quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Se eu acredito na pesquisa DataFolha publicada ontem?

Penso que 20% é um exagero. E o tracking telefônico - aquele, que foi mais fiel às urnas no primeiro turno - diz que esta diferença está em torno de 9 pontos percentuais.

Mas leiam os meus posts do final de semana - " Sem imprensa" e " Sem partido" - e entenderão que eu não estou admirada com o fato de que nossa vaca tenha se acomodado no brejo mais uma vez. Em qualquer campanha política, há momentos decisivos, nos quais não se pode errar. Contra aqueles que o Procurador Geral da República classificou como "sofisticada organização criminosa", os erros costumam ser fatais.

O erro maior foi jogar um excelente debate, primorosamente preparado e realizado com perfeição pelo candidato, na lata do lixo. Como ele foi parar lá é coisa simples de entender: a mudança de postura de Geraldo Alckmin não foi acompanhada por uma estratégia que deixasse claro a que vinha.

O povo precisa do óbvio. No caso em questão, era preciso esclarecer que a postura de Alckmin no debate buscava atender às expectativas dos que nele votaram. O candidato estava assumindo o papel de porta-voz dos seus quase 40 milhões de eleitores, fazendo a Lula as perguntas que todos eles gostariam de fazer, caso tivessem oportunidade para tanto. Tal afirmação deveria ter vindo no momento mesmo em que o debate encerrou, pela voz das lideranças do partido que foram - como soe acontecer nestas ocasiões - abordadas pela imprensa.

Não rolou. Ao invés disso, deixaram que o PT pulasse na frente para qualificar a nova postura de Alckmin. Sempre mais ágeis, eles correram a definí-la como "agressividade". Somente depois disso - estamos falando de 48 horas depois do debate - esboçaram uma reação, com o próprio Alckmin se declarando porta-voz daqueles 40 milhões de eleitores, etc e tal. Tarde demais. O poder de contaminação do PT é sempre maior do que qualquer antídoto. Enfrentá-los implica, para toda e qualquer situação, prever seus passos com antecedência.

Não é bola de cristal. É só planejamento.

Alguém tinha dúvidas de que, uma vez que a disputa fosse acirrada pela ida ao segundo turno, as hostes petistas sairiam vomitando as privatizações do Governo Fernando Henrique Cardoso? Qualquer criatura que tenha perdido algum tempo, nos últimos três anos, debatendo com petistas em fóruns, chats e blogs poderia prever esta reação. Esta era a a carta na manga, sempre sacada pela cyber-militância. (Ahh sim, senhores...a internet! Ela, sempre tão desprezada numericamente, é uma escola de estratégia política. Mas uma escola a ser freqüentada entre as eleições. De nada adianta para ela correr quando a coisa já está em curso, posto que é território inóspito para novatos.)

Não rolou. Novamente, fomos pautados pela sofisticada organização criminosa - e agora corremos atrás da máquina para desmentir as privatizações. Veremos se funciona. Eu acho que não. Mas não há mesmo outra coisa a fazer.

Não peçam panos quentes

O quadro é, pois, muito ruim. Superá-lo implica, antes de qualquer coisa, encará-lo de frente. "A hora não é para os frouxos", já dizia meu avô.

Então me poupem, por favor, desta mania de dizer que criticar, a esta altura do campeonato, desmobiliza a militância. O que desmobiliza a militância é este festival de bola nas costas, inaugurado desde o início do segundo turno. Não percam seu valoroso tempo comigo.

Os militantes mineiros que tratem de cobrar de Aécio Neves maior empenho - prefeitos do interior de Minas andam se queixando que a dedicação do playboy é, agora, menor do que foi no primeiro turno. Se antes os convites para os eventos da campanha chegavam em dia, agora chegam por fax e com atraso.

O mesmo vale para os militantes paulistas. Não vi, até agora, nenhuma ação de José Serra que demonstre, de fato, que ele está empenhado em ter um presidente tucano. Alguém precisa avisá-lo de que isto pode custar-lhe caro. Há uma parcela considerável de eleitores politicamente ativos que, hoje simpáticos à causa tucana, podem se tornar vozes oponentes, magoadas pela trairagem, num próximo pleito.

