sexta-feira, 16 de junho de 2006

Divisão de tarefas

Finalmente, surge o primeiro resultado concreto da aliança PSDB/PFL para a corrida presidencial.

O programa eleitoral do PFL, levado ao ar ontem à noite, no horário nobre da TV aberta, parece indicar que as tarefas de campanha foram bem divididas. Ou muito me engano, ou caberá ao PFL revelar ao povo o que representam os escândalos governamentais deste último ano, ao passo que o PSDB ficará encarregado de apresentar o candidato e o programa de governo. Se o que tivemos ontem foi uma amostra disso, creio que o PFL está de parabéns.

Didático, preciso e cirúrgico, o programa de ontem conseguiu a façanha de resumir em onze minutos um ano inteiro de escândalos. E o fez de modo a atingir aquela camada da população que, embora se declare conhecedora das denúncias de corrupção, não parece suficientemente esclarecida a respeito do que elas representam, já que continua reafirmando seu voto em Lula.


Corajoso, o PFL tratou de aproximar o presidente Lula não só dos escândalos mas, sobretudo, das principais figuras neles envolvidas. Cobrou-lhe responsabilidades. Evidenciou o quão difícil é acreditar que tudo acontecia alí, diante das suas barbas, sem que ele de nada soubesse.

Ataques desta natureza, dizem os especialistas, são arriscados porque podem vitimizar o presidente, provocando o efeito contrário do pretendido. Já há algum tempo fala-se de um "efeito teflon", que parece impedir que a imagem presidencial seja tocada pelos escândalos do último ano. E os números das pesquisas encorajam alguns a apostar na máxima de que "quanto mais se bate em Lula, mais ele cresce em popularidade".

Vou discordar. As próprias pesquisas deixam claro que não há risco algum. Na pior das hipóteses, Lula terá aumentados os altíssimos índices de intenções de votos que já acumula hoje - de dezembro para cá, ele só faz crescer. Tanto faz, pois, se ele vai ganhar por muita ou pouca diferença.

E o fato é que ainda não se bateu no presidente. Não para a grande maioria da população, que não tem acesso ao colunismo político, não assiste às transmissões da TV Senado e da TV Câmara, e que muda de canal, buscando outra novela, sempre que começa o Jornal Nacional.


Logo, há grandes chances de que Lula permaneça intocado justamente porque uma enorme massa populacional "ouviu falar" de corrupção no seu governo mas não sabe quando, onde ou de que maneira ela ocorreu. Seria inviável pensar em mudar o quadro das pesquisas sem sanar esta lacuna. Não é por acaso que Lula sempre evitou falar claramente sobre o assunto: ele sabe que quanto mais confusa for a informação, menos importância ela terá para a camada de eleitores responsável pela maioria de seu votos.

Não há, portanto, qualquer risco nesta divisão de tarefas assumida ontem, em cadeia nacional. Quando os números indicam que não há mais nada a perder, é porque é chegada a hora do tudo ou nada.

20 comentários:

Jorge Nobre disse...

Sim, eu também vi o programa do PFL. Fiquei agradavelmente supreendido. É assim que tem que ser. Pesado, quanto mais pesado melhor.

Os de sempre dirão que pareceu um mídia sem máscara televisado. Que digam. Um mídia sem máscara menos profundo, mas também menos chato.

Quem terá coragem de contestar os fatos mostrados naquele programa?

Nat disse...

NG,

Lula lançou o desafio, o PFL aceitou! Que grata surpresa. Concordo contigo, o PFL foi didático na linguagem do povão; sintetizou o que Lula/PT tentam empurrar para debaixo do tapete.

Abs

Gian Carlo disse...

Cara Nariz,
Postei hoje essa opinião no Minuto Político ( passa lá) e acho que temos que lutar com todas as armas que dispomos. Acho que quem compra tudo como o PT, pode estar distruíndo também muito dinheiro para os institutos de pesquisa, portanto, temos que lutar, Molusco Fora!

Maridalva Vinhas disse...

