quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Aula de oposição: como Aécio encurralou Dilma e a fábrica de boatos do PT

Aécio Neves: oposição como não se via há uma década.

Aécio Neves apresentou nesta quarta-feira um projeto de lei que transforma o Bolsa Família em um programa de Estado. Pela proposta, o benefício, que tem sido a principal bandeira eleitoral do PT, se torna permanente, ficando atrelado às políticas públicas de assistência social e erradicação da pobreza no país – e, o que é mais importante, não ficará mais à mercê das decisões do Executivo.

É uma jogada de mestre. Com um único projeto, o senador mineiro dá segurança ao eleitor sobre a continuidade do programa, tira de Dilma seu principal argumento eleitoral e, de quebra, destrói antecipadamente a poderosa fábrica de boatos do PT. Graças à estratégia de Aécio, os petistas acabam de acordar em um cenário eleitoral diferente, no qual não é mais possível disseminar - como fizeram, incansavelmente, em 2006 e 2010 -  a mentira de que os tucanos querem acabar com o Bolsa Família. 

Independentemente do intrincado percurso parlamentar que o projeto de Aécio deve seguir até sua votação, a simples apresentação é uma vacina poderosa contra a boataria petista. E coloca Dilma numa arapuca discursiva sem precedentes.

Se orientar sua base a votar a favor do projeto de Aécio Neves, Dilma estará pactuando com a perda de seu mais importante argumento eleitoral. Por outro lado, se orientar sua base a votar contra, ou mesmo a protelar a votação, a presidente vai entregar a Aécio um tesouro: o discurso de que ele quis eternizar o programa, mas Dilma o impediu.

Não é de hoje que venho elogiando a visão estratégica e a capacidade de articulação política de Aécio Neves.  Mas confesso que, com essa, o mineiro voltou a me surpreender.  Aécio está dando uma aula do que é fazer oposição – coisa que o país não via há quase uma década 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Marido de Marina Silva é funcionário de governo petista. E a imprensa faz de conta que não sabe.

Não é segredo que a origem humilde e a infância sofrida  transformam Marina Silva em objeto de fetiche de boa parte da imprensa nacional. Se trata, na verdade, de um fenômeno mundial: salvo raras exceções, indivíduos oriundos de segmentos – sociais, culturais, raciais -  que nunca chegaram ao poder tendem, no momento em que se apresentam na política,  a cair nas graças da imprensa.

Que a ex-ministra de Lula não representa novidade alguma no cenário político nacional, já falei exaustivamente neste blog – basta ler o último post, aí embaixo, para ter um bom resumo da coisa.  Mas a  imprensa pode acatar ou não que a aliança Eduardo e Marina é apenas um outro PT. Sonhar com a sonhática é um direito que lhes cabe. O que a imprensa não pode é, em prol de seu fetiche, se omitir e deixar de fazer perguntas incômodas aos que elege como favoritos.

Pois é exatamente o que está acontecendo. Ontem, o portal Implicante evidenciou que o marido de Marina Silva, Fábio Vaz de Lima, é  Secretário Adjunto de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Serviços, Ciência e Tecnologia – um cargo de confiança, notem bem – no governo do estado do Acre. Governo do PT, portanto, sob o comando do, vamos repetir, petista Tião Viana.

Considerando como Marina tem monopolizado as atenções da imprensa ultimamente, é inadmissível que ninguém soubesse disso. Na sequência, torna-se inaceitável que, tendo concedido longas entrevistas a grandes jornais, rádios e programas de televisão, ninguém – absolutamente ninguém – tenha trazido à tona esta questão.  Todos pouparam Marina de responder o motivo pelo qual, mesmo ela dizendo ter rompido com o PT, o marido segue no projeto petista. Por que, mesmo fazendo campanha para a criação da Rede Sustentabilidade, Fábio segue ligado ao PT? Por que Marina, que diz querer acabar com a lógica dos cargos, do fisiologismo, na política nacional não começa tal revolução dentro da própria casa?

Quem leu toda a matéria do Implicante sabe que Fábio Vaz de Lima está dizendo que não pretende pedir demissão -  pelo menos, “não este ano”.  


