinâmico, disposto a expulsar os marajás do poder, moralizar e modernizar a nação - coisas que já lhe atribuíam.

Nenhum marketing, nenhuma estratégia de comunicação, funciona sem verossimilhança. Sem um ponto de verdade que possa - aí, sim! - ser reforçado, exaltado e embalado para presente, qualquer campanha fracassa. Em comunicação, mentira deslavada é receita de fracasso.

É por isso que a pesquisa mais importante antes de começar uma campanha é a qualitativa. Ali, o marqueteiro descobre quais são as qualidades positivas - que são as que vão conferir verossimilança ao candidato e ao discurso. E como ele descobre isso? Perguntando ao eleitor. Ou seja: no marketing de sucesso, e no marketing político em especial, a mensagem é construída em conjunto com o receptor - e não criada fantasiosamente pelo marqueteiro para ser enfiada pela goela de um indefeso eleitor.

E mais: bons marqueteiros políticos sabem que candidatos não são produtos. Não dá para propor mudanças radicais. Aperfeiçoar aqui e ali, tudo bem. Mas, no geral, o que se faz é colocar uma lente de aumento sobre aquilo que a opinião pública já percebe como qualidade positiva no candidato. Para as qualidades negativas, pode-se optar em não debater com elas - deixá-las quietas - ou, no caso de se mostrarem preocupantes, combatê-las.

Em 1989, havia boatos sobre Fernando Collor cultivar hábitos poucos saudáveis. Chico Santa Rita colocou seu candidato para correr, praticar esportes radicais, etc e tal. Em 2002, Duda Mendonça tratou de mostrar Lula cercado de intelectuais para amenizar a imagem de incapacidade que tentavam colar nele. Ou seja: um político até aceita pequenos retoques para amenizar pontos de fraqueza evidenciados pelas pesquisas qualitativas...

Mentiras? Não. Collor gostava mesmo de atividades físicas - foi só ligar a câmera. E, diferentemente do que sugeriu Fernando Gabeira - que qualificou a coisa como embuste ao desembarcar do governo - Lula era mesmo apoiado por parte da intelectualidade nacional. Natural pensar que governaria com eles - mais uma vez, foi só ligar a câmera. A própria imagem do Lulinha-paz-e-amor era uma verdade se considerarmos que em 2002 ele parou de brigar com todos, esqueceu os 300 picaretas e fez, durante a campanha, alianças antes inimagináveis.

Há marqueteiros políticos que mentem? Com certeza. O fato é que dificilmente eles vencem eleições. Também há, como em todas as áreas profissionais, os que topam qualquer negócio - grana fria, jogadas baixas, dossiês, falcatruas - por dinheiro.

Mas vamos deixar uma coisa bem clara: se você, ao longo da campanha de 2002, não parou para pensar no que significava a aliança de Lula com PL de Valdemar da Costa Neto, a culpa não é do Duda Mendonça, ok? Você pode fazer muitas críticas ao Duda Mendonça - menos seguir acreditando que ele lhe vendeu uma mentira.

Da mesma forma eu espero que o eleitor da Marina Silva não culpe os marqueteiros da candidata no futuro. Profissionais, os caras apenas fizeram uma qualitativa e descobriram que “não ter marqueteiros” e parecer “natural como a floresta“ - abrindo mão, inclusive, de artifícios como a maquiagem - são pontos de força da candidata; coisas que explicam porque parte do eleitorado vota nela. Coisas que já foram devidamente exaltadas e embaladas para conquistar mais votos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Quando as hienas rosnam, os burros baixam as orelhas

Marcelo Branco,o coordenador da campanha de Dilma Roussef na web, acusar a Rede Globo de fazer propaganda subliminar para José Serra na sua campanha de aniversário, não pode surpreender ninguém. O petismo sempre trabalhou contra a liberdade de expressão. Da tentativa fracassada de implantar o Conselho de Jornalismo, passando pelo dia em que Lula quis expulsar o jornalista Larry Rohter do país e chegando à recente denúncia do humorista Marcelo Madureira, os exemplos são muitos.

O que realmente surpreende é a rapidez com que a Rede Globo tirou sua campanha do ar sem que houvesse qualquer denúncia formal e consistente. A Globo capitulou para nada. Nada além do cacarejo conspiratório de Marcelo Branco no Twitter, repercutido em blogs da rede petista - o mais célebre deles pertence a um ex-funcionário da própria Globo que usualmente  inclui qualquer veículo de comunicação que apresente algo acima de um traço de audiência no P.I.G.,  Partido da Imprensa Golpista. Ou seja: meia-dúzia hienas rosnaram e um burro qualquer - ou uma tropa deles, não sei -  decidiu que uma das maiores empresas de comunicação do mundo deveria arriar as calças.

Revoltante, esta demonstração de servilismo pode custar caro à emissora. Primeiro, porque a decisão alimenta a moral da tropa de choque de Dilma Roussef - e  daqui para frente eles, que já não tinham  limites,  vão querer mais. Depois  porque ao tirar a campanha do ar a Rede Globo transformou a mentira de Marcelo Branco numa meia-verdade. E isto é tudo o que petismo precisa para seguir acusando a Rede Globo até o fim dos tempos.







segunda-feira, 12 de abril de 2010

Vai rachar?

Em fevereiro, publiquei um post que deixou boa parte dos leitores impacientes.