NG

Infelizmente não vi este programa ontem, mas pelo que tenho ouvido, lido, foi muito bom. Até que enfim parece começamos a campanha na qual espero seja mostrada ao povão a realidade de lula e sua atual desintegração, sim, desintegração, pois lula não tem capacidade de manter o equilibrio mental em situações que exigem confrontações com a realidade de seus feitos.

abs

lenita disse...

Acho que está faltando rádio nessa campanha do PSDB/PFL. Rádio e púlpitos... eis, essa ainda é a realidade do país, o que mexe com a emoção da maioria dos brasileiros. E eleição é, para aqueles que fazem dela um jogo, pensam em termos de acertei o palpite (ou errei), emoção!

Angelo da CIA disse...

É, o PFL aflorou seus instintos mais primitivos. Para que os tucanos continuem a posar como bons-moços e supremos em sua superioridade e equilíbrio ( eu acho que é isto que eles queriam fazer parecer quando diziam que um impeachment seria incorreto contra Lula. Para mim é pura covardia, ou, de forma rude, falta de ... deixa pra lá )

Sharp Randon disse...

A propaganda do PFL não foi ética. Nenhum rosto assumiu o chapante realismo e apenas seis segundos de exibição de um discreto logotipo de autoria não são bons indicativos de mudança de paradigmas. Alckmin é o melhor paradigma de presidente da república que temos no momento. Tarefa incrível essa de Geraldo Alckmin, uma via dolorosa de exemplificações pequenas e grandes. Pouco lhe agrada descer o nível. Não é a toa que tem afirmado peremptóriamente que o horário político seria sua redenção. Pelo que vi, as forças aliadas são sutis e hipócritas. Assim, concordo com a Mãe da Sofia que citou Nixon. É realmente preciso Alckmin cercar-se dos seus e agarrar essa companha pelos chifres.

(N.G.: Sharp Randon, meu bem, acorda. Não se joga xadrez em tabuleiro de gamão. Pedir que a propaganda política contra a quadrilha seja "ética" é sonhar demais para o meu gosto.)

abstrato disse...

bom, se eu ja achei errado a declaraco recente do Jose Jorge contra o Lula, imagine o que teria achado dessa propaganda/baixaria que muitos dizem que foi esse programa de tv do PFL...eh impressao minha ou esse tipo de campanha - de pagar na mesma moeda - esta desagradando as pessoas mais sensatas que, outrora, depositavam esperancas nos "psdebistas"? obviamente me incluo no time dos sensatos...eheeh...abs

(N.G.: Espero que seja impressão sua, Abstrato...Porque se sensatez ganhasse eleição, Lula não era presidente do Brasil.)

Renato Martins disse...

Ou eu bebo pouco ou a tática de levar o povão no bico falando que é tudo igual ganha reforço expressivo nessa técnica de acusar em off.
O PT fará igual com a vantagem da estrelinha vermelha translúcida se encaixar mais fácilmente no cenário.

(N.G.: Pare de beber, Renato...Estão com medo de perder o quê? A "imensa vantagem" que Alckmin tem sobre Lula hoje?)

abstrato disse...

bom NG, eu so queria dizer que eu nao vou - de maneira nenhuma - ajudar a eleger um bando de broncos pra tirar outro bando de broncos do poder...nao eh da minha vontade trocar seis por meia duzia...e como dizia o outro la: "PSDB nao me faca te pegar nojo!"...abs...

(N.G.: e eu estou tentando lhe explicar que você não tem opção. Ou é isso ou é Lula. Viu a última da Carta Capital, inocentando o MLST? Então aproveite e olhe lá quem é patrocinador da revista. É o maior aparelhamento de estado já visto na história do país. Entre dois broncos, fico com os que pelos menos respeitam os princípios básicos da democracia. Leio vocês e me dá a impressão de que vocês ainda não se deram conta da gravidade da situação.)

abstrato disse...

olha, se fosse o PSDB puro, eu aceitava ate com uma certa naturalidade a pancadaria...estaria dentro do meu limite de tolerancia, digamos assim...porem, encarar o PFL eh duro hein? sorry...juro que ate tento, mas nao consigo...nao tenho mais estomago pra ver o ACM subindo a rampa do Planalto como coadjuvante novamente.

(N.G.: E qual aliança você sugeriria? Sim, porque você não está pensando que uma chapa pura teria chances....está?)

