domingo, 2 de julho de 2006

O bobalhão e o banana.

Meu meu pai tinha horror do Roberto Carlos - o boleiro, não o cantor.

Dizia que o Roberto Carlos era um bobalhão, que "jogava olhando para as próprias mãos".

Se você perguntasse "como assim?", ele explicava: Roberto Carlos passa o tempo todo olhando para si mesmo. Às vezes para as mãos, às vezes para os pés, às vezes para um fio puxado na camisa.

Não deu outra. Ontem, enquanto o bobalhão olhava para as próprias meias, Henry marcou o gol que decidiria o nosso retorno para casa.

É claro que não foi só isso. Na minha opinião, voltamos para casa porque nos faltou técnico - e isto é coisa que venho dizendo desde os jogos amistosos.

Ontem eu já não gostei quando vi a seleção chegando ao estádio para uma partida decisiva tocando pagode. Toda esta descontração não é coisa para quem está prestes a entrar em guerra. E em time meu, se o Robinho fosse abraçar Zidane no intervalo - ao invés de ir incentivar os companheiros de selecionado - saía do banco na hora...Iria direto para o vestiário.

Craques são meninos-grandes. Muito cedo eles são arrancados dos meios convencionais de educação - a casa, a escola, a vida, enfim - para viver em uma espécie de redoma. Falta -lhes contato com o mundo real. Só conhecem bola e estádio. Por isso mesmo, são espíritos facilmente moldáveis - razão pela qual, a postura individual ou de grupo depende sempre e diretamente do técnico.

Quando umo time é composto por uma coleção de talentos, então, mais capacidade de coesão, disciplina e autoridade deve ter o técnico.

Felipão é ótimo nisso. Já Parreira...Bem, de Parreira meu pai dizia que era um banana.

Não vou tirar o mérito de Zidane. O francês fez uma belíssima partida, é verdade. Mas meu pai, também ele jogador de futebol, sabia tudo deste negócio: aquele fiasco, aquela derrota humilhante de ontem, vocês podem creditar, sem medo, ao banana e ao bobalhão.

15 comentários:

abstrato disse...

otima analise NG...Roberto Carlos eh a representacao maior do narcisismo, um engodo como jogador e um fracasso como ser humano...a soberba eh sua companheira de vida...as "estrelas" brasileiras deixam um pessimo exemplo para nossas criancas, como se nossos politicos ja nao dessem pessimos exemplos o suficiente...

Claudio disse...

Faço minhas as palavras do seu pai.

Angelo da CIA disse...

Discordaria de seu pai no que diz respeito ao Parreira. Sério mesmo, ele fez milagres com o meu Corinthians fraquíssimo de 2002. Mas não fez o básico com esta super-seleção. Que de super não tinha nada, somente um monte de jogadores que sobressaem em seus clubes.
Ainda bem que acabou a Copa. E ainda bem que desde que minha filha nasceu eu deixei muito de lado o meu fanatismo futebolístico. Fosse em outros tempos, eu estaria chorando e lamentando até agora.

jml disse...

Sem tirar o mérito dos franceses, o fato é que, ontem, aquilo que entrou em campo com a camisa amarela não era a seleção brasileira. Como tudo tem o seu lado bom, acho que a lição positiva que podemos extrair daquela lambança é uma só: durante anos, fomos bombardeados com o seguinte dilema: "jogar bonito e voltar mais cedo; jogar feio e continuar". Ontem, Parreira, com seu pragmatismo, mostrou-nos que, há, sim, outro caminho possível. Afinal, jogamos feio (horroroso, na verdade - se é que é possível dizer sequer que "jogamos") e perdemos. Pra quem já disse que "o gol é apenas um detalhe", nada demais. Faltou, apenas, o... "detalhe".

Peregrino disse...

Cara NG,

Ao meu modo, não estou triste, por dois motivos. Primeiro, porque, desde o período das eliminatórias, eu tenho falado que a equipe montada pelo técnico Kiko Pé de Uva e seu fiel escudeiro Gagállo, era excessivamente burocrática. Em um jogo em que deveria mostrar ao que veio, aquele em Buenos Aires em que a Argentina venceu por três a um (três a zero no primeiro tempo), mostrou ao que veio sim: perdeu-se em campo e tremeu muito. Alguns dirão que o segundo tempo daquele jogo foi primoroso. Conversa fiada. Se tivesse sido, o Brasil não teria perdido o jogo. Durante o ano passado, uma única vez em que o Brasil jogou com personalidade, quando derrotou a Argentina na final da Copa dos Campeões, aconteceu por que a Argentina estava desfalcada e foi surpreendida com o volume de jogo brasileiro logo no início, resultando no gol do Adriano. Daí para a frente a Argentina morreu.