Sob o título "Lula e a pirâmide" tentei explicar o que eu considero parte significativa do sucesso de Lula - as alianças que este selou com o topo e a base da pirâmide social - e alertei:

"É preciso, pois,  prometer mais do que a continuidade do Bolsa Família. É preciso oferecer algo que estimule, de forma muito concreta, a mudança do voto. E este algo – esta rachadura na aliança que Lula forjou, há sete anos, com a base da pirâmide – existe. Está ali, muito visível, para qualquer um que consiga manter a cabeça fria – que consiga ficar imune, pelo-a-mor-de-deus,  às provocações ensaiadas de Lula para pensar no que realmente interessa. E mais: esta rachadura cai como uma luva, conferindo a necessária verossimilhança eleitoral, para o candidato preferido da oposição."

Aos que pediram que eu revelasse qual era a tal "fissura", respondi que só falaria no final da primeira semana de campanha. Porém, diante do discurso de José Serra no sábado - e de algumas notinhas que saíram na imprensa ao longo da semana dando conta de que os marketeiros petistas já identificaram o ponto fraco  - acho que é bobagem manter o "segredo". Que nunca foi propriamente um segredo. Como eu disse em fevereiro: "está alí, muito visível, para qualquer um que consiga manter a cabeça fria".

Então, para quem ainda não se deu conta: a área em que Lula tem pouco ou nada para apresentar, que é um bem de insatisfação infinita - e que, não  por acaso, desponta como preocupação primeira de todos os brasileiros nas pesquisas de opinião -, é a saúde. Seja pela própria estrutura da saúde hoje - com o pacto de gestão, que tende "municipalizar" todas as realizações que recebem verbas federais -, seja pela evidente carência que impera, há décadas, neste setor, ou pelo próprio apelo emocional: garantida a manutenção do Bolsa Família, saúde pública de qualidade é a nova aliança a ser firmada com a base da pirâmide. E eu acho que nem preciso explicar porque o tema cai como uma luva para José Serra. Basta dizer que seu trabalho como ministro da saúde e o tratamento que a área recebeu dos governos tucanos em SP conferem a necessária credibillidade.

Aí vocês vão me dizer: "coisa mais óbvia, NG".

É, pode ser óbvia para mim e para vocês. Mas só vou me convencer de que é realmente óbvia quando cada deputado e senador da oposição ocupar seu tempo de tribuna para revelar o desleixo do governo Lula com o tema. Quando cada blog oposicionista estiver registrando e denunciando as mazelas nos hospitais federais. E quando, mais tarde, no momento em que a campanha entrar na fase de exibir propostas, um conjunto de ações concretas for apresentado ao eleitor.

Que fique bem claro: o tema sempre foi explorado em campanhas - fossem elas municiais, federais ou estaduais. A questão, agora, é  transformá-lo no grande tema - eixo central do discurso, assim como a "fome" esteve para Lula em 2002.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Bate pra valer, Dilma!

Dilma começou a atacar José Serra. Está - como esteve Lula, há um par de meses, quando deixou claro que almejava uma eleição "plebiscitária" - chamando o tucano para dançar.

Em política - e isto é tão velho quanto a Terra - a agressividade é privilégio do segundo colocado nas pesquisas. Aparentemente sem nada a perder, o segundo colocado bate na esperança de que o primeiro lhe reconheça a importância e passe a entabular um debate.

Certíssima, pois, a estratégia de Dillma. Se eu estivesse do lado de lá, recomendaria exatamente isso. Sem jamais perder de vista, contudo, que a artimanha depende do erro alheio para ser exitosa.

Erro que, pelo jeito, não virá. Experiente e bem orientado, Serra declinou do convite. Espero que continue agindo assim por muito tempo - mais precisamente, até que a campanha entre no ar e as respostas que Dilma merece possam vir por outras vozes que não a do próprio José Serra.

Por ora, a melhor resposta é deixar Dilma espumando, sozinha, em praça pública. No momento certo, será possível apontar para ela e dizer "veja que criatura descompensada está a pedir o seu voto".

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Band realiza comício de Lula

Caso não tenham visto a suposta entrevista de Lula no Canal Livre de ontem, cliquem aqui.
Depois tentem me convencer de que isto não é um comício com intervalos comerciais - boa parte de deles destinados a veicular propaganda do Governo Federal.
Lula nadou tranqüilo, falando o que bem entendia, respondendo somente às perguntas que queria. Sua autoridade na direção do programa foi tamanha que, no último bloco, aos ser questionado por algo que eu já nem lembro mais o que era, deixou escapar: "Eu ía encerrar o programa mas..."
Ato falho, que evidenciou quem estava no comando da coisa.

sábado, 13 de março de 2010

De onde veio o dinheiro?

dindin.jpg
O dinheiro apreendido com os aloprados petistas em 2006.


Antes de mais nada, eu acho que a matéria da Veja é mais uma daquelas que vão causar barulho somente entre nós. Na urna, o impacto será insignificante. E digo isso porque a denúncia carece daquilo que o caso José Roberto Arruda oferece em abundância: um vídeo didático, sob medida para analfabetos funcionais, que mostre a bandidagem metendo a mão no dinheiro. Sem isso, queridos, não tem jogo - pelo menos, não um jogo que faça a urna pender para o nosso lado.

Não me interpretem mal: não estou criticando a Veja. A revista trabalha com o que tem. Não pode sair inventando provas. Só estou dizendo que as evidências apresentadas são do mesmo tipo que a Veja tantas vezes publicou no passado: coisa para quem lê e entende o que lê. E depois, mesmo que seja bem explorado por uma publicidade inteligente, o episódio ainda enfrentaria a barreira dos valores - o pessoal do Bolsa Família, já disse várias vezes, tá nem aí para a corrupção.