Eliane Moura disse...

Nariz! O Diogo Mainardi Interpelou o -toc, toc, toc - Lulla no STF!!! Leia o artigo que o Reinaldo Azevedo escreveu sobre isso:
http://www.primeiraleitura.com.br/auto/entenda.php?id=7693

Bjins, Eliane

Peregrino disse...

Nariz Gelado,

Tenho dúvidas se o ABSTRATO é uma representação abstrata (da realidade desejável!) ou é um agente inimigo infiltrado.

(N.G.: Não creio, amigo. Abstrato participava lá do Noblat até ser degolado. Nunca o vi defendendo a quadrilha. Acho que é bem intencionado - talvez até mais do que nós, que somos mais práticos. E ele é bem vindo aqui.)

(N.G. 2: Peregrino, talvez você esteja certo. Vendo como o tal do Manuel Bueno - um desafeto compulsivo, que já se deu até ao trabalho de criar uma página a meu respeito no Wickipedia - replicou, ponto por ponto, a minha última resposta ao Abstrato, sou levada a pensar que, talvez, você esteja certo. Observemos. Abs).

jml disse...

Nariz, o Bussunda morreu. Com sua morte e a quase cada vez mais certa reeleição de nosso Estimado Líder, o fato é que o Brasil vai ficando muito mais triste...

Mario A. Filho disse...

Para quem não viu (ou quer rever o programa político-pedagógico do PFL). Muito competente, sim senhor!
Parabéns, Nariz, pela visão lúcida e realista do atual momento político.

http://www.panoramablogmario.blogger.com.br/2006_06_01_archive.html#38697829

Manuel Amaral Bueno disse...

Cada vez duvido mais que Nariz Gelado seja mesmo professora de história. Vejam o que ela escreveu em resposta a um comentário: "Entre dois broncos, fico com os que pelos menos respeitam os princípios básicos da democracia".
Disse isso para alguém que se colocava contra o papel do PFL na aliança com o PSDB. Até um aluno de 8ª série do ensino fundamental sabe que o PFL se formou a partir de uma dissidência no PDS, nome que a Arena (partido de sustentação do regime militar) assumiu com a redemocratização. Ou seja, com o PSDB, o pessoal da ditadura volta ao poder (assim como lá esteve até 2002).
Nariz, que história é essa de "respeita os princípios básicos da democracia"? Você não viu o ACM bradando outro dia por uma "reação" das Forças Armadas?
E, quanto ao financiamento da Carta Capital, as contas estão abertas para quem quiser ver. Proporcionalmente, ela recebe tanta publicidade do governo federal quanto a revista Veja (o que não acontecia no governo do "grande democrata" Fernando Henrique Cardoso, quando a revista de Mino Carta era praticamente ignorada pelos órgãos oficiais). E patrocinadores privados compõem a maioria dos financiadores da publicação.
Sinceramente Nariz, quem acha que os pefelês são probos arautos da democracia tem de estudar mais História do Brasil.

(N.G.: Manubu, você não tem condições de analisar nada, querido. Você faz a análise mais rasteira e pobre, digna tão somente dos recém alfabetizados: pinça um trecho de um texto e o descontextualiza, dando a ele o sentido que bem entende. Portanto, qualquer opinião vinda de você não pode despertar mais do que risos. Mas como eu costumo ser paciente com os ignorantes - e como você insiste em vir aqui dar mostras das suas limitações intelectuais - vou lhe explicar: a História nos ajuda a entender como chegamos aqui. Mas ela não pode servir de elemento cristalizador, sob pena de nos tornar escravos de convicções construídas a partir de uma realidade estanque e ultrapassada. É preciso ter senso crítico para perceber a dinâmica, as mudanças ocorrendo ao longo do tempo - no caso de posicionamentos políticos, as mudanças são quase conjunturais, estando naquela esfera dos acontecimentos, como ensina Braudel.
Quem é quem no jogo democrático? Depende. Se estivéssemos em meados dos anos 70, eu poderia concordar com você. Agora, no entanto, as ligações atávicas do PFL com o antigo PDS/ARENA são fichinha perto dos arroubos ditatoriais de um ministro que manda quebrar o sigilo de um brasileiro cujo depoimento lhe desfavorece. Um ACM destemperado chamando aos militares é brincadeira de criança se comparado com um Lula que, ao saber que não poderia expulsar um jornalista estrageiro do país, disse: " Foda-se a Constituição!". Entendeu ou quer que esta professora de História desenhe para você?)

