terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cautela e canja de galinha...

Ansiedade geral para que José Serra se declare candidato.

Pessoas, isto seria um erro clássico: antecipar a campanha só interessa a quem tem a máquina na mão. Sem contar que provoca manifestações organizadas - greves diversas, ataques de facções criminosas, etc e tal - que só podem ser respondidas à altura se o candidato já descompatibilizou do cargo que ocupava.

A pressa de Lula & cia para que o PSDB defina imediatamente o candidato, aliás, já deveria mostrar a vocês que esta antecipação só os favorece. Portanto, vamos nos acalmar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mestre-cuca esquece a receita de feijão-com-arroz

Me enviaram, ontem,  um link para uma dissertação de mestrado defendida, em 2008, na Universidade Federal de Minas Gerais. O autor é Ivan Satuf Rezende e o título "A emergência da rede: dinâmicas interativas em um blog jornalístico".

Rezende elegeu o Blog do Noblat como objeto empírico para "(...) compreender como o blog age simultaneamente sobre o trabalho jornalístico e as participações dos internautas que publicam comentários", etc e tal.

Tudo muito bom, tudo muito bem... Exceto que, ao falar deste blog e sua titular, Rezende comete alguns erros e omissões. E como dissertação é um trem que  fica para a posteridade, achei por bem esclarecer tais equívocos.

Vamos, pois, a eles.

I

(...) "Uma das maiores polêmicas do Blog do Noblat ocorreu com uma leitora que assina Nariz Gelado. Ela nunca revelou o verdadeiro nome, tem seu próprio blog sobre política e Noblat também a convidou a participar regularmente como colaboradora. O motivo era o mesmo que atraiu o jornalista em relação a Maria Helena Rubinato: Nariz Gelado escrevia bem e sempre participava das discussões com bons comentários. Mas a participação dela não durou mais que dois artigos". (...)

Errado. Foram três artigos: "O Chavismo entre Nós", "Sai o militante, chega o cidadão" e um terceiro, do qual falo mais adiante, cuja omissão - involuntária, quero acreditar - acabou por avalizar uma série de equívocos.

II

(...) "Não foi o dono do blog quem decidiu “rebaixa-la” novamente à condição de leitora. A derrocada teve início quando outro colaborador, um jornalista, decidiu questionar a assinatura de Nariz Gelado em um post publicado no dia 28 de novembro de 2005 ".(...) [ Rezende se refere a Luiz Cláudio Cunha, inserindo, após este parágrafo,  alguns trechos de seu artigo publicado naquela data no Blog do Noblat]

O erro aqui está em atribuir um poder que Luiz Cláudio Cunha jamais teria sobre um blog que não é seu - e me admira que alguém que esteja a dissertar sobre blogs não entenda que os mesmos, jornalísticos ou não, são absolutamente pessoais. Noblat poderia ter ignorado o artigo de Cunha. Se não o fez foi porque não quis. A decisão de, nas palavras de Rezende, me "rebaixar" à condição de leitora foi, sim, sem qualquer sombra de dúvida, do próprio Noblat. Com um adendo apenas: ele me deu a opção de revelar minha identidade e prosseguir como articulista. Como eu disse que preferia sair  - resposta que, desconfio,  Noblat já esperava - ele, e somente ele, acatou a minha decisão.

III

"Para se chegar ao veredicto de que Nariz Gelado não poderia mais escrever artigos, foi necessário que todos os três tipos de atores presentes no blog participassem do debate: o jornalista Ricardo Noblat, um colaborador (o jornalista Luiz Cláudio Cunha) e os leitores-comentaristas.(...) O caso foi levado à tona e “julgado” em poucas horas, sendo que e o dono do blog abriu o caso para debate e ponderou os argumentos antes de anunciar a decisão final que foi dirigida a todo o público leitor."

Não sei de onde Rezende tirou essa bobagem. Porque foram apenas três os "atores" envolvidos naquele debate.

Vamos repetir para que fique bem claro: assim que recebeu o artigo de Luiz Cláudio Cunha, Noblat fez contato comigo, me enviou o texto e perguntou se eu aceitaria abrir minha identidade para prosseguir como articulista. Respondi que não e decidimos, eu e Noblat, que eu faria um artigo de despedida, a ser publicado juntamente com o de Luiz Cláudio Cunha. E foi exatamente assim que aconteceu. Este artigo de despedida, intitulado "Papo em Off" é exatamente o meu  terceiro artigo para o Blog do Noblat, cuja existência Rezende parece desconhecer.