Então, prefiro comemorar uma pequena vitória: o fato de que aquela pergunta, tantas vezes repetida ao longo de 2006, finalmente foi respondida. A origem dos R$ 1,7 milhão com os quais os aloprados petistas pretendiam comprar um dossiê contra José Serra parece, agora, bem clara:

"VEJA obteve imagens de cheques que mostram a suspeitíssima movimentação bancária da Bancoop. O primeiro, no valor de 50 000 reais, além de exibir a palavra “saque” no verso, traz o código SQ21, que tem o mesmo significado (saque) e se repete na maioria dos cheques emitidos pela Bancoop para ela mesma. O segundo destina-se à empresa Caso Sistemas de Segurança, do “aloprado” Freud Godoy, e pertence a uma série que até agora já soma 1,5 milhão de reais."

sexta-feira, 12 de março de 2010

Cafezinho para a liberdade

Alô, oposicionistas de São Paulo e Rio.

A comunidade “Não quero Dilma Rousseff presidente do Brasil”, com quase 16.000 membros, vai realizar um flash mob neste domingo, 14/03: o Cafezinho para a Liberdade.

Inspirada nas tea parties americanas, a idéia é que, na hora marcada, o pessoal se encontre para tomar um café e conversar. No cardápio: "PNDH III, Estado mastodôntico, corrupção endêmica, politização da Justiça, carga tributária e flerte com ditaduras" por parte daqueles que nos governam.

No Rio de janeiro, vai ser no Jardins do Palácio do Catete – Rua do Catete.

Em São Paulo, no Café da Pinacoteca – Praça da Luz.

Horário: das 15h às 17 horas.

Informações: deixaram aqui um link para informações. Mas ele cai numa página do Facebook e é preciso fazer login para acessar.

Está dado o recado.

Mas fica a dica para que, da próxima vez, a turma faça uma pagininha de informações que possa ser acessada democraticamente. Não dá para pensar em flash mob condicionando o acesso às informações ao login em uma rede social específica.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Democracia zero

É mesmo uma lástima que as declarações de Lula sobre os presos políticos do regime cubano me pegaram em uma semana para lá de corrida. Por conta disso, acredito, este post não vai trazer qualquer novidade ou arejamento ao tema. Imagino que tudo já foi dito.

Fica, então, apenas um prazer quase mórbido: o de ver a mesma comunidade internacional que até ontem puxava o saco do torneiro-presidente, que achava que ele era um "grande estadista", cair agora em envergonhado pasmo. Ao tratar Lula desde o primeiro mandato como um esquerdista moderninho, boa parte da imprensa e dos governos do chamado primeiro mundo passaram um senhor atestado de ignorância.

Por aqui, sem novidades. A maioria dos leitores deste blog, e todos aqueles que, enfim, são alfabetizados o suficiente para ler e entender o que lêem, jamais tiveram dificuldades para reconhecer as inclinações ditatoriais de Lula. E isto inclui os partidários do lulo-petismo que, mesmo tentando disfarçar, não só conhecem bem como contam com tais inclinações para consumar seu plano de poder.

Obama, só para ficar no mais ilustre da turma de baba-ovos, achou que Lula era "o cara". Nem mesmo as aproximações com Hugo Chávez e o Irã pareciam importar. Estavam enfeitiçados com o presidente-operário-que-bebeu-água-com-merda-e-caramujo-quando-pequeno. Ressalva honrosa deve ser feita à ONG Repórteres Sem Fronteira que, pelos menos desde 2003, cobrava de Lula uma posição sobre as perseguições do regime Cubano. Em outubro de 2003, durante uma coletiva na qual o tema veio à baila, Lula inclusive dirigiu-lhes uma 'delicadeza': “Primeiro… Como que é o nome? Repórter sem fronteira? Repórteres tão sem informação.

E no entanto... E no entanto, nas urnas de outubro próximo o impacto de tão pavorosa declaração será zero. Democracia, caríssimos, é valor que só interessa à camada central daquela já famosa pirâmide social - aquela que, na última década, vem perdendo o poder de influenciar a opinião daqueles que estão na base e que realmente fazem volume nas urnas. Não contem com eles ou com o topo da pirâmide para defender este ou qualquer outro tipo de regime político. Se a economia está bem, os juros altos e o Bolsa Família bombando, o topo e a base da pirâmide querem mais é que a democracia se... exploda.

sábado, 6 de março de 2010

Como vencer eleições no Brasil - Fascículo 1

Na segunda-feira Lula vai estar no Rio de Janeiro. Segundo o Globo Online:

"O presidente, que participa de um evento no Comperj pela terceira vez em quatro anos, vai encontrar obras atrasadas em mais de dois anos. Inicialmente previsto para meados de 2011, o Comperj teve mais uma vez sua data de inauguração adiada ontem pela Petrobras: agora, para setembro de 2013."

Aí eu lembrei que esta obra, cujo início foi só em 2008, apareceu na campanha de Lula em 2006 como se fosse fato consumado. Mas não só ela. Várias obras que ainda hoje se arrastam foram apresentadas na campanha de 2006 como se estivessem prontas.

Assista o vídeo no final deste post. Não precisa ver tudo. O feitiço está nos primeiros 45 segundos: "um presidente pode ser conhecido por grandes obras", diz a apresentadora. E aí, sob o manto seguro de um áudio genérico, aparecem imagens de arquivo também genéricas enquanto o lettering sobre elas apresenta várias obras que simplesmente não existiam - ou , se existiam, eram anteriores a Lula. Nenhuma daquelas obras estava, então, concluída. Dentre elas, além do Comperj, estão:

- A Refinaria de Pernambuco – obra que começou só em em 2007, um ano depois da campanha, e deve ficar pronta só em 2012.

- O Metrô de Salvador - obra que teve início em 2000, com Fernando Henrique, e só será concluída em outubro de 2010.

