segunda-feira, 1 de agosto de 2005

A voz e a palavra.

O frisson pelo duelo entre Homem Bomba e Zé Maligno está levando para o segundo plano as expectativas de que o depoimento do segundo possa resultar em alguma revelação surpreendente. Povo e imprensa parecem hipnotizados ante a possibilidade de ver nervos de aço esmagando a falta de articulação.

Porque eu sempre achei o Zé Dirceu mal articulado. Toda a vez que eu o vejo falar tenho a sensação de estar diante de alguém que se contém - que tenta, desesperadamente, domar uma agressividade explosiva. Depois que ele virou governo, então, a coisa me pareceu mais evidente.

Palavras elegantes, termos democráticos, expressões cordatas...tudo parece mal colocado na boca de Zé Dirceu. Parece sair dalí aos trancos...como se tivesse que driblar, no caminho entre a laringe e os lábios, uma milhão de impropérios. Às vezes sua voz embarga de um jeito estranho - como se ele não visse a hora de terminar o discurso. Nas poucas vezes em que teve de prestar contas à nação, dava a impressão de não ver a menor legitimidade naquela atitude. Revelava, na postura e na voz, o tédio de quem cumpre uma tarefa menor, supérfula - e para qual não pretende dedicar um minuto a mais do que o estritamente necessário.

Jefferson é o oposto. Se dele se esperava alguma coisa, certamente não era uma boa coisa. Mas, para pasmo e delírio de todos, a velha águia abriu o bico e cantou feito um roxinol. Senhor de sua própria agressividade, ele brinca com ela...deixa-a vir à tona na hora e medida certas. Doze, quatorze, quinze horas de depoimento e ele alí, mostrando que não gostaria de estar em nenhum outro lugar. Se diverte falando, esse nosso Jefferson. E adora - absolutamente adora - dar explicações. Não entenderam? Ele explica de novo, em tom professoral, como um mestre que ganha por hora-aula.

Façam as apostas, senhores. Mas eu acho que vai dar Homem-bomba na cabeça

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