Ou seja: no dia 28 de novembro de 2005, quando Noblat publicou, na mesma hora (às 11:44 o meu e às 11:47 o de Cunha), ambos os artigos,  a decisão já estava tomada. O caso jamais foi "julgado" pelos comentaristas, o dono do blog não "abriu o caso para debate"  e muito menos "ponderou argumentos antes de anunciar a decisão final".

Naquele dia, foi  apresentado aos leitores um fato consumado: um  post no qual  Noblat anunciava os dois artigos e a minha despedida (aqui). Os leitores opinaram muito sobre o tema - é verdade. Mas jamais houve espaço para que eles participassem da decisão. Ela havia sido tomada dias antes.

Isto significa que o episódio nunca, nem mesmo em um trabalhinho do ensino médio,  poderia servir de exemplo para comprovar que "o jornalista de fato dá importância para os debates travados no interior do blog" ou, ainda, que "as conversas entre os participantes e as opiniões dos colaboradores são realmente levadas em conta nas decisões que influenciam os rumos do blog", como quer Rezende. Há inúmeros exemplos de que tais coisas são importantes para o Blog do Noblat. Mas o episódio que me envolve, definitivamente, não é um deles.

O que me espanta é que todas estas distorções da realidade tenham aparecido numa dissertação que era requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Comunicação Social - e  que não se tenha respeitado, ali, um princípio básico do jornalismo: o fato. Tivessem, mestrando e orientador, lembrado de fazer o feijão-com-arroz do jornalismo - entrevistar os envolvidos, por exemplo - o desastre seria menor.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Lula e a pirâmide (II)

Alguns comentários no post abaixo merecem destaque:

Do leitor que se assina "Minancora"


Tem um furo no texto. Se a classe média não forma opinião “em volume suficiente para causar impacto nas urnas” como é que ela ajudou o Lula a se eleger em 2002?

Primeiro, em 2002 havia um marqueteiro no meio do caminho. Ele transformou, com muita competência, o discurso da classe média em campanha - uma campanha vitoriosa. E lembre-se de que este discurso, esta idéia do presidente-operário,  vinha sendo  martelado há 13 anos.

Em 1989 o discurso não fora  forte o suficiente para combater uma outra idéia: a de um presidente jovem e dinâmico que prometia acabar com os marajás e colocar o país no caminho da modernidade. Note que Fernando Collor não contava com o apoio dos intelectuais - a maioria deles estava, já, com Lula. Mas seus marqueteiros souberam captar e amplificar o espírito do momento - exatamente como Duda faria, com Lula, anos depois.

Uma campanha bem sucedida  é aquela que capta o espírito do momento e o devolve ao eleitor na forma de discurso político. O erro está em se buscar este espírito do momento nas fontes erradas. Em 2002 ele esteve, pela última vez, com a classe média. Já não está mais. Talvez no futuro volte para as nossas mãos. Hoje não.

Quer ter um bom exemplo desta dinâmica? Então tente descobrir porque o truculento e polêmico Marcelo Dourado, execrado do BBB em 2004, é, no momento, o favorito para levar o prêmio. Mudou Marcelo, mudou o espírito do momento ou mudaram ambos? (Ah, desculpe, você é daqueles que torcem o nariz para o BBB? É dos que não conseguem abstrair o aspecto da  exposição humana para ver ali um simulador excelente de construção e desconstrução de auto-imagem? Então desculpe: você pode entender muito de política. Mas de campanha política você não entende. É provável que não goste o suficiente do tema para realmente compreendê-lo).

Do leitor que se assina Vladimir:

Nariz,

Ok, talvez você esteja correta. Mas, você pode, por favor, indicar qual é a tão óbvia rachadura?

Me fizeram a mesma pergunta também via Twitter hoje cedo. Não posso. Não no momento. Apontar a rachadura agora seria entregar o ouro ao bandido - antecipar uma estratégia que, talvez, já esteja em plena gestação. Deste tema, em público, eu só falo no final da primeira semana da campanha - para comemorar o acerto ou reclamar o erro.