- O Metrô de Fortaleza - outra obra iniciada no governo Fernando Henrique, em 1999, e que tem o término previsto para 2011.

Para comprovar, assista o vídeo abaixo.

Mas assista tendo em mente que este post não é uma descabida e tardia denúncia. Ele é uma aula sobre como vencer eleições no Brasil.






quarta-feira, 3 de março de 2010

Pingos nos 'is'

O post de ontem animou a caixa de comentários.

Teve gente me dando os parabéns por abrir o voto em Ciro Gomes. Outros ficaram contrariados porque estou a criticar os tucanos abertamente. Outros, ainda, não leram direitinho.

Vamos esclarecer algumas coisas, ok?

Não sou filiada ao partido. Mas, independentemente do candidato, voto no PSDB para presidente.

Eu não disse, como sugeriu um leitor abaixo, que nem Serra nem Aécio servem para presidente. Disse que, caso não consigam se entender, eles darão mostras de que não servem. Há um condicionante aí que precisa ser preservado para que se entenda o objetivo do post.

Finalmente, eu acho que este é, sim, o momento para se discutir abertamente este tipo de coisa. Discussão que, vamos colocar as coisas em perspectiva,  não causa qualquer dano ao projeto da candidatura - ou, se causa, ele é infinitamente menor do que a possibilidade de que ambos arrastem este maldito cabo de guerra até o final da campanha.

Volto a dizer: penso, como também pensa um leitor que comentou no post abaixo, que Serra e Aécio estão blefando - e que caminham para uma chapa pura. Se não for este o caso,  alguém precisa dizer com todas as letras que tamanha infantilidade vais nos custar a eleição. Quem se habilita?

Salvo raríssimas exceções, políticos são cercados por gente que tende a concordar com tudo o que dizem e fazem. Os de muita projeção, nas raras vezes em que encontram alguém disposto a contrariá-los, ouvem o interlocutor em silêncio - e depois fazem o que bem entendem, sem nem mesmo considerar o conselho.

Não acho que este blog tenha qualquer poder sobre decisões desta monta (tenham dó, né?). Mas sou do tipo que prefere ser indigesta a fazer um puxa-saquismo que leva ao fundo do poço. Isto eu deixo para a militância de ambos os candidatos. Eles, os militantes,  já fizeram isso em 2006 e estão fazendo novamente agora: perdem tempo defendendo um ou outro ao invés de implorar por um acordo.

terça-feira, 2 de março de 2010

#Prontofalei

Só por hoje, podem me chamar de Poliana.

É que eu ainda  acho que Aécio e Serra estão escondendo o jogo - e que, no dia D, acabarão anunciando uma chapa pura. Não consigo acreditar que, diante da clara  possibilidade de reconquistar o Governo Federal, os dois expoentes do PSDB não encontrem um jeito para se entender.

Não me entra na cabeça que um governador vivido como Serra, que acumula a experiência de ter sido abatido por Lula em 2002, não perceba a importância de fazer um gesto na direção de Aécio Neves. Seria uma prova de maturidade política - necessária a quem quer presidir um país.

Da mesma forma, não posso acreditar que um jovem governador prefira ver seu partido perder a eleição presidencial a ser um vice  para lá de popular, com concretas possibilidades de sucessão. Fizesse um gesto na direção de José Serra, Aécio daria uma prova de maturidade política - necessária a quem quer presidir um país.

É por isso que eu olho para este silencioso cabo de guerra entre ambos - e para as informações de que não estariam nem mesmo considerando  a possibilidade de uma chapa pura -  e penso que só pode ser blefe. É vaidade e amadorismo demais para a minha cabeça.

Se não for blefe... Bom, se não for blefe, se Aécio e Serra não conseguirem mesmo se entender, o PSDB vai morrer na praia. Como se diz lá no meu Rio Grande do Sul: "nem mel, nem porongo". E eu vou concluir, diante de tamanha demonstração de imaturidade, que nenhum dos dois serve mesmo para presidente.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cautela e canja de galinha...

Ansiedade geral para que José Serra se declare candidato.

Pessoas, isto seria um erro clássico: antecipar a campanha só interessa a quem tem a máquina na mão. Sem contar que provoca manifestações organizadas - greves diversas, ataques de facções criminosas, etc e tal - que só podem ser respondidas à altura se o candidato já descompatibilizou do cargo que ocupava.

A pressa de Lula & cia para que o PSDB defina imediatamente o candidato, aliás, já deveria mostrar a vocês que esta antecipação só os favorece. Portanto, vamos nos acalmar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mestre-cuca esquece a receita de feijão-com-arroz

Me enviaram, ontem,  um link para uma dissertação de mestrado defendida, em 2008, na Universidade Federal de Minas Gerais. O autor é Ivan Satuf Rezende e o título "A emergência da rede: dinâmicas interativas em um blog jornalístico".

Rezende elegeu o Blog do Noblat como objeto empírico para "(...) compreender como o blog age simultaneamente sobre o trabalho jornalístico e as participações dos internautas que publicam comentários", etc e tal.

Tudo muito bom, tudo muito bem... Exceto que, ao falar deste blog e sua titular, Rezende comete alguns erros e omissões. E como dissertação é um trem que  fica para a posteridade, achei por bem esclarecer tais equívocos.

Vamos, pois, a eles.

I

(...) "Uma das maiores polêmicas do Blog do Noblat ocorreu com uma leitora que assina Nariz Gelado. Ela nunca revelou o verdadeiro nome, tem seu próprio blog sobre política e Noblat também a convidou a participar regularmente como colaboradora. O motivo era o mesmo que atraiu o jornalista em relação a Maria Helena Rubinato: Nariz Gelado escrevia bem e sempre participava das discussões com bons comentários. Mas a participação dela não durou mais que dois artigos". (...)

