domingo, 6 de junho de 2004

"What if..?"

Neste último final de semana, durante as comemorações do "Dia D", algumas matérias jornalísticas faziam alusão ao fato de que , tivesse a Europa Ocidental esperado mais um pouco, os russos poderiam ter ganho a II Guerra Mundial - mudando, radicalmente, o posterior cenário da Guerra Fria.

E eu, cá com os meus botões, fico pensando o que significa este tipo de declaração.

Trata-se de um triste lamento ideológico por parte de alguém que ansiaria ver toda a Europa sob a bota de Stálin? Ou é puro exercício especulativo, no melhor estilo "What If...?" - o novo gênero literário que vende às turras ao inverter, hipoteticamente, os principais episódios históricos?

Pergunta não menos importante: que devaneio é este de desejar que uma Europa invadida e semi-destruída tivesse "um pouco mais de paciência" ? Quer dizer que, enquanto tanques nazistas desfilavam pelas ruas de Paris e milhares de judeus eram assassinados nos campos de concentração do Fürer, alguém deveria ter se erguido e gritado " Agüentem aí, pois os russos estão chegando!"?

A verdade é que, por maior que seja o contorcionismo intelectual, este tipo de declaração acaba sempre evidenciando seu tedioso cunho ideológico. Às empedernidas viúvas de Stálin, é doloroso aceitar que os americanos tenham cruzado o Atlântico para salvar uma Europa já completamente sem fôlego militar ou econômico. Mais doloroso ainda, encarar que este mesma Europa só se ergueu graças à toneladas de dinheiro que os bancos norteamericanos despejaram em sua economia no período pós-guerra.

Que este descabido ranger de dentes não possa mudar a história, é motivo de alegria para quem acredita na liberdade. Aos demais, sugiro que continuem esperando os russos. Quem sabe um dia eles não chegam?

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