Em fevereiro, publiquei um post que deixou boa parte dos leitores impacientes.
Sob o título "Lula e a pirâmide" tentei explicar o que eu considero parte significativa do sucesso de Lula - as alianças que este selou com o topo e a base da pirâmide social - e alertei:
"É preciso, pois, prometer mais do que a continuidade do Bolsa Família. É preciso oferecer algo que estimule, de forma muito concreta, a mudança do voto. E este algo – esta rachadura na aliança que Lula forjou, há sete anos, com a base da pirâmide – existe. Está ali, muito visível, para qualquer um que consiga manter a cabeça fria – que consiga ficar imune, pelo-a-mor-de-deus, às provocações ensaiadas de Lula para pensar no que realmente interessa. E mais: esta rachadura cai como uma luva, conferindo a necessária verossimilhança eleitoral, para o candidato preferido da oposição."
Aos que pediram que eu revelasse qual era a tal "fissura", respondi que só falaria no final da primeira semana de campanha. Porém, diante do discurso de José Serra no sábado - e de algumas notinhas que saíram na imprensa ao longo da semana dando conta de que os marketeiros petistas já identificaram o ponto fraco - acho que é bobagem manter o "segredo". Que nunca foi propriamente um segredo. Como eu disse em fevereiro: "está alí, muito visível, para qualquer um que consiga manter a cabeça fria".
Então, para quem ainda não se deu conta: a área em que Lula tem pouco ou nada para apresentar, que é um bem de insatisfação infinita - e que, não por acaso, desponta como preocupação primeira de todos os brasileiros nas pesquisas de opinião -, é a saúde. Seja pela própria estrutura da saúde hoje - com o pacto de gestão, que tende "municipalizar" todas as realizações que recebem verbas federais -, seja pela evidente carência que impera, há décadas, neste setor, ou pelo próprio apelo emocional: garantida a manutenção do Bolsa Família, saúde pública de qualidade é a nova aliança a ser firmada com a base da pirâmide. E eu acho que nem preciso explicar porque o tema cai como uma luva para José Serra. Basta dizer que seu trabalho como ministro da saúde e o tratamento que a área recebeu dos governos tucanos em SP conferem a necessária credibillidade.
Aí vocês vão me dizer: "coisa mais óbvia, NG".
É, pode ser óbvia para mim e para vocês. Mas só vou me convencer de que é realmente óbvia quando cada deputado e senador da oposição ocupar seu tempo de tribuna para revelar o desleixo do governo Lula com o tema. Quando cada blog oposicionista estiver registrando e denunciando as mazelas nos hospitais federais. E quando, mais tarde, no momento em que a campanha entrar na fase de exibir propostas, um conjunto de ações concretas for apresentado ao eleitor.
Que fique bem claro: o tema sempre foi explorado em campanhas - fossem elas municiais, federais ou estaduais. A questão, agora, é transformá-lo no grande tema - eixo central do discurso, assim como a "fome" esteve para Lula em 2002.
9 comentários:
NG, confio em vc para passar a idéia para os aluados de campanha. Quanto mais cabeças pensantes, melhor. Bjs
Saúde ?
Não acredito que dê votos.
Lula tentou se firmar com o "Fome Zero", mas só se achou no Bolsa Família e o negócio é seguir por aí.
O brasileiro é pragmático e pra ele mais vale R$ 50,00 no bolso todo mês, que pronto-atendimento em caso de necessidade.
Hospital é um negócio do qual não gostamos, nem quando somos bem tratados e Saúde Pública, na minha tosca opinião é coisa sem solução.
O que o Serra faz na área da Saúde em SP vai melhorar muito o atendimento em outros estados, desde que se anulem desvios, mas a simples promessa de melhora não vai dar votos.
Não vi nos meus 50 anos anos uma única campanha, onde TODOS os candidatos não prometam melhoras nessa área. Acho que o povo nem escuta esse tipo de promessa.
Não sou publicitário, nem marqueteiro, mas acredito que Serra encontrou o pote de ouro na frase "O Brasil pode mais" e deva seguir por aí. A frase é um achado.
Genérica o suficiente para acalentar todos os sonhos e forte o bastante para aglutinar os partidários.
Meu sonho não é o seu.
Meu pesadelo também não.
Polanski intuiu isso em "O Bebé de Rosemary" e preferiu não mostra-lo.
A promessa que "O Brasil pode mais" é capaz de abarcar todos os anseios e deixa a cada um a liberdade de antever aquilo que quiser.
Ignorando a turma do segundo andar, fazendo certinho o dever de levar a mensagem e mostrando o currículo: Serra, CERTAMENTE será eleito no primeiro turno. Dilma e Lula não deixarão de contribuir.
Em tempo: Aécio se colocou na campanha e a foto do beijo ficou irretocavel.
A Saúde, assim como a Educação, sempre foi negligenciada como prioridade eleitoral “de fato” pelo fato de boa parte dos formadores de opinião e dos mais interessados em política ter seus planos de saúde. Já agora pode ser que saúde seja mesmo o eixo por um motivo: Até mesmo a rede privada está saturada!
Hoje minha esposa passou 3h para ter nossa filha mais velha atendida no melhor hospital infantil da Baixada Santista. Quando tive dengue 2 meses atrás, e tinha que ir periodicamente colher sangue, era no mínimo duas horas que perdia entre atendimento, encaminhamento e colheita do sangue.