Pois eu vou fazer uma aposta com vocês. Se esta história crescer um pouco mais na internet, Fábio pede demissão dentro de alguns dias. E, só então, a grande imprensa nacional falará do assunto – para dizer, claro, que a atitude é mais uma prova do quanto Marina Silva e os seus são coerentes, bem intencionados, etc e tal. Ou, então, para dizer que ele “foi perseguido pelo PT” – o que também colabora para lapidar a imagem de pureza e vitimismo que esta mesma imprensa tem ajudado Marina a construir. Nenhuma linha será publicada sobre Fábio Vaz de Lima jamais ter pensado em demissão antes de seu cargo ter virado assunto na internet. Este lado pouco louvável da história eles vão evitar.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Jogo duplo? Aliados do ex-presidente, Campos e Marina miram em Dilma e poupam Lula


A presidente Dilma verá de volta Lula em seus calcanhares se a jogada de Eduardo Campos e Marina der certo. O movimento “volta Lula” ganhará corpo diante da nova configuração da campanha eleitoral, agora legitimado justamente pela mudança de cenário” - Merval Pereira

Não é segredo que Eduardo Campos e Marina Silva compõem uma pouco confiável, porque recém nascida, neo-oposição ao PT. Ela foi filiada ao PT até 2009 – de onde saiu apenas quando Lula deixou claro que Dilma iria sucedê-lo. Ele estava, até mês passado, na base de apoio ao governo – com direito a cargos e benesses. De lá saiu quando... Quando mesmo?

Ai é que a porca torce o rabo. Quando foi mesmo que Eduardo Campos deixou a base de apoio do governo petista?  Quando ficou claro que Dilma estava recuperando a popularidade e tinha chances de se reeleger.

Ou seja: Eduardo Campos é um daqueles raros casos de alguém que abandona um governo – no qual se encontra há nove anos – no momento em que este governo volta a dar mostras de que pode vir a se reeleger.  Estranho? Só para quem não está atento.

Antes de dizer que isto aí foi prova de desapego ao poder – ou qualquer outra pieguice – lembre o que aconteceu em julho, quando Dilma amargava uma significativa queda de popularidade: Eduardo Campos e Lula se encontram. Na pauta oficial, Lula teria pedido a Campos que não abandonasse Dilma. Na pauta vazada para a imprensa, que é a que vale para ler intenções, dois recados em um mesmo diapasão: o primeiro, que Eduardo Campos abriria mão de sua candidatura se Lula fosse o candidato. O segundo, que Lula adoraria ter Eduardo Campos como vice.

Nas semanas que se seguiram às manifestações de junho – especialmente quando, em agosto, o Datafolha afirmou que somente Lula ganharia no primeiro turno - Eduardo Campos foi pródigo em mandar sempre o mesmo recado: se Lula fosse o candidato, ele desistira. Em 26 de setembro o pernambucano ainda dizia: “se a Dilma piscar, Lula volta”. 

Mas setembro chegou e, com ele, a recuperação de Dilma nas pesquisas. Aparentemente, Eduardo Campos desistiu de ver Lula candidato, rompeu com Dilma e foi buscar uma parceria que favorecesse o seu projeto presidencial: Marina Silva.

Marina, que foi ministra de Lula. Marina, que fez campanha em 2010 sem jamais fazer críticas claras a Lula. Marina, que tem problemas com Dilma porque foi vencida por ela no processo sucessório de Lula. Marina, que hoje está, novamente, nos jornais, criticando Dilma e poupando Lula. 

Mestre no jogo duplo, provável mentor de toda a manobra, Lula tem mandado recados bem dirigidos: ao mesmo tempo em que orienta o PT a se afastar de Eduardo Campos, aprofundando o fantasioso rompimento do pernambucano com o governo Dilma, afirma que “Campos assusta mais do que Aécio Neves” – um discurso que só fortalece Eduardo Campos.

Não por acaso, no dia do anúncio da aliança com Marina Silva, Eduardo Campos limitou-se a dizer que não conseguira falar com Lula – tentara ligar para ele, mas não fora atendido. Não poderia dizer que rompeu com ele porque não é verdade. Dizer que recebeu a bênção de Lula, por sua vez, revelaria o golpe.


Como bem observou Merval Pereira, no trecho que abre este post, longe de turbinar a oposição, a manobra da dupla Campos e Marina abre caminho para um movimento “volta Lula”.  