Nada é impossível e a coisa ainda pode mudar. Mas fique claro que já estamos contando com a sorte. Depois de tantos erros, não me arrisco a contar com a competência.

14 comentários:

Hugo A-go-go disse...

.. de fato o panorama é sombrio ... uma derrota menor do que dizem as manipuladas pesquisas, mas uma derrota ... o responsável pela possível derrota atende por PSDB ... o Partido entregou novo mandato a Lulla ... com uma atuação ridícula na oposição e pior ainda durante a campanha ... Alckmin faz milagre ... em caso de derrota, é desde já favorito para 2010, mas deveria pensar seriamente em uma nova opção partidária ... se depender o PSDB ...

Cristal disse...

Post lúcido.
Voto no 45.
Vou fazer minha parte pelo Brasil.
Cada um faça a sua.
E vamos aguardar o resultado das urnas.
Um abraço, Nariz!

Soube? disse...

Nariz, não sei se você ainda se lembra, mas uma vez lhe perguntei, há muito tempo atrás, antes da escolha do candidato, se o PSDB estava mesmo disposto a ganhar a eleição...
Você me respondeu que o segundo escalão estava sim.
Pois é...
Como diria alguém conhecido, um fator extra-terrestre cairia bem...

Soube? disse...

Quanto à questão da competência, realmente alguém fez betti ao dar esse "descanso" de duas semanas após o primeiro turno...
Conseguiram esfriar o time...
Nós estávamos aqui... só olhando e tentando fazer alguma coisa, por conta própria...
Mas enfim, somos apenas apoiadores... e voluntários...
Como não sou tucano e nem frouxo, continue contando comigo!

Suzy Tude disse...

NG, é morosidade, é galta de planejamento, concordo com você. Digo mais, se o Alckmin (queira Deus) virar, será graças a ele e uma militância, como a sua, talvez a minha e outros bloggers independentes.
Um abraço

*** CORONEL *** disse...

Nariz:

Viajando fora do país, só tenho tido tempo para manchetes. Fiquei pasmo pelo fato da campanha do Alckmin não usar o que está em grandes jornais do mundo:

O BRASILEIRO NÃO ESTÁ NEM AÍ PARA A HONESTIDADE E É CONIVENTE COM A CORRUPÇÃO.

Em vários idiomas, nos grandes jornais do mundo, a síntese é esta aí de cima. Agora, além de terra de índios, além de ronaldo-café, além da terra onde turistas chineses sofrem dois assaltos em 24 horas no Rio de Janeiro, agora somos a terra de um povo corrupto pela própria natureza.

O que falta para os tais marqueteiros do Alckmin irem para a TV e dizerem: acorda, Brasil, é isto que vocês querem para o país de vocês e dos seus filhos? Um país cuja fama de corrupção do seu povo, graças ao Governo Lula-PT, já vira marca registrada?

Também fiquei abismado com a manifestação intencional de Fernando Henrique Cardoso sobre a Petrobras. Sabendo o quanto o PT está fazendo terrorismo midiático, comprando a Imprensa inteira ou com dinheiro ou com ameaças de corte de dinheiro, só deu entrevista com um único objetivo: prejudicar Geraldo Alckmin. O nosso glorioso ex-Presidente mostra a sua face mais perversa e coloca na sua biografia a marca do anti-patriota, do ególatra que põe os seus interesses - quais poderão ser? - à frente da nação brasileira.

Sobre José Serra e Aécio Neves, me recuso a comentar. Prefiro um país governado por um aloprado, do que entregar o Brasil para um destes politiqueiros estreitos, reles, escória da tradição social democrata, que reeditam a briga nojenta do café-com-leite. O que merecem é um general gaúcho! Declaro aqui que passo a ser 100% anti-Serra e anti-Aécio. E serei, com certeza, um militante tão duro quanto sou contra a petralha,voltando-me contra qualquer tucano que cruzar na minha frente em defesa destes pulhas.