O outro motivo causa-me uma certa satisfação: o Molusco Apedeuta não poderá mais usar a seleção (segundo um amigo mineiro, SELECINHA) nas suas metáforas futebolísticas para enaltecer-se. Fico imaginando a seguinte cena: o Brasil campeão e o Molusco, todo pimpão, indo à Alemanha, com o Aerolula, para trazer a comissão técnica e jogadores, jurando para a massa ignara que tudo ocorreu porque com ele (Molusco) "este país" está predestinado a ser grande. Graças ao grande Zinedine Zidane, esta bandeira o Presidente Picareta perdeu. Valeu Zizou! O Brasil real agradece!

abstrato disse...

tinhamos o ex-melhor jogador do mundo, o atual melhor jogador do mundo, o melhor meio campo da Europa eleito nesse ano (Kaka), o eleito melhor jogador do campeonato frances (Juninho Pernambucano) e fomos, seguramente, o pior time dessa copa...desprezivel essa campanha...pra esquecer mesmo.

jml disse...

E o mais interessante de tudo é que ele ainda acha que tem chance de continuar como técnico. Pode-se dizer, de Felipão, que tem todos os defeitos. Mas, como vc mesmo disse, ele se impunha em campo. Faltou, sim, alguém pra gritar em campo ontem - ou na beira dele. Faltou voz. Faltou comando. O Brasil perdia, ninguém se entendia em campo, e Parreira lá, com cara de paisagem. É isto que não pode. Perdemos. Foi, em verdade, o primeiro jogo contra uma seleção de primeira (ou nem tanto assim). A primeira dificuldade. E o desastre. Quem virá agora ? Luxemburgo e sua certidão alterada, coisa de seu próprio - e, por coincidência, já falecido pai ? Felipão ? Dificilmente. É de se esperar pra ver. Afinal, o que mais nos resta ?

abstrato disse...

nao acredito na volta do Felipao..ele nao eh tolo de queimar seu prestigio conseguido a duras penas pra embarcar nessa furada de salvar essa imagem mediocre que ficou da selecao...dinheiro ele ja tem, nao precisa...se for desafios, ele tera aos montes depois dessas copa...ofertas nao faltam desde ja...

abstrato disse...

e eu tava lembrando agora que o apedeuta ficava sempre se comparando com o Ronaldinho Gaucho...ahahahahah...se lascou, o cara foi o ridiculo da copa...esse sujeito ai que eh presidente nao da uma dentro mesmo...ahahahah

Joaquim Mitchel disse...

Sagaz e intrigante NG
Esta foi uma ds melhores análises sobre o selecionado brasileiro que li nestes dias de ódio e frustração. Concordo contigo, faltou comando, vontade e determinação. O time entrou como se já tivesse perdido o jogo.
Best Regards
JM

recasampa disse...

Sabe NG, desde o início que torci para que acontecesse este fiasco. Que ótimo que foi contra a França! Que ótimo! Voltemos à realidade nacional. Voltemos ao que de fato é importante neste país. Afora, eu não agüentaria aquele SENHOR dizendo e bravejando aos quatro cantos do mundo que ELLE era o responsável pelo hexa. Argh!!!

jayme guedes disse...

totalmente de acordo...penso apenas que "debitar" (ao banana)é uma expressão mais clara do que creditar ...sem conotações contábeis mas no sentido comum, desfavorável a nós é quando o banco nos debita o que a ele devemos, taxas, por exemplo; favorável a nós é quando nos credita o que ele nos deve, rendimentos, por exemplo ...assim debitemos o fracasso ao banana que fica nos devendo essa...abrçs

Quiteria disse...

Dear Cold Nose

Talvez tivesse sido melhor escalar o Roberto Carlos o cantor, com mais de 60 e uma perna só.

Quiqui

Quiteria disse...

Peguntaram-me se fiquei triste com a eliminação da Seleção Brasileira (Atenção: não confundir com "eliminação do Brasil". Essa pode ser consumada, em parte, só em Outubro).

Como ter tristeza maior do que todo dia, ao ligar a TV para acompanhar um simples noticiário, ver a cara de Luis Inácio da Silva, o Lula?
Como ficar pesaroso, se pesquisas mostram que metade do povo desse pobre pais revela intenção de votar no ogro e em seu bando?

Alguem, além da escória politica nacional que quer manter-se no poder, pode conceber coisa tão triste nesse momento para o pais?

Quem acha mais triste o 1xO que a repetição do ocorrido desde que essa quadrilha assumiu o governo, e que pode ser dada a ela a possibilidade de encravar-se mais e mais no estado brasileiro na tentativa de perpetuar-se patologicamente, câncer que é?

Não me trato como a mais sabia das pessoas, longe disto, mas resta-me alguma consciência da realidade.
É ela que me tras, há meses, tristeza, desencanto, que me leva a abandonar o noticiário para reler antigos romances.
Que me devolve a desesperança juvenil dos tempos que os militares mandavam no pais de trás de seus fuzis, numa ditadura que parecia ser eterna.

A tristeza que hoje eu vivo , muito maior que de qualquer Copa pode trazer, vem da ameaça de prolongar-se além do horizonte, a Ditadura dos Canalhas.

paulo leme disse...

Nariz
não sei se de futebol vc entende,
mas de gente com certeza,
fez uma análise precisa do q aconteceu na Alemanha com nossa seleção, abordou um aspecto q fugiu a todos os cronistas ditos especializados