domingo, 17 de novembro de 2013

Os nove erros da oposição na internet.


Já são 17 anos de internet e uma década de blog. No meio do caminho, três campanhas presidenciais – as três amargando derrotas para o PT -, muitas lições aprendidas e a fúria de ver gente que se diz de oposição cometer sempre os mesmos erros na internet.

Desde 2002, quando os debates eleitorais na web ficavam restritos às salas de bate-papo e aos GDs – grupos de discussão - do UOL, passando pela pancadaria da área de comentários do Blog do Noblat, e culminando com estes tempos de Twitter e Facebook, são sempre os mesmos malditos erros.

Se ao longo de uma década relutei para escrever um post assim foi porque há, nesta atitude, um erro estratégico: ele torna públicas as nossas mazelas, fornecendo aos nossos adversários políticos um guia seguro para sermos, mais uma vez, derrotados.

Mas ontem foi um divisor de águas. Ontem, enquanto boa parte da militância oposicionista espontânea acertadamente comemorava a prisão dos petistas mensaleiros nas redes sociais, aquela outra parte – tão ruidosa quanto insidiosa - voltou a errar. De repente, parecem ter cansado de capitalizar a derrota petista e começaram, mais uma vez, a fazer mea-culpa da oposição publicamente. “Onde está a oposição, que não se pronuncia?”, perguntavam os asnos, sem nem ao menos se questionar sobre os motivos para que nenhum político, além dos petistas, estivesse se pronunciando naquele momento.

A pressão cresceu a tal ponto que, provavelmente para não deixar essa gente sem uma resposta, Aécio Neves se obrigou a postar no Facebook a mesma nota que postara no dia 14, quando o julgamento do mensalão chegou ao fim. Uma solução suíça para uma armadilha desnecessária, armada não por petistas, como seria de se esperar, mas por gente que se diz de oposição.

Tamanha ignorância me autorizou a publicar este post. Porque se é verdade que as últimas três campanhas presidenciais tiveram erros estratégicos, também é verdade que a militância da internet – seja ela espontânea ou não – tem uma grande parcela de contribuição nas derrotas que amargamos.

Querem fazer mea-culpa da oposição publicamente? Então vamos lá. Como diz o velho ditado, comecem olhando para os vossos próprios rabos, macacos.

Descubra, abaixo, quais são os erros que talvez você esteja cometendo e tente não repeti-los. Se tal coisa não for possível, lembre-se de nunca mais falar mal da oposição. Porque se comete estes erros, você, meu caro, é uma parte bem ruim dela. 

E, antes de se ofender e começar a recitar um mimimi na área de comentários deste post, leia meu batom: estes são erros que você jamais verá um petista cometer na internet.

1. Não entender o papel da internet nas campanhas. 
Internet não decide eleição, mas forma opinião . O que se fala na internet não enche urna. A TV e o corpo a corpo ainda são fundamentais. Por outro lado, cada vez mais a internet cumpre um papel importante– principalmente enquanto a campanha efetivamente não começou – que é o de plantar conceitos, positivos e negativos, que podem colar no candidato. Para você entender bem o seu tamanho: você não é grande o suficiente para garantir a vitória de um candidato. Mas é grande o suficiente para manchar a imagem dele. Lembre-se disso antes de abrir a boca nas redes sociais e dizer bobagens.

2. Não entender o papel de cada um na internet.  
Há coisas que, por questões institucionais ou simplesmente em função de estratégia, um candidato não pode fazer. É justamente por isso que você é importante – para fazer o que ele não pode fazer. Você pode, por exemplo, trollar Dilma e o PT à vontade por conta da suposta espionagem americana. O candidato não. Para ele é uma arapuca discursiva – pode acabar sendo acusado, com propriedade, de antipatriotismo. Fazer oposição na internet é assim: valorizar o que o candidato da oposição diz e ficar na moita sobre o que ele não diz – porque há coisas que você não tem capacidade para entender. O tamanho da sua importância como voz oposicionista tem a ver com o tamanho do seu engajamento às palavras de ordem de quem está comandando o partido e/ou a aliança oposicionista. É assim que os petistas fazem. E é por isso que eles ganham eleições.

3. Criticar publicamente a estratégia da oposição
Já falei sobre na introdução do post, mas é preciso repetir. Você acha que a oposição e/ou o candidato estão no rumo errado? Escreva um e-mail para ele, participe de um grupo de discussões fechado do partido e dê voz lá às suas ideias. Procure o diretório da sua cidade, peça uma reunião com o presidente municipal do partido e mande ver. Mas, a menos que você seja um especialista da área e saiba, exatamente, como fazer tal coisa sem causar danos, jamais critique publicamente a campanha, ou as atitudes do seu candidato. Você vai desestimular pessoas que não entendem muito de política, mas que estavam começando a gostar dele - e, o que é pior, vai fornecer munição para os petistas.

