segunda-feira, 30 de abril de 2007

Level Two

Ontem, em editorial intitulado "Reino animal", a Folha de S. Paulo refletiu a respeito do adesismo que tem caracterizado a oposição nos últimos meses. No início da semana, o Estadão havia publicado editorial semelhante: das trocas de carinho entre Antônio Carlos Magalhães e Lula, passando pela mutação de Mangabeira Unger em ministro, pelo beija-mão protagonizado por Tasso Jereissati e pela descarada corte que Aécio e Serra fazem a Lula, todos os passos são reveladores de uma oposição moribunda, em nada merecedora dos votos que recebeu na última eleição.

Há reações, é claro. De Fernando Henrique, que nenhum cargo eletivo ou partidário ocupa. De Jorge Bornhausen, que também não ocupa mais qualquer cargo formal. São manifestações que soam teatrais diante da franca capitulação de uma maioria que possui mandatos. É como se ambos tivessem sido encarregados de amenizar as coisas, com discursos e entrevistas, para aqueles 40 milhões de eleitores. Se estão conscientes de que tal papel lhes foi atribuído, não sei. Mas sei que são políticos experientes demais para se pensar que não.

No frigir dos ovos, o que se tem é um quadro de inspiração petista: enquanto achincalha a elite, Lula é o presidente preferido dos banqueiros. Enquanto Bornhausen e Fernando Henrique fazem duras críticas ao governo, os luminares de seus respectivos partidos negociam, dialogam e aderem.

Clara como a água do mais puro córrego, ou fétida como aquela do mais podre esgoto, a situação se impõe mesmo para os que gostariam de ignorá-la: já faz alguns meses que Lula, o PT e os demais partidos da base governista são um problema secundário. É óbvio que, uma vez reeleitos, eles estejam tratando de colocar em prática seus planos - pouco importando que boa parcela do eleitorado seja contrária a eles. É da democracia que assim seja. O que não é da democracia é que tais planos não encontrem resistência. O que não é da democracia é a ausência de uma oposição - ou a existência de uma oposição meramente cênica, só existente diante dos holofotes da imprensa, que não hesita em amasiar-se com o Executivo em plena luz do sol.

É com pouca munição, pois, que chegamos ao Level Two do jogo democrático. Temos quatro longos anos para chegar com vida ao Level Three. E, embora o objetivo maior seja o mesmo, há novas armas e novos inimigos. Há, antes de mais nada, um exército mercenário do qual precisamos nos livrar. Bem sei que será difícil sem eles. Com eles, porém, será impossível. Por eles, o jogo acaba aqui.

7 comentários:

Peregrino disse...

NG,

Pelo menos na economia, desconfio que não cheguemos ao Level Three. Embora, aparentemente, não haja razão para assim se pensar, há algo um tanto frouxo em tudo que esse governo faz. Embora o déficit público esteja (aparentemente!) sob controle, embora o risco-país esteja em em queda (mas bem acima do risco-país da Colômbia, que é, hoje, menos de 50!), as instituições estão falidas, as agências reguladoras não funcionam, a infra-estrutura não existe (já se fala em uma crise energética sem precedentes, em 2008, se a economia crescer a 5%!).

O fato é que estamos, sempre, esperando a próxima porcaria, mais fedida do que a anterior. Para sintetizar esse estado de espírito, há uma frase pronunciada, se não me engano, pelo jornalista Reinaldo Azevedo, em 2006: "O Lula é um Midas ao contrário. Tudo que toca vira caca.".

A pergunta que emerge é: o que dirão os da oposição, quando o cano estourar e a caca se espalhar? Que não têm nada com isso?

O Editor! disse...

Peregrino,

Acho que é exatamente isso que os luminares da oposição estão fazendo. Sabem que a popularidade de Lula é muito difícil de ser batida (veja bem, sabem que não é impossível, mas, também, pra que batalhar tanto?) a menos que a população esteja contra ele.

E a única forma que essas inteligências vêem de isso ocorrer é a falência total do País. Danem-se as consequências.

Como diria um humorista de um antigo quadro do "Saturday Night Live", intitulado "Church Talk": Isn't that special?

Peregrino disse...

Aí é que a coisa pega, Editor. Não há como separar a caca, ou mesmo a qualidade da caca, depois de espalhada. Sobrará para os da oposição. Ou eles acham que os petistas passarão a tocha, assim sem mais nem menos, de mão beijada? É óbvio que não. Os petistas tentarão e, dessa vez, conseguirão (porque a capilaridade do PT no país é quase completa, a partir da coligaçãoi com o PMDB) provar que todos são iguais. Logo, se a população ficar contra o Lula, também ficará contra qualquer político. Dirão que a culpa não é do Lula. E estará com a razão.

Julia disse...

NG

a perfeita saúde pública, atingiu até a tia, calcule as outras tias do Brasil?

na Uol

Após percorrer hospitais, tia de Lula tem perna amputada

O Editor! disse...

Peregrino,

Acho que não fui compreendido. Concordo totalmente com você. Usei - sem efeito, admito -da ironia para falar sobre a burritsia da oposição (uma vez que, tal qual a inteligência e a honestidade, essa característica não está restrita a apenas um partido político).

Eles (a oposição) acreditam piamente que, no PT pós-Lula ocorrerá a máxima de Luis XV: "après moi le deluge", ou seja, que o PT entrará em convulsão interna quando não houver mais um Lula em quem se apoiar como candidato.

Quebrarão a cara. E, em seguida, o País todo.

Abraços,

O Editor!

pepino disse...

É desse jeito que os Hitleres da vida aparecem...
Essa oposição é ridícula...Maldito PSDB e PFL que por incompetência e orgulho e também muita vaidade deixou o malandro desgovernar a coisa.

Cláudia Nathan disse...

Parabéns!!! É isso mesmo. O PSDB, em quem acreditei durante 20(!!) anos e em quem voto desde o MDB não me representa mais. Costumamos chama-los de palhaços, mas palhaços mesmo somos nós que acreditamos neles... Estou contigo e não abro, NG!!!