Lula e a pirâmide

Se as críticas que a oposição anda dirigindo a Dilma Roussef não são uma cortina de fumaça - uma tentativa de arrastar o debate até abril quando, só então, a estratégia propriamente dita será apresentada - começo a me preocupar.

Antes de mais nada, eu penso que foi um erro entrar na briga agora. Não era hora ainda. E pior: tenho a sensação de que tudo está acontecendo como os governistas querem. Primeiro, Lula subiu no palanque e começou a chamar a oposição para o debate. Um canto de sereia, ignorado pelos adversários até que... Até que surgiram as primeiras pesquisas mostrando o crescimento de Dilma. Aí não resistiram mais. É verdade que estão preservando José Serra - um acerto. Mas também é verdade que aceitaram o chamado de Lula: polarizaram, criando um clima plebiscitário - que, vamos lembrar, era exatamente o que o presidente queria.

No popular: Lula tirou a oposição para dançar e ela aceitou. E o fez movida por algo que deveria ser tão esperado quanto encarado com cabeça muito fria: o crescimento de Dilma. Independentemente da fidelidade das pesquisas, qualquer um que estivesse recebendo a visibilidade da ministra apresentaria algum crescimento. Arrastada pelo país, sem qualquer fiscalização do TSE, por um presidente com altos índices de popularidade até eu cresceria nas pesquisas. No mínimo porque, sendo eu uma completa desconhecida,  teria muito a crescer.

Mas o que realmente me apavora não é isso. O que me apavora é, como disse no primeiro parágrafo, o discurso da oposição. Porque ele é muito parecido com o que se viu em 2006: ignora aquilo que eu chamo de "a pirâmide de Lula" - e sobre a qual já falei outras vezes aqui.

A pirâmide

Ninguém pode negar que, entre 1989 e 2002, Lula precisou do que se usa chamar de classe média. Jornalistas, profissionais liberais, intelectuais (vá lá), artistas, professores e estudantes foram muito úteis para conferir confiabilidade ao operário. Embalados pelo sonho 'pequeno-burguês' de ver um operário na presidência, toda essa gente colaborou para que Lula chegasse ao poder. Dá até para arriscar que o Lulilnha Paz e Amor - criação certeira do publicitário Duda Mendonça - não foi mais do que a a perfeita transformação do discurso emitido pela classe média em campanha eleitoral.

E no entanto...  No  entanto, antes mesmo da eleição terminar a nova pirâmide começou a tomar forma. Com a "Carta ao Povo Brasileiro", Lula lançou as bases de uma estrutura muito sólida, capaz de resistir até mesmo a um terremoto chamado mensalão: selou uma aliança com o topo da pirâmide, que garantiria, dali para frente,  a ele e aos seus aliados, gordas verbas de campanha. Uma vez no poder, tratou de sacramentar a aliança com a base da pirâmide, que passou a lhe garantir votos. Tão simples quanto simples é o raciocínio político - "o que é que eu tenho a ganhar com isso?"

Não que tenha sido fácil. O fracasso do Fome Zero não nos deixa mentir que foi complicado encontrar uma fórmula. Mas, uma vez que reuniu todos os programa sociais iniciados no governo Fernando Henrique sob o guarda-chuva do Bolsa Família - ampliando, em muito, o seu raio de ação - Lula  passou a navegar tranqüilamente.  Desde então, tudo o que Lula faz e diz é dirigido ao topo e à base da sua pirâmide eleitoral.

A classe média - toda aquela gente que lhe deu credibilidade enquanto construía o mito do presidente-operário, levou um pé no traseiro. Lula não precisou mais deles. Metido em um terno Armani, ele  diz que gosta de beber uma cachacinha no final do dia - figura metafórica perfeita para a sua bem sucedida pirâmide. E a verdade, já evidenciada em passado recente, é que enquanto os juros estiverem altos e o Bolsa Família estiver pingando nas contas de quem faz volume nas urnas, pouco importa que a classe média esteja se esgoelando em denúncias.