4.Chorar, em público, porque o seu pré-candidato não emplacou. 
Este erro é uma especialidade tucana e já escrevi bastante sobre ele.  Lembre-se: quando Lula decidiu que a candidata seria a improvável Dilma, você não viu nenhum petista chorando Palocci, ou criticando publicamente a escolhida. E é assim, aderindo imediatamente ao nome escolhido, que os petistas têm derrotado você ao longo de uma década. Trazer as guerras internas partidárias para a internet é um jogo de perde-perde. Mesmo quando os próprios pré-candidatos estão publicamente em conflito, ou quando seu colunista político predileto insiste em desancar o candidato da vez, funcionar como alto-falante deste conflito é um erro primário. Simplesmente porque você perde tempo agredindo um candidato da oposição ao invés de conquistar apoios para ele. Quando a campanha começar, se você realmente for de oposição, vai ficar correndo atrás da máquina para buscar estes apoios. Não brigue com a realidade. Está insatisfeito com a escolha partidária? Discuta o tema internamente. Você está muito contrariado? Então fique quieto hoje para não se arrepender no ano que vem.

5. Ficar falando só com o seu clubinho. 
Ele só tuíta e posta no Face para impressionar os amiguinhos. É técnico em enfermagem, professor, ou engenheiro, mas quer impressionar a turma com o seu nível de politização. Ok, só que isto não é fazer oposição na internet. Fazer oposição na internet é tentar sair do seu círculo de relacionamento e atingir o maior número possível de pessoas. Isto só se alcança com: popularização da linguagem, cordialidade com possíveis aliados, e – olha que espanto! – falando bem do candidato potencial. Não um massacre panfletário, com cara de campanha, que mais espanta do que conquista seguidores. Apenas deixe claro que você é de oposição e apoia o candidato que a representa. Não precisa concordar com tudo o que ele diz. Mas esqueça as diferenças e exalte as ideias que você tem em comum com ele.

6. Ser uma matraca eleitoral. 
É quase um subtipo da categoria anterior - e, não raro, trata-se de um militante filiado ou de um assessor parlamentar. Embora não seja nocivo, porque só tece elogios ao candidato da vez e desempenha um papel de mobilização importante junto à militância oficial, este tipo também não conquista muita coisa fora das fileiras partidárias. Ele passa os dias falando de política e é incapaz de postar um conteúdo mais leve – sobre humor, futebol, novela. Tudo nele é militância. Soa falso. E, por isso mesmo, ele é incapaz de conquistar quem precisa e pode ser conquistado: a maioria das pessoas – aquelas que não ligam muito para política, mas que passarão a consultar suas timelines quando se aproximar a hora de votar.

7. Ser um inocente útil a serviço do PT. 
Não raro ele tem um passado à esquerda, tendo aderido à oposição depois de se decepcionar com Lula. Não é agressivo e gosta de pensar em si mesmo como um democrata.  Em sua TL você vai encontrar militantes petistas, psolistas, verdes e comunistas – toda essa gente que, na hora do pega pra capar, acaba votando no candidato PT.  Mas ele perde horas em debates com estas pessoas – talvez uma nostalgia dos tempos de militância na esquerda - na ilusão de que poderá fazê-las mudar de opinião. E, enquanto faz isso, vai lhes concedendo, vitrine, espaço e um tempo precioso – que poderia ser usado para buscar gente que realmente pode mudar de opinião e votar contra o PT. Este grupo inclui aqueles que olham, com carinho, para pseudo oposicionistas como, por exemplo, Marina Silva. Alegando que a candidatura dela é importante para garantir um segundo turno, o pobre idiota não se dá conta de que não precisamos dela para garantir um segundo turno em 2006 – e que o segundo turno de 2014 estaria mais folgado se ele estivesse, desde já, trabalhando pelo candidato que é, de fato, o representante da oposição.

8.Ser um boçal elitista. 
Ele já perdeu três eleições vomitando a mesma ladainha e segue insistindo. De um modo geral, estes são indivíduos que não produzem muito conteúdo na internet. O negócio deles é  divulgar e, principalmente, fazer  a crítica do que os outros produzem. Procuram manter certo distanciamento cult de “tudo o que aí está” e não raro ridicularizam aqueles que têm candidato e acreditam que vale a pena tentar uma vitória. No entanto, a despeito da sua inutilidade, seguem se autointitulando “oposição”. Não são. Sua atitude derrotista, quando não amorfa,  tem favorecido, ao longo de uma década, a eleição de candidatos do PT. Neste grupo estão incluídos aqueles que gostam de falar de política, mas fazem cara de nojinho para militância pró-ativa, os que cogitam o voto nulo e os que questionam a inviolabilidade das urnas eletrônicas. Em termos de campanha política na internet, esta é uma gente que trabalha voluntariamente para o PT.