O que aconteceu é que cresceu o emprego formal, e com ele o número de segurados. Por outro lado pela carência e desestrutura do SUS qualquer pessoa corre para um Plano de Saúde para não se arriscar. Então eu creio sim que a Fortaleza que protegia a Classe Média ( q no Brasil é considerado até mesmo quem ganha 3, 4 salários mínimos ) do problema na Saúde está ruindo. Talvez seja mesmo O assunto a mobilizar e controlar os rumos da eleição.
Mas eu ainda acho que o único tema vertical, que percorre a todas as classes sem distinção e equanimemente é a violência. O problema é que não vejo no PSDB disposição para tratar este assunto nos termos que a população espera por medo do patrulhamento.
NG, concordo com você quanto ao mote que as oposições devem explorar nesta campanha. A área da saúde foi a mais fragilizada durante o governo Lula (trabalho nesta área) e é ela que tem muita influência sobre as populações mais pobres (beneficiários do bolsa familia.
Mas dentro deste tema, acho importante que Serra explore também a carga tributária incidente sobre a saúde, não se restringindo aos remédios, mas também o custo na aquisição de equipamentos modernos, que muitas vezes precisam ser importados.
Serra precisa fazer a correlação direta entre os gastos exagerados e desperdícios do governo Lula,com a carga tributária alta e o custo desta para os mais pobres.
Fernando, "o Brasil pode mais", é um slogan ótimo - muito bom mesmo. Mas não se faz campanha só com slogan. Se, na hora de bater, martelarem "ética" ao invés de mostrarem o desleixo do governo Lula com a saúde, danou-se. Se, na hora dos copromissos, não apresentarem um proposta concreta, com construção/reforma de hospitais federais em pontos específicos, por exemplo, também danou-se. O brasileiro, como você diz, é pragmático. Cosolidado o bolsa família, o que ele tem a ganhar votando em Serra? É isto que o eleitor quer saber. O Fome Zero não funcionou na prática, é verdade. Mas a fome funcionou maravilhosamente bem como discurso - e, em campanha, o que importa é isso. Depois, no frigir dos ovos, ao renomear e ampliar o Bolsa Família, Lula deu um jeito de cumprir, pelo menos em parte, a promessa. Por isso se reelegeu.
NG, nós queremos a mesma coisa e como "polianas" ainda esperamos Aécio sair de vice e não só para garantir essa vitória, como também para projetar uma estabilidade mais duradoura.
Não apontei o slogan como único mote da campanha, inclusive escrevi que "Ignorando a turma do segundo andar, fazendo certinho o dever de levar a mensagem e mostrando o currículo: Serra, CERTAMENTE será eleito no primeiro turno. Dilma e Lula não deixarão de contribuir."
Serra pode ter um slogan genérico, porque tem bagagem, passado, currículo. Basta mostrar o projeto e ignorar as falácias e provocações dos adversários, que as coisas vão correr bem.
O "Fome Zero" foi uma falácia, que funcionou com ajuda da mídia e do Betinho, tão bem utilizado pelo PT. À época li um único artigo afirmando não ter 40 milhões de pessoas passando fome no Brasil, como indicavam alguns números, mas verdade e política não andam juntas...
Mostrar os feitos na área da Saúde e prometer o mesmo para o restante do Brasil é interessante, falar da CPMF ANTES da Dilma, mostrando que o dinheiro foi desviado o tempo todo, também vai ser necessário.
Lula é tão cara de pau, que mês passado veio reclamar do corte da CPMF, tentando colar no Serra a culpa pelo caos na Saúde.
Serra vai ter que mostrar de forma didática e primária que 99% dos recursos foram desviados.
A Campanha do Serra "pode mais" afastando a ameaça ao Estado de Direito, mudando a política externa irresponsável,
diminuindo a carga tributária, mudando o Código Penal para garantir justiça e segurança, etc.
A "nova esquerda" viu na divisão da sociedade o seu mote e Serra brilhantemente enxergou na União de todos a única via capaz de abarcar o país.
Unir o país e mostrar que juntos podemos mais.
Desculpa se ficou panfletário.
Como profissional da area da Educacao que fui ha alguns anos atras , acho que e nesse quesito que o Brasil perde para os paises desenvolvidos .
A base de uma Nacao e feita pela Educacao do povo .
Nao acredito que esse tema va fazer o Serra ganhar a eleicao .
O povao esta se lixando para a Educacao . O povao quer samba , suor e cerveja .
O PT jogou sujo , fazendo propaganda de bolsas para as camadas mais carentes da sociedade , indo assim de encontro aquilo que o povo deseducado mais procura : A maneira facil de resolver os problemas .
Quando o certo seria plantar para colher os frutos no decorrer do sucesso do plantio .
Nesse momento , com o Brasil no limite da desavergonhada administracao petista , o que importa e Jose Serra ganhar a eleicao .
Agora , acho que vale tudo e nao vou me surpreender se o PSDB baixar o nivel na campanha eleitoral .
Contando que eles voltem ao high level depois , aqui deixo minha esperanca , a esperanca de que nos Brasileiros possamos superar esse desgoverno atual .
Abs NG !
Não é a saúde, é a violência. Com violência, não tem educação, não tem saúde, não tem comércio legal, enfim...ou o país entra na legalidade ou babaus.
Chesterton, não estou falando de como as coisas deveriam ser. Estou falando de como elas são. As pesquisas mostram que a violência é o segundo tema para brasileiro - o primeiro é saúde.
Postar um comentário