quarta-feira, 18 de abril de 2007

A ode ao oprimido

Em artigo de hoje para a Folha de S. Paulo, intitulado "O que o mestre mandar", Ruy Castro expõe seu desconhecimento a respeito das nuances implicadas na emissão e recepção de mensagens.

Na tentativa de explicar o massacre ocorrido na Virginia, Castro produz uma argumentação adolescente sobre a influência da cultura americana no cotidiano de Banânia. "Durante quase um século, eles nos ensinaram que fumar era bacana, adulto e moderno", inicia. Em seguida, explica: "Mas, então, eles descobriram que fumar não fazia bem, e a ordem foi banir o cigarro". No segundo parágrafo, ele conta como "eles" nos ensinaram a consumir fast food. No terceiro, explica que "eles" descobriram que aquela era uma comida perigosa e passaram a nos ensinar a evitá-la. Não demora a desferir aquele que deve ter lhe parecido, no momento da redação, o golpe dramático a encerrar sua cantilena:

"Por fim, e por igual período, eles nos ensinaram a admirar os pistoleiros Jesse James, Billy the Kid e Wyatt Earp. Ficamos íntimos da Magnum 44, do Colt 45, da Winchester 73 e de outras ferramentas da civilização americana. Tanto que nos dedicamos furiosamente a usá-las uns contra os outros, entre nós mesmos.(...) Às vezes, como anteontem, eles descobrem que ferramentas análogas, nas mãos de um animal doente e agressivo, como o ser humano, costumam ser mortíferas. Alguns até já cogitam proibi-las. Pode ser que, lá, nos EUA, eles consigam."

É uma ode ao oprimido: somos todos, enfim, tábula rasa, esperando apenas que os americanos nos digam como tocar nossas vidas. É o mito rousseauniano do bom selvagem: éramos um povo puro e fomos corrompidos pelos americanos. Somos, pois, um povo indefeso, imberbe, incapaz de reagir contrariamente às mensagens emitidas pelo "mestre".

Querem saber? Vou concordar com Ruy Castro. Vou, sim. E vou comprar sua teoria por inteiro: o brasileiro é desprovido de senso crítico, incapaz de apropriar-se das mensagens que recebe para determinar o que delas lhe serve ou não. Está, o oprimido brasileirinho, à mercê de tudo o que vê, lê e ouve, não tendo, igualmente, capacidade de gerar idéias e comportamentos próprios.

De posse dessa teoria - que, notem bem, aceitei sem ressalvas, como requer meu limitado intelecto tupiniquim - vou perguntar ao brasileiro Ruy Castro quem é o seu "mestre". Quero saber aos mandos de quem ele atende quando escreve um texto assim, ou seja : qual foi o lixo que Ruy Castro engoliu, sem qualquer análise crítica, para escrever tal porcaria?

11 comentários:

Ivone disse...

É de espantar essa atitude dele. Tenho certeza que já aproveitou e aproveita, ainda, e muito das benesses da terra do "Tio Sam". Se todos que ganham bem (como ele), pensarem assim, imagine como reagirão "os outros brasileiros" que só são informados via jornais da TV.

Tambosi disse...

Boa, NG!

Também pensei em dar umas chineladas nesse sujeito. Vá ser primário assim lá no Rio. É um paspalho.

Hermenauta disse...

Nariz,

Nunca comentei aqui antes (que eu me lembre), até por uma questão de incompatibilidade ideológica.

Mas resolvi romper o silêncio porque gostaria de vê-la explicar como você pode ser tão severa com a professora da USP, no outro post, e agora com Ruy Castro, quando sua própria primeira reação ao massacre em Virgínia Tech foi imediatamente a de assumi-lo como um ato terrorista.

Porque se o problema é unicamente o de utilizar afoitamente a própria visão de mundo para explicar o ocorrido, francamente, não vejo a diferença.

(N.G.: a diferença é que, quando especulei a respeito de um possível ataque terrorista, não usei malandramente o fato para atingir qualquer sistema econômico ou cultural - muito menos para apontá-los como causa de todas as mazelas do mundo.)

Hermenauta disse...

Não creio que os 1.4 bilhão de seres humanos que abraçam a fé muçulmana concordem com você ao se verem imediatamente identificados com qualquer maluquice que ocorra em solo norte-americano.

(N.G.: hei, hermeneuta, você já ouviu falar de neo-nazismo? Me parece que quem concluiu apressadamente "muçulmanos" no meu post foi você.)

Aluizio Amorim disse...

Excepcional o seu comentário caríssima Nariz. E note bem: Ruy Castro é um velho de guerra do jornalismo. Mas como disse lá no Tambosi, tempo de praia nada significa. O maior defeito dos jornalistas em sua maioria é não estudar. O senso comum, via de regra enviesado, nunca dará conta de trazer à luz a realidade.

Hermenauta disse...

