domingo, 13 de agosto de 2006

Ação e reação

Nos últimos dias, tenho lido e ouvido muitas análises - de especialistas e leigos - a respeito do crescimento do PCC.

Tais análises atestam, com uma quase constrangedora tranqüilidade intelectual, que a ascensão do PCC se explica pelas falhas do sistema judiciário e pelas condições desumanas a que são submetidos os criminosos dentro do sistema prisional. O grupo terrorista de Marcola é - concluem, friamente, os nossos analistas de plantão - apenas uma conseqüência natural destes fatores.

Discordo. O sistema judiciário é o mesmo no Rio de Janeiro. E os presídios do Rio são igualmente desumanos. O que está acontecendo em São Paulo é uma reação à firmeza com a qual o governo do Estado vem tratando o PCC. No Rio, onde raramente se consegue distingüir o que é Estado e o que é crime organizado, não se dá esta reação.

Mas digamos que eu esteja errada. Digamos que o PCC tenha surgido apenas como conseqüência natural das falhas do sistema - em especial, de seu caráter "desumano". Como reagirão os nossos intelectuais no momento em que surgir aquela natural contraparte do terrorismo, os grupos paramilitares e esquadrões da morte? Terão o mesmo olhar tranqüilo, explicativo, meramente avaliativo, que apresentam ao analisar o PCC? Ou começarão a berrar que chegamos a um ponto insuportável?

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