Sobre o marketing de Alckmin, no segundo turno, minha sensação é uma só: as contas publicitárias do Governo de São Paulo já foram destinadas. Talvez até alguma conta federal já tenha sido acenada, nos conchavos entre agências que não se batem, se alisam, independente do lado para quem trabalham. Ou alguém ouviu falar mal de Duda Mendonça, o mensaleiro, o publicitário indiciado e que foi o responsável por grande parte do Caixa Dois do PT na oposição? Por que ninguém toca no salafra? Para meio entendedor, meia palavra basta!

Nos resta ir em frente, dando todos os votos possíveis para Alckmin e, se Deus quiser, que ele decida fundar um novo partido, tirando da nossa frente os dois cânceres que hoje apodrecem o PSDB e a política brasileira: José Serra e Aécio Neves.

Um beijo. Coronel.

Nordestino disse...

Qual a sua bronca contra os nordestinos? Somos "menos" que você em quê?

(N.G.: não tenho qualquer "bronca" com os nordestinos. Mas sou realista: nesta eleição, é bobagem achar que se pode subir mais do que um ponto no Nordeste. É uma questão de estratégia...só isso . E tanto eu estava certa, que ficaram apostando no Nordeste e acabaram, conforme mostra o DataFolha, perdendo pontos onde estavam bem: no Sudeste. Portanto, não tente ver preconceito onde existe apenas análise de marketing político, ok? ).

Paulo Cavallieri disse...

NG, você sempre esteve certa!

Mas é realmente inacreditável que o Marketeiros do Alckmin que viram ele chegar ao segundo turno, somente por causa da indignação do povo! Tenham voltado ao esquema anterior, inclusive com as mesmas imagens!

O datafolha considera em seus números pelo menos uns 10 milhões de votos a mais do que ocorreu primeiro turno e todos para o Lula, tem coisa sim, mas como você diz não é 20%, mas é 10% a diferença e aumentando a favor de Lulla.

Resta o esforço de cada um de nós, mas pode ter certeza para 2010, Serra e Aécio estão riscados da minha lista de votação. Cesar Maia, apesar de todos os tropeços ainda é o mais dedicado.

Gili disse...

Sim, Nariz, o quadro é muito ruim. Concordo com seu avô: "A hora não é para os frouxos".

Embora votem em Alkmin, muitos com quem falo afirmam duvidar de seu estofo, pois não viram o debate na Band. Muito menos imaginam que exista algo chamado Foro de São Paulo.

O que o candidato está esperando?

Joka disse...

Por ter passado por tantas campanhas mal sucedidadas o PT, sabe que as pesquisas se bem utilizadas a seu favor consegue desmobilizar uma mitancia, por mais volorosa que seja.
Por isso tantas pesquisas, uma em cima da outra, deixando a militancia do ALCKMIN desanimada procurando cupados entre os seus, GENTE A HORA É DE ATACAR O PESSOAL DO PT, não é hora de lavar roupa suja, isso só depois do dia 30/10 se o resultado das pesquisas realmente se confirmarem, não se iludam, pois o número de votos do ALCKMIN deverá ser maior que os 40 milhões do primeiro turno, logo esta diferença não é tão grande assim apresentada nestas pesquisas, elas não se comprovaram, o número de não votos (nulos+brancos+abstensão) será maior do que os números do priemiro turno, logo estamos em patamar de votos que podera pender para o lado do Apedeuta ou do ALCKMIN muito menor do que estes números ai apresentado.
A massa silenciosa de pessoas já decididas a tira a turma do apedeuta do poder, é bem maior do que se possa imaginar.
A realidade tem mostrado que no momento exato as pessoas de bem deste país tem feito aquilo que se espera de uma pessoa de bem, apenas elas não gostam de se expor, por isso os resultados das urnas muitas vezes não condiz com os das pesquisas.
Vamos a luta, pois como no poverbio Japones diz "QUEM TEME PERDER JÁ ESTA VENCIDO".

