quarta-feira, 3 de agosto de 2005

De volta à Portugal.


Se confirmada a notícia do jornal Expresso, de que o ministro de Obras Públicas português recebeu Marcos Valério como representante do governo Brasileiro, um círculo atávico e secular terá chegado ao fim.

Não é novidade que a confusão entre o público e o privado - tão característica da política brasileira - é uma herança lusitana.

Antes que o leitor comece a se ofender, vou adiantando que isso é largamente aceito pelos historiadores brasileiros: a corrida naval portuguesa - que resultaria, dentre inúmeras conseqüências, na descoberta do Brasil - é, até hoje, um grande mistério em termos da natureza de seu investimento. Não se sabe, até hoje, quem foi o investidor majoritário: se o Estado ou a iniciativa privada.

Nada mais natural, portanto, que a atual crise acabasse, num movimento circular histórico, nos levando de volta a Portugal. Vale lembrar que esta crise traz em sua essência uma relação promíscua entre Estado, partidos políticos e interesses privados - e é a quebra de limites entre essas instâncias o que mais escandaliza.

Logo, se for comprovado que Marcos Valério apresentou-se em Portugal como representante do governo brasileiro, Renato Russo será elevado à categoria de um profeta incerto. Incerto porque errou o alvo, acreditando que nossa miséria moral tinha origem nos EUA. Mas ainda assim profeta, já que previu o dia em que devolveríamos esta miséria à sua origem: Mas agora chegou nossa vez, vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês - cantava ele, em meados dos anos 80.

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