Ontem pela manhã eu lhes disse que havia um coro orquestrado. Que este coro incluía senadores e deputados petistas - além da militância que freqüenta blogs e fóruns da internet.
Pois a coisa acabou por ganhar um caráter oficial:
"Não vamos descobrir uma arma qualquer na Bolívia para justificar uma briga."
(Lula, no início da tarde de ontem, na XVI Reunião Regional Americana da OIT- Organização Internacional do Trabalho.
"Temos que partir do princípio que há regulação e que ela será respeitada. Senão, qual seria a alternativa? A alternativa seria pensar em armas de destruição em massa e pedir a ajuda do exército brasileiro, o que seria impensável no momento".
(Sergio Gabrielli, presidente da Petrobrás, em entrevista coletiva no final da tarde de ontem).
Obviamentem, ambas as declarações foram feitas num tom de ironia - o tom certo para dar a entender que alguém teria realmente aventado a hipótese de uma ação militar contra a Bolívia.
Ninguém o fez.
Os únicos que estão falando nisso são os petistas - petistas, como pudemos ver, de todos os escalões. Este é um método rasteiro (alguma surpresa vindo de onde vem?) para desqualificar qualquer crítica. Como dissemos ontem: pedimos firmeza nas negociações diplomáticas e eles respondem "Pensar em intervenção militar é um absurdo!"
Se seguirmos o roteiro deste método chegaremos a hipóteses curiosas. Vejamos.
A coisa surgiu primeiro nos blogs e fóruns da internet. Foi a militância petista que, já na segunda-feira, começou a responder aos apelos de um endurecimento diplomático com este ridículo e despropositado "não invadiremos a Bolívia!". Ontem pela manhã, o discurso já estava na boca de deputados e senadores petistas. Na parte da tarde foi assumido pelo próprio Presidente da República e, em seguida, reiterado pelo presidente da Petrobrás.
Primeira hipótese. Pego com as calças na mão, o governo manteve silêncio por quase 48 horas. Incapaz de desenvolver uma argumentação satisfatória, foi espiar o que a militância andava dizendo por aí. E, a falta de uma alternativa melhor, apropriou-se do discurso da militância.
Segunda hipótese. O governo prepara o ambiente para seus posicionamentos a partir da orientação antecipada da militância. Cabe à militância introduzir os posicionamentos governamentais em chats e fóruns de internet, antes que eles ganhem um caráter oficial.
Pois eu lhes digo,amiguinhos, que esta segunda hipótese é mais provável. E o episódio boliviano apenas evidencia,com mais clareza, a forma como esta governo está gerindo a informação. Já faz tempo que percebe-se um roteiro fixo e hierarquizado: invariavelmente, o que é dito pela militância nos chats e fóruns da internet pela manhã, é repetido pelos senadores e deputados petistas, com mórbida exatidão, nas tribunas do Senado e da Câmara, na parte da tarde.
Embora algumas vezes - como parece ser o caso da divulgação apócrifa da "Lista de Furnas" - este método seja aplicado na clandestinidade, é provável que seja sustentado por um braço profissional, comodamente abrigado por alguma ONG.
Se eu fosse investigar, começaria por ONGs que estejam ligadas a empresas de comunicação - em especial, aquelas especializadas em comunicação para internet e que oferecem um serviço denominado "diálogos estratégicos".