segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

A alma do negócio.

Uma fábula para entender a poliítica nacional.

Viirtuoso tinha uma padaria na rua dos Princípios.

Volta e meia, ele pagava o "Chiquitito" - um moleque de rua - para distribuir pela vila panfletinhos com as promoções da casa. Eram panfletos vagabundos, mas Chiquitito trabalhava tão direito, que a coisa acabava fazendo sucesso: ora o pãozinho 250gr, ora o queijo da colônia - sempre havia alguma coisa a um preço menor que o da concorrência para valer um folhetinho.


Deu certo. Com a dedicação de Virtuoso e a lábia de Chiquitito, a padaria prosperou e cresceu. Cresceu até demais, se considerarmos que, um belo dia, o espaço ficou pequeno.

Não havendo como expandir no velho endereço, Virtuoso encontrou um novo ponto na Avenida Esperança: prédio maior, mais novo e com espaço suficiente para mesinhas e cadeiras - e, o que era melhor, nenhuma padaria por perto. O problema é que ficava longe da freguesia habitual - como fazer para não perdê-la? Virtuoso, porém, não se abateu: manteria o endereço original, colocando, como sócio e gerente, alguém da família. Zangado, o cunhado com reconhecida capacidade em administração, pareceu a melhor escolha.

Tudo acertado, Virtuoso caprichou nos folhetos para a inauguração do novo ponto: desta vez, eram coloridos, em papel brilhante,com fotografias das novas instalações - e um lembrete de que o antigo ponto da rua dos Princípios continuava em funcionamento para melhor atender à fiel freguesia. Chiquitito, agora um rapagão, disse que nunca vira coisa mais linda - e saiu animado para alardear a boa nova,

Algo deu errado, porém. Menos de seis meses depois da inauguração, a padaria da Avenida Esperança teve de ser fechada. Por um motivo qualquer, os clientes não apareciam. Se a família não passou fome foi por conta do bom trabalho do cunhado: sob a administração de Zangado, a padaria da rua dos Princípios, continuava de vento em popa.

Final melancólico e aparentemente incompreensível: Virtuoso, que fora conhecido como o melhor padeiro da região, endividou-se a ponto de ter que vender para Zangado sua parte da padaria original.

É verdade que ele estranhou um pouco quando soube que o novo sócio do cunhado seria Chiquitito. Mas Deus sabe que a vida dá lá as suas voltas. Portanto, somente quando chegaram as chuvas de março é que Virtuoso pôde, de fato, entender o que se passara: ao tentar desentupir um bueiro que ameaçava alagar a miserável casinha onde agora ele se apertava com a família, Virtuoso encontrou-os. Colados uns aos outros por conta da água, mas ainda reconhecíveis, lá estavam os folhetos coloridos, em papel brilhante.

6 comentários:

Ângelo da C.I.A. disse...

Sensacional, N.G.

Só uma coisa: Que a N.G. cronista não sobreponha a NG guerreira anti-lulismo de que tanto precisamos.

Beijos,
Ângelo

(N.G.: Ângelo, uma hora dessas você me explica porque uma coisa excluiria outra? Cuidado..patrulha é coisa de petralha. Um beijo)

Cristal disse...

Nariz!!!
Simplesmente 10!

Soube? disse...

A solução é a população não comprar mais pão de Chiquitito e Zangado...

Mas será que ela vai fazer isso?

Nos mundos de Chiquititos, Zangados e Moluscos, os Virtuosos não têm vez?

Não posso crer nisso!

Mauro disse...

Afastado por alguns dias do meu PC, volto e vejo novidades. Não consegui ouvir o PodCast porque acho que minha máquina é "jurássica". Parabens.
A propósito, quem criou essa indiazinha sabe das coisas. É fantástica.

Samambaia de Plástico disse...

NG, post excelente. Só quase caí dura quando mal abri o seu blog, entrou a voz da Ideli. Pensei que fosse alucinação, mas não, lá estava a "fofa" a dar susto nos distraídos. Estou rindo até agora. Bjs.

Degauss disse...

Novos aliados e traições são coisas corriqueiras na política brasileira. Também, quem mandou vender pãozinho de 50g, quando, pelo mesmo preço, a concorrência vendia "pãozinho" de 250g!! Assim, não há clientela que queira mudar....