VIRA, VIRA, VIRA, VIRA, VIRA, VIROOOOUUUUU.....

Joka

O Editor! disse...

NG,

Ótima análise. Já dizia Nelson Rodrigues que o óbvio é invisível. Mas não deveria ser para o (des)comando da campanha de Alckmin, uma vez que todos os eleitores clamam "bate nele, doutor", e são solenemente ignorados.

Acho que Alckmin não deveria apenas dizer que a Petrobrás não será privatizada. Deveria lembrar quanto a Telebrás valia antes da privatização. Deveria lembrar o quanto custava um telefone, e quanto tempo demorava sua instalação. Deveria comparar esses com os números de hoje. Deveria lembrar que o telefone era tão caro que éramos obrigados a declará-lo no IR. Alckmin deveria defender as privatizações que ocorreram, por todos estes motivos e por todos os outros. E chega de aceitar calado as mentiras dos petistas.

Por falar em mentiras, Alckmin deveria acossar o mitômano ora no Planalto com os fatos (edição de hoje do "www.estadao.com.br") de que ele privatizou o BEC - Banco do Estado do Ceará. Que Palocci, seu "irmão", privatizou estatais quando Prefeito.

Aliás, deveria ser perguntado ao mitômano porque ele permitiu que o índio colcaleiro da Bolívia "privatizasse" a Petrobrás, roubando-a dos brasileiros sem nem pagar o "preço de banana", mas tão somente "dando uma banana" para o povo brasileiro.

E aqui vou discordar de um comentarista deste post:

Coronel, respeito muito sua opinião, mas discordo de sua análise. O que o FHC fez, foi (tentar ao menos) unir a oposição em torno de um discurso. Que é "Privatizamos sim, foi o melhor a ser feito pelo Brasil, mas não vamos privatizar os Correios nem a Petrobrás".

O grande problema do PSDB, qualidade que o PT leva ao exagero às vezes, é a fidelidade às decisões do partido. Naquele, cada um canta um trecho de uma música diferente, em um tom diferente, e todos ao mesmo tempo. Já no PT, quem não está de acordo com o que a maioria decidiu, é expulso.

Sem entrar na discussão anterior à expulsão, acho que HH foi corretamente expulsa do PT. Desafiou e tentou minar a autoridade dos dirigentes do PT por discordar de uma decisão majoritária. Um partido é uma democracia. Vale a decisão da maioria, que deve ser exercida e defendida pelo Presidente do Partido até que a maioria mude sua decisão. E aqueles que não concordam com a decisão da maioria, tem três caminhos: Se desfiliarem, acatarem, ou serem expulsos.

FHC tentou unir o PSDB e lhe dar o único discurso possível neste caso. Percebeu corretamente que não haveria jeito de apagar sua atuação do passado do PSDB.

Alckmin tem que se lembrar que sua força também vem do partido. Porque se continuar com a retórica de que vai ser o oposto do FHC, o povo vai preferir votar naquele que aparenta ser o oposto: Lulla.

Abraços,

O Editor!

Ângelo da C.I.A. disse...

Sensacional NG!
Meus parabéns. Seu desabafo é justificado e certíssimo. Mais uma vez, derrotar o PT depende mais de descobertas e ações da mídia do que da oposição.

Ranzinza disse...

NG

Pode me incluir entre estes "magoados pela trairagem" num proximo pleito.

Abracos

JF disse...

Olá NG, é uma satisfação estar neste espaço.

Os amigos do blog lembram da campanha do Não? Didádica no momento certo, rápida e contundente nas respostas, eficaz e afirmativa no ataque. Mostrando dados e principalmente desmistificando o "politicamente correto" da campanha a favor do desarmamento. Foi uma verdadeira 'onda', não foi? Com alguma dose de emoção e uma grande dose de razão em seus agumentos.

Será que o pessoal da campanha do Geraldo nada aprendeu no referendo? É no mínimo "estranho" este desdobramento do segundo turno por parte dos estrategistas do 45.