É por isso que me apavoro com o discurso que começo a vislumbrar na oposição. Porque ele está, como estava em 2006, carregado de valores que não funcionam para o topo e a base da pirâmide. Queridos: que a Dilma mentiu sobre diplomas, que Lula faz aliança com Sarney - ou até com o Diabo - e que apoia ditadores não é tema de campanha. Ética, democracia e coerência política, não são temas de campanha. E esqueçam, por favor, esse negócio de que a classe média forma opinião. Temos sete anos de evidências mostrando que, se é que forma, não forma em volume suficiente para causar impacto nas urnas. A classe média tem falado apenas, e tão somente, para si mesma. Ficamos conversando entre nós - e isto é tudo.

Para rachar

A briga vai ser difícil, portando. Mas não impossível. A aliança com o topo da pirâmide é fácil: basta garantir que tudo fica como está e não faltará dinheiro na campanha (desculpe se estou sendo pragmática demais para as almas mais sensíveis, mas é assim que funciona).

O mais importante agora, o fundamental, é entender que este argumento não é suficiente para a base da pirâmide. Pragmática, a base, aquela que garante os votos, não vai mexer em time que está ganhando. Até porque será vítima - como foi em 2006 - do terrorismo eleitoral petista. Ou não é verdade que já começaram os boatos de que, uma vez no poder, a oposição vai acabar com o Bolsa Família?

É preciso, pois,  prometer mais do que a continuidade do Bolsa Família. É preciso oferecer algo que estimule, de forma muito concreta, a mudança do voto. E este algo - esta rachadura na aliança que Lula forjou, há sete anos, com a base da pirâmide - existe. Está ali, muito visível, para qualquer um que consiga manter a cabeça fria - que consiga ficar imune, pelo-a-mor-de-deus,  às provocações ensaiadas de Lula para pensar no que realmente interessa. E mais: esta rachadura cai como uma luva, conferindo a necessária verossimilhança eleitoral, para o candidato preferido da oposição.

O que eu não entendo é que esta rachadura já deveria ser trazida ao debate desde agora - evidenciada pelo menos, para preparar o terreno. Isto, fique bem claro, sem que se apresente já a solução. O momento é de apontar a falha -  somente isso. E o fato de que não exista qualquer movimento neste sentido me deixa  temerosa de que a rachadura simplesmente não tenha sido percebida. Mas como não posso acreditar em tamanha falta de visão, vou dar mais um tempo antes de apontá-la.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ainda a pesquisa Vox Populi

Comentário do leitor que se assina "Diógenes"  no post abaixo:

"O nome do Serra estava certo na pesquisa. O nome aparece errado no arquivo gerado pela Vox p/o TSE."

Vou aproveitar a  deixa para compensar a falta de tempo que me impediu de voltar ao tema ao longo da semana.

Nem vou entrar na questão técnica. Vocês devem ter lido, nas áreas de comentários de vários blogs, muitos entendidos alegando que um problema na geração do pdf teria invertido todos os nomes - e não apenas o do Serra. Pois não vou entrar nesta discussão por dois motivos: primeiro, porque não tenho conhecimento para tanto. Segundo, porque ela não tem a menor importância.

Ora bolas... Se houve ou não problema na geração do arquivo para o TSE jamais se poderá provar isso. Ou seja: o instituto pode até apresentar uma tabela impressa corretamente. Quem garante que não foi posteriormente impressa? Como farão para provar que foi aquela tabela, certinha, que foi às ruas?

Logo, se não há como provar a data de uma impressão, o que vale é o arquivo que foi enviado ao TSE. E é aí que chegamos ao que interessa: o arquivo errado foi  a-c-e-i-t-o  pelo TSE. Não só aceito como disponibilizado na internet. Isto significa, no mínimo, que ninguém revisa - ou revisa mal pra caramba -  os arquivos que os institutos de pesquisa enviam ao TSE. Desleixo preocupante em qualquer época - e muito mais num ano eleitoral.

É por isso que eu perguntei no post anterior e volto a perguntar: quem, dentro do TSE, aprovou o arquivo? Esta (s) pessoa (s) foi (ram)  responsabilizada(s) de alguma forma?

Esta é a informação que interessa. E que deveria interessar, incluside, à Vox Populi e a todos os institutos de pesquisa do país. Mais dia, menos dias, qualquer um deles pode se ver na incômoda situação de ter levado algo correto às ruas mas não poder provar que o fez porque o registro oficial da coisa está errado.

Bom sábado para vocês também.