Marcos V. disse...

NG

Se eu fosse o tal do Manoel nunca mais dava as caras por aqui. Faz tempo que não vejo uma surra tão feia.

Manuel Amaral Bueno disse...

Cara Nariz Gelado,
Não preciso de suas lições nem de sua arrogância para analisar ou deixar de analisar algo. Até onde posso ver, contextualizei, sim, sua frase. Você estava respondendo a alguém que questionava o papel do PFL na aliança com o PSDB. O resto que fiz foi apontar a origem do PFL - o que não chega nem a ser uma análise.
Aliás, NG, falar que a Carta Capital "inocentou" o MLST não passa de uma mentira descarada. A matéria da revista intitulada "Ode à truculência" qualifica a invasão da Câmara como "quebra-quebra patrocinado pelo MLTS" e chama Bruno Maranhão de "representante das oligarquias com horror à democracia".
Para esclarecer os que lêem este blog, a Wikipédia (e não a "Wickipedia") é uma construção coletiva. Faço parte de um movimento que busca prover a Wikipédia de fatos enciclopédicos a respeito das novas mídias, entre as quais se encontram os blogs. Colaborei em artigos sobre o blog do Noblat, o blog do Josias, o blog do Fernando Rodrigues, entre vários outros, e iniciei um artigo sobre o seu blog. Somente uma visão maniqueísta como a que acredita estarem todos contra você e seu grupinho seria capaz de me enxergar como "desafeto compulsivo" apenas pelo fato de ter colaborado com a Wikipédia com algumas informações a respeito de seu blog. Nariz Gelado, não sou seu desafeto. Não tenho nada contra sua pessoa, que nem sequer conheço. Apenas discordo de algumas opiniões suas e tento me manifestar. Isso é alguma compulsão?

(N.G.: Manubu, é só ir naquele fórum de debates dos redatores da "Wikipédia" e ver: você recebeu inúmeras advertências por estar se desviando dos objetivos da enciclopédia para transformar a página a mim dedicada em um panfleto difamotório. Se isto não se concretizou foi pela seriedade dos demais redatores. De resto, duvidar da formação acadêmica de quem discorda de você me parece ser um jeito bem pessoal e compulsivo de debater. Não pretendo transformar este blog em palco das nossas desavenças. Portanto, se você não encerrar por aqui, encerro eu.)

abstrato disse...

NG, uma alianca com o PMDB ja seria suficiente pra mim...mesmo tendo Orestes Quercia no quadro do partido...mas com o PFL eh algo que foge ao meu livre arbitrio...eu simplesmente nao tenho escolha, eh uma rejeicao, digamos, automatica...eu, um "inimigo" infiltrado?..rsrsr...nao amigo, que isso...eu tenho muita empatia pela ideologia do PSDB, apenas me reservo o direito de nao ter que concordar com todas as taticas de campanha utilizadas por eles...isso nao significa que eu apoio o "outro lado"...eu apenas nao sou do tipo que "veste a camisa" e ao mesmo tempo coloca uma venda nos olhos...aversao tenho mesmo eh ao partido da estrela vermelha, aonde se voce cometer uma atitude como essa minha - discordar do caminho escolhido - voce eh expulso do partido sumariamente....abs :)

Peregrino disse...

NG,

Se for poassível, gostaria de agradecer ao ABSTRATO por ter comentado meu comentário (provocação!) e acrescentar que na minha modesta contribuição tive a intenção de deixar implícito que qualquer um que seja eleito em 2006, (excetuando esse senhor que aí está!) será, no mínimo, não pior do que o Apedeuta.

Amigo ABSTRATO, eu tenho dito e pregado sempre que posso, que votarei até em BELZEBU, se ele se apresentar capaz de detonar o GUIA GENIAL DO BRASIL. Foi essa a razão do meu comentário.