Errado. Foram três artigos: "O Chavismo entre Nós", "Sai o militante, chega o cidadão" e um terceiro, do qual falo mais adiante, cuja omissão - involuntária, quero acreditar - acabou por avalizar uma série de equívocos.

II

(...) "Não foi o dono do blog quem decidiu “rebaixa-la” novamente à condição de leitora. A derrocada teve início quando outro colaborador, um jornalista, decidiu questionar a assinatura de Nariz Gelado em um post publicado no dia 28 de novembro de 2005 ".(...) [ Rezende se refere a Luiz Cláudio Cunha, inserindo, após este parágrafo,  alguns trechos de seu artigo publicado naquela data no Blog do Noblat]

O erro aqui está em atribuir um poder que Luiz Cláudio Cunha jamais teria sobre um blog que não é seu - e me admira que alguém que esteja a dissertar sobre blogs não entenda que os mesmos, jornalísticos ou não, são absolutamente pessoais. Noblat poderia ter ignorado o artigo de Cunha. Se não o fez foi porque não quis. A decisão de, nas palavras de Rezende, me "rebaixar" à condição de leitora foi, sim, sem qualquer sombra de dúvida, do próprio Noblat. Com um adendo apenas: ele me deu a opção de revelar minha identidade e prosseguir como articulista. Como eu disse que preferia sair  - resposta que, desconfio,  Noblat já esperava - ele, e somente ele, acatou a minha decisão.

III

"Para se chegar ao veredicto de que Nariz Gelado não poderia mais escrever artigos, foi necessário que todos os três tipos de atores presentes no blog participassem do debate: o jornalista Ricardo Noblat, um colaborador (o jornalista Luiz Cláudio Cunha) e os leitores-comentaristas.(...) O caso foi levado à tona e “julgado” em poucas horas, sendo que e o dono do blog abriu o caso para debate e ponderou os argumentos antes de anunciar a decisão final que foi dirigida a todo o público leitor."

Não sei de onde Rezende tirou essa bobagem. Porque foram apenas três os "atores" envolvidos naquele debate.

Vamos repetir para que fique bem claro: assim que recebeu o artigo de Luiz Cláudio Cunha, Noblat fez contato comigo, me enviou o texto e perguntou se eu aceitaria abrir minha identidade para prosseguir como articulista. Respondi que não e decidimos, eu e Noblat, que eu faria um artigo de despedida, a ser publicado juntamente com o de Luiz Cláudio Cunha. E foi exatamente assim que aconteceu. Este artigo de despedida, intitulado "Papo em Off" é exatamente o meu  terceiro artigo para o Blog do Noblat, cuja existência Rezende parece desconhecer.

Ou seja: no dia 28 de novembro de 2005, quando Noblat publicou, na mesma hora (às 11:44 o meu e às 11:47 o de Cunha), ambos os artigos,  a decisão já estava tomada. O caso jamais foi "julgado" pelos comentaristas, o dono do blog não "abriu o caso para debate"  e muito menos "ponderou argumentos antes de anunciar a decisão final".

Naquele dia, foi  apresentado aos leitores um fato consumado: um  post no qual  Noblat anunciava os dois artigos e a minha despedida (aqui). Os leitores opinaram muito sobre o tema - é verdade. Mas jamais houve espaço para que eles participassem da decisão. Ela havia sido tomada dias antes.

Isto significa que o episódio nunca, nem mesmo em um trabalhinho do ensino médio,  poderia servir de exemplo para comprovar que "o jornalista de fato dá importância para os debates travados no interior do blog" ou, ainda, que "as conversas entre os participantes e as opiniões dos colaboradores são realmente levadas em conta nas decisões que influenciam os rumos do blog", como quer Rezende. Há inúmeros exemplos de que tais coisas são importantes para o Blog do Noblat. Mas o episódio que me envolve, definitivamente, não é um deles.

O que me espanta é que todas estas distorções da realidade tenham aparecido numa dissertação que era requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Comunicação Social - e  que não se tenha respeitado, ali, um princípio básico do jornalismo: o fato. Tivessem, mestrando e orientador, lembrado de fazer o feijão-com-arroz do jornalismo - entrevistar os envolvidos, por exemplo - o desastre seria menor.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Lula e a pirâmide (II)

Alguns comentários no post abaixo merecem destaque:

Do leitor que se assina "Minancora"


Tem um furo no texto. Se a classe média não forma opinião “em volume suficiente para causar impacto nas urnas” como é que ela ajudou o Lula a se eleger em 2002?

Primeiro, em 2002 havia um marqueteiro no meio do caminho. Ele transformou, com muita competência, o discurso da classe média em campanha - uma campanha vitoriosa. E lembre-se de que este discurso, esta idéia do presidente-operário,  vinha sendo  martelado há 13 anos.

Em 1989 o discurso não fora  forte o suficiente para combater uma outra idéia: a de um presidente jovem e dinâmico que prometia acabar com os marajás e colocar o país no caminho da modernidade. Note que Fernando Collor não contava com o apoio dos intelectuais - a maioria deles estava, já, com Lula. Mas seus marqueteiros souberam captar e amplificar o espírito do momento - exatamente como Duda faria, com Lula, anos depois.

Uma campanha bem sucedida  é aquela que capta o espírito do momento e o devolve ao eleitor na forma de discurso político. O erro está em se buscar este espírito do momento nas fontes erradas. Em 2002 ele esteve, pela última vez, com a classe média. Já não está mais. Talvez no futuro volte para as nossas mãos. Hoje não.