Nariz,

Não me passou desapercebido o fato de que você foi muito cuidadosa em se eximir de afirmar a procedência ideológica do "atentado", apesar da referência ao Dia do Holocausto. No entanto me parece que no seu post de hoje você se traiu ao apontar um vídeo de terroristas muçulmanos como fonte de inspiração de Cho. Aliás, você parece ter escolhido insistir na influência islâmica sobre Cho ao falar em "cultura do martírio", quando "shooting rampages" são comuns na cultura norte-americana: Columbine ocorreu antes do 11 de setembro, e massacres como esse ocorrem nos EUA desde os anos 50, embora com outros atores que não estudantes mas sim preferencialmente trabalhadores sob stress.

Nariz Gelado disse...

Hermeneuta, não fui "cuidadosa" como você acusa. Chamou-me a atenção a data comemorada naquele dia para infeirir que poderia haver uma motivação. A autoria estava em aberto. Você é livre para concluir como quiser - mas não para colocar palavras na minha boca.

Também não "me traí" no último post: reagi a novas informações. Deveria fazer de conta que os vídeos não existem e que não lembram muito os do Hezbollah e da AlQaeda só para "não trair" um posicionamento inicial que você me atribui mas que não corresponde a verdade?

Tampouco eu disse que Columbine foi inspirada pelo 11 de setembro ou pelos "martírios" islâmicos ( e por acaso estes últimos começaram só depois do 11 de setembro, menino???).

O que eu disse é que Columbine não é uma influência solitária, ou seja: está, sem dúvida alguma - já que os dois assassinos daquele episódio foram citados por Cho - entre as inspirações do massacre na Virgínia Tech. Mas não está sozinha.

Finalmente, eu disse, sim, que os "tradicionais" shooting rampages começam, agora, a ganhar uma fonrte a mais de inspiração: o terrorismo muçulmano.

Você nega? Por que?

Toda esta exposição de gente se dizendo mártir e gravando vídeos-depoimentos antes do "martírio" não pode influênciar os malucos ocidentais que se revoltam contra o "sistema"? Não lhe parece lógico que aconteça?

Ah... deixe-me ver...Influência nosciva é só o que vem do capitalismo, certo? E se vier de outros lados é melhor a gente fazer de conta que não viu e calar... é isso?

Por fim, uma perguntinha: você sabe quem foi Ismael? É que Cho assinou com este nome a correpondência que enviou à NBC. Ele tabém escreveu este nome em seu braço, à caneta, antes de ir para a matança. De onde será que tirou este nome?

Estranho... não consigo lembrar de onde este nome se origina...Será que o McDonalds tem um novo boneco e eu não sei?

Renato Lellis disse...

O impressionante do pensamento dos esquerdólatras é que eles não tem compromisso nenhum com a lógica.

O que acontece de ruim nos EUA sempre é culpa deles mesmos, das vítimas, do consumismo, da competitividade e sei lá mais o quê.

Quando os atentados em 11/9 ocorreram, um monte de gente saiu dizendo que “os americanos mereceram”, como se estivéssemos assistindo alguma novela global.

Mas as coisas boas que lá existem nunca são mérito deles.

Se eles tem uma economia pujante, pesquisa científica de verdade e uma polícia que funciona, quem faz a associação de causa e efeito?

Deve ser por acaso. Ou eles usurparam isso dos povos oprimidos. Junto com as nossas “riquezas naturais”, provavelmente.

É duro ter que aguentar estes “intelequituais” que na verdade só sabem torcer contra o time que está ganhando.

clePTomaníaco disse...

Nariz,

Os argumentos esquerdopatas são assim mesmo. Tudo que for contra os EUA é bom para eles e vice-verda. A esse respeito, recordo-me da entrevista de uma professora do departamento de história da UnB a uma estação de rádio de Brasília quando, após o ataque terrorista de 11 de setembro, os EUA deflagaram a "guerra contra o terror" no Afeganistão. Na entrevista a dita cuja tecia loas a Osama bin Laden e ao regime talibã, quando foi confrontada com o fato de que o tratamento às das mulheres sob o talibã era injurioso, ao que respondeu: "não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos". O problema é que a tal professora é muito conhecida pelo ardor com que defende a causa feminista.

Adalberto Braga disse...

N.G.
Aqui no interior da Bahia se aplica ao garrote, um ponta-pé no vazio e ao burro uma cacetada entre as orelhas. São remédios eficazes para a correção dos desvios destes. Para os intelectuais, talvez uma republicação não autorizada de textos dos tempos em que o autor ainda mantinha algum contato com a realidade.
O "Ruim Casto" eu não sei se já está fazendo por merecer, mas o "Jabuticabeira Dunger" já passou do ponto.

Lele Carabina disse...

Depois daquela doutora em educação, não esperava [fui atacada por algum vírus de poliana] concorrentes.