9. Ser um direitinha xiita – ou um petista de sinal invertido.  Para eles, o candidato de oposição ao PT nunca está suficientemente à direita. É uma gente que, a despeito da arrogância, desconhece o papel da conjuntura num cenário político, a influência de uma década de governo de esquerda na bagagem cultural do eleitor brasileiro e, principalmente, um elemento básico da política: a negociação. Querem simplesmente tirar o PT do poder – mas, a julgar pela atitude, não têm ninguém para colocar no lugar. É fácil identificá-los: tão agressivos quanto os petistas, eles xingam e ridicularizam membros da oposição que ousam, vejam só!, apoiar o candidato da oposição. Dedicam parte do tempo a xingar o PT de um jeito que nenhuma pessoa decente pode levar à sério. E o pior: também plantam constantemente, a ideia de que “não há oposição no Brasil” e de que “PT e PSDB são exatamente a mesma coisa – uma teoria da conspiração típica de certo filósofo autoexilado que este grupelho idolatra. Nocivos, eles passam dias inteiros na internet desarticulando e desmobilizando a oposição possível enquanto se autoproclamam a “única oposição verdadeira”. Se é verdade que o PT tem ativistas infiltrados na oposição, todos os indícios apontam na direção desta gente.

Caso você tenha se identificado com alguma das atitudes listadas acima – ou mais de uma, já que elas admitem sobreposição – saiba que você é livre para continuar errando. Mas pare de se iludir sobre estar fazendo oposição na internet.  Porque, para começo de conversa, você nem sabe o que é fazer oposição. E é por isso que vive perdendo para o PT.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Problemas no paraíso: Marina, Eduardo e a arte de unir as semelhanças

Pelo jeito, já começaram os problemas no paraíso.

Matéria de hoje da Folha de S. Paulo  dá conta de que as diferenças entre Eduardo Campos e Marina Silva começam a se sobrepor à imagem de total integração, construída artificialmente - e às pressas -  no início de outubro:

"A discordância ocorreu em um encontro há uma semana, véspera do ato em que PSB e Rede Sustentabilidade, o partido de Marina, começaram a discutir as bases para construir um programa único das duas forças políticas." (Clique aqui para ler na íntegra)

Embora  tenham começado um pouco antes do que se imaginava, os problemas eram mais do que previsíveis.A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos nunca foi algo natural - a despeito do frisson de maior parte da imprensa, que vendeu a coisa como uma promissora novidade.

Ainda que ambos comunguem de um passado junto ao petismo, ainda que ambos tenham se mantido fiéis a Lula depois do mensalão, as semelhanças terminam aí.

Marina, a despeito da aparência dócil e supostamente democrática, sofre de um radicalismo que não lhe permite diálogos - basta lembrar a vasta lista, nascida nos primórdios da sua fundação do tipo de empresas cujas colaborações financeiras não seriam aceitas pela Rede. O termo "sonhático" grifado por ela não é mais do que um eufemismo para uma postura radical que, para ficar apenas no exemplo mais recente, fez estragos durante sua meteórica passagem pelo Partido Verde. Marina não dialoga. Prega. E com aquele tipo de fervor de quem apenas faz de conta que ouve seu interlocutor porque, na verdade, já vem para o diálogo sem a menor intenção de ceder. O radicalismo é traço forte da personalidade de Marina Silva.

Eduardo Campos é um político pragmático e experiente, do tipo que faz alianças com quem lhe permita atingir seus objetivos - e não é do tipo que rejeita apoios com base em princípios subjetivos. Dizem que é bom ouvinte, bastante flexível e que costuma escolher com cuidado suas batalhas - envolvendo-se apenas naquelas dais quais possam sair com alguma vantagem concreta. Se retirou-se outro dia da base do Governo Federal foi porque sentiu, a despeito de suas remotas chances pessoais,  que a permanência do PT no poder pode estar ameaçada. O pragmatismo é traço forte da personalidade de Eduardo Campos.

A imprensa sempre soube destas naturais diferenças entre Campos e Marina. Apenas comportou-se feito convidada elegante em um casamento de fachada, feito na correria: brindou e aplaudiu, evitando perguntas incômodas. Talvez tenha preferido acreditar que as diferenças seriam complementares. Ou simplesmente encantou-se com a beleza de festa.

Passada a lua de mel, eis que temos a realidade a atropelar o sonho. Primeiramente porque traços predominantes de personalidade são a matéria prima mesma da política - impossível prescindir deles. Depois porque em política personalidades muito diferentes não se complementam; entram em conflito. Finalmente porque a política é arte de unir as semelhanças - e não as diferenças.