Quer ter um bom exemplo desta dinâmica? Então tente descobrir porque o truculento e polêmico Marcelo Dourado, execrado do BBB em 2004, é, no momento, o favorito para levar o prêmio. Mudou Marcelo, mudou o espírito do momento ou mudaram ambos? (Ah, desculpe, você é daqueles que torcem o nariz para o BBB? É dos que não conseguem abstrair o aspecto da  exposição humana para ver ali um simulador excelente de construção e desconstrução de auto-imagem? Então desculpe: você pode entender muito de política. Mas de campanha política você não entende. É provável que não goste o suficiente do tema para realmente compreendê-lo).

Do leitor que se assina Vladimir:

Nariz,

Ok, talvez você esteja correta. Mas, você pode, por favor, indicar qual é a tão óbvia rachadura?

Me fizeram a mesma pergunta também via Twitter hoje cedo. Não posso. Não no momento. Apontar a rachadura agora seria entregar o ouro ao bandido - antecipar uma estratégia que, talvez, já esteja em plena gestação. Deste tema, em público, eu só falo no final da primeira semana da campanha - para comemorar o acerto ou reclamar o erro.

Lula e a pirâmide

Se as críticas que a oposição anda dirigindo a Dilma Roussef não são uma cortina de fumaça - uma tentativa de arrastar o debate até abril quando, só então, a estratégia propriamente dita será apresentada - começo a me preocupar.

Antes de mais nada, eu penso que foi um erro entrar na briga agora. Não era hora ainda. E pior: tenho a sensação de que tudo está acontecendo como os governistas querem. Primeiro, Lula subiu no palanque e começou a chamar a oposição para o debate. Um canto de sereia, ignorado pelos adversários até que... Até que surgiram as primeiras pesquisas mostrando o crescimento de Dilma. Aí não resistiram mais. É verdade que estão preservando José Serra - um acerto. Mas também é verdade que aceitaram o chamado de Lula: polarizaram, criando um clima plebiscitário - que, vamos lembrar, era exatamente o que o presidente queria.

No popular: Lula tirou a oposição para dançar e ela aceitou. E o fez movida por algo que deveria ser tão esperado quanto encarado com cabeça muito fria: o crescimento de Dilma. Independentemente da fidelidade das pesquisas, qualquer um que estivesse recebendo a visibilidade da ministra apresentaria algum crescimento. Arrastada pelo país, sem qualquer fiscalização do TSE, por um presidente com altos índices de popularidade até eu cresceria nas pesquisas. No mínimo porque, sendo eu uma completa desconhecida,  teria muito a crescer.

Mas o que realmente me apavora não é isso. O que me apavora é, como disse no primeiro parágrafo, o discurso da oposição. Porque ele é muito parecido com o que se viu em 2006: ignora aquilo que eu chamo de "a pirâmide de Lula" - e sobre a qual já falei outras vezes aqui.

A pirâmide

Ninguém pode negar que, entre 1989 e 2002, Lula precisou do que se usa chamar de classe média. Jornalistas, profissionais liberais, intelectuais (vá lá), artistas, professores e estudantes foram muito úteis para conferir confiabilidade ao operário. Embalados pelo sonho 'pequeno-burguês' de ver um operário na presidência, toda essa gente colaborou para que Lula chegasse ao poder. Dá até para arriscar que o Lulilnha Paz e Amor - criação certeira do publicitário Duda Mendonça - não foi mais do que a a perfeita transformação do discurso emitido pela classe média em campanha eleitoral.

E no entanto...  No  entanto, antes mesmo da eleição terminar a nova pirâmide começou a tomar forma. Com a "Carta ao Povo Brasileiro", Lula lançou as bases de uma estrutura muito sólida, capaz de resistir até mesmo a um terremoto chamado mensalão: selou uma aliança com o topo da pirâmide, que garantiria, dali para frente,  a ele e aos seus aliados, gordas verbas de campanha. Uma vez no poder, tratou de sacramentar a aliança com a base da pirâmide, que passou a lhe garantir votos. Tão simples quanto simples é o raciocínio político - "o que é que eu tenho a ganhar com isso?"

Não que tenha sido fácil. O fracasso do Fome Zero não nos deixa mentir que foi complicado encontrar uma fórmula. Mas, uma vez que reuniu todos os programa sociais iniciados no governo Fernando Henrique sob o guarda-chuva do Bolsa Família - ampliando, em muito, o seu raio de ação - Lula  passou a navegar tranqüilamente.  Desde então, tudo o que Lula faz e diz é dirigido ao topo e à base da sua pirâmide eleitoral.

A classe média - toda aquela gente que lhe deu credibilidade enquanto construía o mito do presidente-operário, levou um pé no traseiro. Lula não precisou mais deles. Metido em um terno Armani, ele  diz que gosta de beber uma cachacinha no final do dia - figura metafórica perfeita para a sua bem sucedida pirâmide. E a verdade, já evidenciada em passado recente, é que enquanto os juros estiverem altos e o Bolsa Família estiver pingando nas contas de quem faz volume nas urnas, pouco importa que a classe média esteja se esgoelando em denúncias.

É por isso que me apavoro com o discurso que começo a vislumbrar na oposição. Porque ele está, como estava em 2006, carregado de valores que não funcionam para o topo e a base da pirâmide. Queridos: que a Dilma mentiu sobre diplomas, que Lula faz aliança com Sarney - ou até com o Diabo - e que apoia ditadores não é tema de campanha. Ética, democracia e coerência política, não são temas de campanha. E esqueçam, por favor, esse negócio de que a classe média forma opinião. Temos sete anos de evidências mostrando que, se é que forma, não forma em volume suficiente para causar impacto nas urnas. A classe média tem falado apenas, e tão somente, para si mesma. Ficamos conversando entre nós - e isto é tudo.

