quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Oh, céus...fui observada.

Dizem por aí que eu sou conservadora.

Quem me dera.

Nas últimas décadas, a vida dos conservadores que vivem abaixo da linha do Equador tem sido um mar de rosas. Basta que o sujeito trabalhe pela manutenção do pensamento hegemônico de esquerda para garantir um lugarzinho ao sol. Das bolsas de fomento nas universidades, passando por cobiçados espaços jornalísticos - e incluindo postos tão pomposos quanto o de conselheiro presidencial - os conservadores do pensamento socialista só se dão bem.

Também não é ruim a situação dos revolucionários de direita. Embora contem com menos apoio por parte dos mass midia, alguns deles conseguem furar o bloqueio ideológico, conquistando modestos espaços onde podem dar voz aos seus mais acalentados desejos - a saber, a quebra do monolítico discurso de esquerda, que tornou-se hegemônico desde a queda das ditaduras na América Latina.

E é através desta dicotômica lente que nossa afoita e observadora imprensa analisa o embate - embora, é claro, sem jamais arriscar-se a desafiar o establishment para redefenir os papeis de cada jogador no tabuleiro, como nós aqui ousamos fazer.

Difícil mesmo, nos dias de hoje, é ser um cão sem coleira. Complicado é sustentar um discurso que não se encaixe nos modelões propostos por quem domina o cenário intelectual. Perigoso é aprovar determinadas idéias sem importar-se com a origem das mesmas - mas na convicção sincera de que elas são boas.

Quando não é condenado ao ostracismo, quem assim age acaba ganhando um rótulo que atenda à essa linguagem binária - que satisfaça o apetite de um discurso fácil e polarizado, passível de ser digerido pelo vulgo letrado.

Não me espanta, pois, que digam por aí que eu sou conservadora.

Me espanta mais é que não tenham qualquer constrangimento em expor assim, sem cerimônia, suas próprias limitações.

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