É jogo duplo, sim. Encenado a três. 

sábado, 12 de outubro de 2013

Datafolha: tendência mostra que Aécio é o único candidato da oposição com potencial para enfrentar Dilma


A esta altura do campeonato, pesquisa eleitoral serve mesmo é para avaliar tendência.

Também não é verdade, como se tem dito ao longo do dia, que não é possível comparar a pesquisa Datafolha de hoje com outras realizadas pelo instituto. Intenção de voto num candidato é dele, ponto. Não é porque o cenário mudou que não se possa compará-la.

Se Marina agora saiu do páreo - e o PSB está dizendo que sim - não tem porque considerá-la como cabeça de chapa. O que vale é o cenário sem ela. Se isto mudar, e quando mudar, ela entra no gráfico. Por ora, o candidato é Campos. E o correto é ver a tendência dele - antes, um Campos sem Marina, porque era o quadro então, e agora com ela de provável vice.

O gráfico que você vê aqui mostra exatamente isso: a evolução da intenção de voto, segundo o DataFolha entre março e outubro, dos três candidatos que, no momento, dizem que estarão na disputa presidencial do ano que vem.

E o que vemos é que Aécio Neves é o único candidato de oposição  com sólida tendência ascendente. Sólida porque vem crescendo sem oscilar. É isto que se chama tendência.

Considerem, ainda,  que a pesquisa foi às ruas um dia depois do programa do PSB - e no encerramento de uma semana repleta de comerciais do partido na TV, com farta exposição de Eduardo Campos.

De resto, o segundo dado relevante desta pesquisa é o balde de água fria em José Serra: com duas campanhas presidenciais nas costas, Serra tem 33% dos votos. Áecio, que teve apenas um programa de TV e alguns comerciais, está com 31%. - e, como mostra o gráfico, com claro potencial de crescimento.

Fim de papo, pois. Aécio Neves é o único candidato da oposição com potencial concreto para enfrentar Dilma.

sábado, 5 de outubro de 2013

Ela não é diferente: para tentar chegar ao poder, Marina Silva rasga o próprio discurso




Exame - A senhora se vê num amplo arco de alianças, inclusive com partidos mais tradicionais, no caso de nova candidatura presidencial?


Marina Silva - As pessoas partem do princípio de que isso que está aí é o que é, é o que será e não haverá oportunidade para mais nada. Se for isso, então tem gente que faz melhor do que eu. Se não compreendemos que está sendo demandado um novo arranjo político para o país, então não estamos aprendendo nada com o que está acontecendo nas ruas.

(Marina Silva, em entrevista para a Revista Exame, em 31 de julho de 2013).

A declaração acima é apenas uma das muitas que Marina Silva deu, desde o início de 2011, para reafirmar uma mentira: que ela é diferente - e queria criar seu próprio partido porque aqueles que aí estavam não lhe serviam.

Mais perigoso que um político, só um político que se reveste de um manto de pureza e santidade. Porque se o primeiro é uma dúvida, o segundo é uma mentira deslavada.

Como eu disse, há alguns dias, que aconteceria, Marina acaba de se filiar a um daqueles partidos que, até ontem, não lhe serviam. O escolhido foi o PSB do governador pernambucano Eduardo Campos. E, enquanto escrevo este post, ela se contorce, diante da imprensa, na elaboração de outra fábula para iludir aqueles que a acreditam diferente: a de que o PSB ofereceu melhores condições para dar guarida à sua moribunda Rede de Sustentabilidade – e que ela, Marina, não se filiou com vistas à candidatar-se à presidência em 2014 .

Só há uma razão para Marina ter escolhido o PSB: o fato de que, até o momento, Eduardo Campos não consiga ultrapassar os 5% nas pesquisa eleitorais. Marina quer muito se candidatar à presidência em 2014. E só escolheu o PSB porque ali o candidato potencial tem se mostrado fraco – será fácil fazê-lo desistir.


Acaba de nascer, pois, uma nova mentira.  Mas não se iludam: os tolos passarão um bom tempo achando que nasceu uma nova esperança.

*Ps: dedico este post ao tolinho comentarista que, outro dia, furioso com o que eu escrevi sobre Marina, me encheu de desaforos e depois lascou:  "Não são "desafios" como o de vocês que vão fazer com que Marina não concorra à presidência caso o partido não vingue. É a coerência e ética dela que o farão."