Para rachar

A briga vai ser difícil, portando. Mas não impossível. A aliança com o topo da pirâmide é fácil: basta garantir que tudo fica como está e não faltará dinheiro na campanha (desculpe se estou sendo pragmática demais para as almas mais sensíveis, mas é assim que funciona).

O mais importante agora, o fundamental, é entender que este argumento não é suficiente para a base da pirâmide. Pragmática, a base, aquela que garante os votos, não vai mexer em time que está ganhando. Até porque será vítima - como foi em 2006 - do terrorismo eleitoral petista. Ou não é verdade que já começaram os boatos de que, uma vez no poder, a oposição vai acabar com o Bolsa Família?

É preciso, pois,  prometer mais do que a continuidade do Bolsa Família. É preciso oferecer algo que estimule, de forma muito concreta, a mudança do voto. E este algo - esta rachadura na aliança que Lula forjou, há sete anos, com a base da pirâmide - existe. Está ali, muito visível, para qualquer um que consiga manter a cabeça fria - que consiga ficar imune, pelo-a-mor-de-deus,  às provocações ensaiadas de Lula para pensar no que realmente interessa. E mais: esta rachadura cai como uma luva, conferindo a necessária verossimilhança eleitoral, para o candidato preferido da oposição.

O que eu não entendo é que esta rachadura já deveria ser trazida ao debate desde agora - evidenciada pelo menos, para preparar o terreno. Isto, fique bem claro, sem que se apresente já a solução. O momento é de apontar a falha -  somente isso. E o fato de que não exista qualquer movimento neste sentido me deixa  temerosa de que a rachadura simplesmente não tenha sido percebida. Mas como não posso acreditar em tamanha falta de visão, vou dar mais um tempo antes de apontá-la.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ainda a pesquisa Vox Populi

Comentário do leitor que se assina "Diógenes"  no post abaixo:

"O nome do Serra estava certo na pesquisa. O nome aparece errado no arquivo gerado pela Vox p/o TSE."

Vou aproveitar a  deixa para compensar a falta de tempo que me impediu de voltar ao tema ao longo da semana.

Nem vou entrar na questão técnica. Vocês devem ter lido, nas áreas de comentários de vários blogs, muitos entendidos alegando que um problema na geração do pdf teria invertido todos os nomes - e não apenas o do Serra. Pois não vou entrar nesta discussão por dois motivos: primeiro, porque não tenho conhecimento para tanto. Segundo, porque ela não tem a menor importância.

Ora bolas... Se houve ou não problema na geração do arquivo para o TSE jamais se poderá provar isso. Ou seja: o instituto pode até apresentar uma tabela impressa corretamente. Quem garante que não foi posteriormente impressa? Como farão para provar que foi aquela tabela, certinha, que foi às ruas?

Logo, se não há como provar a data de uma impressão, o que vale é o arquivo que foi enviado ao TSE. E é aí que chegamos ao que interessa: o arquivo errado foi  a-c-e-i-t-o  pelo TSE. Não só aceito como disponibilizado na internet. Isto significa, no mínimo, que ninguém revisa - ou revisa mal pra caramba -  os arquivos que os institutos de pesquisa enviam ao TSE. Desleixo preocupante em qualquer época - e muito mais num ano eleitoral.

É por isso que eu perguntei no post anterior e volto a perguntar: quem, dentro do TSE, aprovou o arquivo? Esta (s) pessoa (s) foi (ram)  responsabilizada(s) de alguma forma?

Esta é a informação que interessa. E que deveria interessar, incluside, à Vox Populi e a todos os institutos de pesquisa do país. Mais dia, menos dias, qualquer um deles pode se ver na incômoda situação de ter levado algo correto às ruas mas não poder provar que o fez porque o registro oficial da coisa está errado.

Bom sábado para vocês também.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Você votaria em Arres Ésoj para presidente?

Pois foi exatamente assim,  "ARRES ESÓJ -  BDSP"  que o nome de José Serra apareceu em uma das cartelas utilizadas pelo instituto Vox Populi na última pesquisa presidencial (esta mesma, cujo resultado os petistas estão a comemorar desde ontem).

Era a cartela que solicitava aos entrevistados que escolhesem o melhor de três: Marina Silva, Dilma Roussef ou "Arres Ésoj". Acho que nem preciso explicar porque Arres Ésoj, sujeito desconhecido de partido estranho e nome esquisito, acabou perdendo votos para as duas senhoras. 

A fraude foi descoberta pelo (sempre ele, né?)  Coronel. Clique aqui para saber de todos os detalhes.

De minha parte, faço apenas duas perguntas: qual o nome do funcionário do TSE que autorizou a pesquisa?  E, o mais importante,  o que o PSDB vai fazer a respeito?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Quem liga para o que acontece em Brasília?

Noblat amanheu dizendo que "ninguém liga para o que aconteceu em Brasília". Justifica a conclusão a partir da falta de reações mais impactantes em relação ao mensalão do governo Arruda.

Não que Noblat esteja totalmente errado. De fato, se a maioria dos brasileiros ligasse para o que aconteceu em Brasília, Lula não teria sido reeleito em 2006. Nem Antônio Palocci, para citar apenas uma das muitas anomalias saídas das urnas, seria hoje Deputado Federal.

Mas tem, sim, uma minoria que se importa com o que ocorre na política nacional. E ela é um pouco maior que os "gatos pingados" apontados pelo Noblat em seu artigo. Com base nas pesquisas de opinião, dá quase para ser exato: cerca de 17% dos brasileiros ligam para o que acontece em Brasília. Os outros 83% acham que Lula é "o cara".

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Como combater a incoerência?

O Brasil deve extraditar ainda hoje o uruguaio Manuel Cordero Piacentini.

Coronel da reserva, Piacentini é acusado de ter atuado na Operação Condor — movimento de repressão aos opositores das ditaduras militares do Cone Sul - e está com prisão decretada pela justiça uruguaia. Casado com uma brasileira, ele vive  no  Brasil desde 2005. Sua extradição foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal em agosto de 2009.

Extradite-se, pois, o homem. Cometeu crimes? Foi julgado e condenado em seu país? Extradite-se!

Porém, que  ninguém esqueça: não houve, para Piacentini, celeuma jurídica ou diplomática. O governo brasileiro só evita extraditar terroristas de esquerda - gente como o italiano Cesare Battisti e o ex-padre colombiano Olivério Medina.

É claro que nada disso é novo. O tratamento desigual já ficou claro em outras oportunidades - quando da extradição, na calada da noite, dos pugilistas cubanos, por exemplo. Mas vale a lembrança. Principalmente porque ela deixa evidente, mais uma vez, a dificuldade em se fazer um combate discursivo coerente com Lula e turma.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Outra vez

Não acompanho mais novelas com assiduidade. Não por elitismo pedante ou algo do tipo. É falta de paciência,  principalmente com aqueles arcos narrativos intermináveis, e de tempo - já que leciono à noite. Prefiro seriados. Das novelas, fico com os primeiros e os  últimos capítulos. As do Manoel Carlos, então, que ultimamente mais parecem um compêndio de medicina, me mantém longe. Sou da opinião de que médicos, hospitais e exames são  inevitáveis - cedo ou tarde, todos nós enfrentaremos tais coisas, seja por problema nosso ou de algum familiar. E elas são pesadas o suficiente na vida real. Não preciso de uma dose diária deste tipo de drama.

Mas a mami está por aqui e é noveleira. Não está fácil escapar do dramalhão. Ontem, portanto, dei de cara com o merchandising do filme do Lula no meio da novela. Ok, a Globo tem mesmo por hábito promover peças e filmes nacionais em suas novelas. Só que  este não é um filme qualquer. É um filme sobre o atual presidente da República, exemplo inédito de culto a personalidade patrocinado com o dinheiro público, em pleno ano eleitoral. Filme que, a despeito de toda a badalação chapa branca, é um fracasso de bilheteria.

Acho que a  Globo, que amarga até hoje aquela vexatória edição do Jornal Nacional com a mãe de Lurian afirmando que o então candidato à presidência sugerira um aborto, deveria ter evitado a ação levada ao ar ontem à noite. Não foi, é claro, uma ação tão direta ou eficaz quanto aquela de 1989. Mas é igualmente lamentável.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010 Minimalista

Eu tinha pensado em fazer um post sobre resoluções para o novo ano. E tinha pensado em fazê-lo hoje mesmo. "Quem sabe", imaginei,  "listando as coisas no dia 4 -  e não no dia 1º, como manda a tradição -  elas não têm mais chance de sair do papel?"

Mas aí eu me dei conta de que não há muitas resoluções. Pelo menos, não tantas para gerar uma lista.

Ok, há uma determinação de continuar com o programa de condicionamento físico. Mas eu tenho sido disciplinada nos últimos meses e, para falar a verdade, minha determinação nesta área está tão bem que fazer qualquer referência a isso numa lista de resoluções pode até acabar melando tudo.

Também há um desejo - conseqüência direta dos primeiros resultados com o programa de condicionamento - de  praticar alguma arte marcial. Eu sempre pensei nisso. Houve um tempo que sonhei com esgrima. Mas acho que, aos 44, os joelhos não agüentariam. Andei lendo sobre  Krav Maga outro dia. Ainda não me informei, porém,  sobre possíveis limitações etárias. Quem sabe?

E, então,  me vem outra idéia. Não chega a ser um desejo (acho que não) porque só lembro disso quando assisto alguma coisa relacionada: dança de salão. Fiz ballet e jazz quando garota e acho que não teria maiores problemas com a dança de salão. A questão é que todas estas coisas - dança, Krav Maga, esgrima -  ficam longe da minha casa. E, talvez, a minha primeira resolução para 2010 deveria ser o abandono da implicância com tomar banho em academia. Detesto. Não é nojo. É preguiça de carregar todo o arsenal necessário associada à impossibilidade psicológica de abrir mão do arsenal.

Então, exceto por estes três desejos (ok, ok, dois  desejos e uma vaga idéia ) há apenas a vontade de continuar com saúde e alegria para trabalhar, amar e curtir a vida. Listinha minimalista, eu sei. Mas é assim que eu ando ultimamente.

"E na política?", quase posso ouvir o leitor mais assíduo perguntar.

Nesta área, nenhum desejo ou resolução, queridos. Não gosto de nada do que vejo por aí - o que me impede de desejar qualquer coisa. Há apenas uma determinação: de que nada do que eles - sejam gregos ou troianos - venham a aprontar me tire daquele eixo minimalista -  "alegria para trabalhar, amar e curtir a vida".

Sim, eu me afastei um pouco da blogosfera política no último ano. Foi por força do trabalho; nada planejado. Mas estou desconfiada que o afastamento não me fez mal. Continuar criticando, ok. Dar boas risadas, ok. Bater em petista para desopilar o fígado, ok. Mas perder o humor, o treino ou a minha série favorita por conta de todas essas coisas...  Sorry, não vai rolar.

Um 2010 maravilhoso para vocês também.