sábado, 5 de maio de 2007

Segredos de uma xenófoba e paradisíaca aldeia

Conta a lenda que há 27 anos, quando o gaúcho Péricles Druck começou a erguer Jurerê Internacional, os habitantes de Florianópolis - os "nativos" como eles mesmos gostam de se autodenominar - faziam piada. "Só um gaúcho tolo, como são todos os gaúchos, poderia pensar em construir um bairro no meio do banhado" diziam, então, referindo-se ao fato de que o novo empreendimento localizava-se junto a um mangue.

Passados os primeiros anos, Jurerê Internacional mostrou-se um sucesso: primeira praia de Forianópolis com tratamento de esgoto, controle do lixo, sistema viário inteligente, ruas e praças mantidas com capricho e moradores que se esmeram no embelezamento de seus jardins - todos eles sem cercas ou muros, como queria a proposta idealizada por seu criador e como permite o baixo índice de criminalidade local - o empreendimento é considerado modelo no mundo todo.

Por isso, por oferecer algo inédito no Brasil, Jurerê Internacional supervalorizou, tornando-se sinônimo de luxo e ostentação arquitetônica. Por isso, também, o "internacional" que o bairro carrega, desde o princípio, em seu nome é uma realidade: franceses, suecos, italianos e americanos escolheram viver aqui. E também gaúchos, paulistas, paranaenses, pernambucanos... Os que não podem, ainda, se dar ao luxo de abandonar suas cidades de origem para integrar este pequena comunidade, hoje estimada em cerca de 1300 famílias, mantém aqui residências de férias.

Deve-se dizer que, por uma razão qualquer - talvez pela própria manutenção daquela antiga piada sobre o banhado - são poucos os nativos que optaram morar aqui. E, dentre estes poucos, a maioria tem no bairro a sua "casa de veraneio" - traço cultural um tanto curioso, já que ela, não raro, fica a menos de 15 minutos de sua residência oficial, no centro da cidade.

A despeito, porém, de toda a real ostentação dos meses de veraneio - quando Ferraris invadem as nossas avenidas e a praia mais parece uma edição da revista Caras - quem mora aqui, sabe: durante 10 meses do ano, Jurerê Internacional é um bairro de classe média alta. Velhos agasalhos e havaianas são o uniforme predileto de quem veio para cá para viver bem mas sem ostentação. E o visitante que vem embalado pelo discurso de "bairro luxuoso" fica surpreso ao encontrar, na maioria das nossas garagens, carros econômicos.


Mas de alguma forma esta não-afluência de nativos para Jurerê Internacional somou-se ao alto-padrão de vida do bairro para consolidar geograficamente um preconceito mais geral. A ilha, como se sabe, sofre de uma certa xenofobia. Do ridículo movimento "Fora Haole", ao simples tratamento gélido, paulistas e gaúchos são os alvos preferenciais desta segregação que revela um lado nada bonito da "bela e santa Catarina". Jurerê Internacional passou, então, a ser visto como um "reduto de forasteiros milionários". Inveja e xenofobia fazem, pois, com que cada problema surgido no bairro seja quase que comemorado por alguns luminares da imprensa local.

Por "problemas no bairro" leia-se aquilo que é natural em qualquer local luxuoso do mundo, resultado do fato óbvio de que contraventores bem sucedidos gostam de morar bem: volta e meia, algum criminoso - ou uma quadrilha deles - é descoberto por aqui. Acontece em São Paulo. Acontece em New York. Acontece no Rio. E, é claro, acontece em Jurerê Internacional. Mas não é só. Também os raros assaltos e acidentes de trânsito são noticiados num tom que mal disfarça o deleite: " há problemas no paraíso".

Sim, há problemas no paraíso

É fato que a administração não raro negligencia a manutenção de áreas mais antigas para investir todas as suas fichas em novos empreendimentos. E se há muito rigor com algumas normas - como a altura dos muros laterais - a política é frouxa com os donos de terrenos baldios, que usualmente são mantidos limpos pelos moradores das casas vizinhas.

Também é verdade que se aqui não falta água ou luz na alta temporada - problema corriqueiro na maioria das praias da ilha -, deve-se admitir que a afluência para cá de bares e casas naturnas, verificada nos últimos três anos, está corrompendo o projeto inicial de uma comunidade tranqüila.

Finalmente, já faz algum tempo que os moradores mais antigos reclamam das alterações do projeto inicial. Áreas que, no momento em que compradores eram para cá atraídos, foram catalogadas como de "preservação", transformaram-se em prédios e residências colossais. Havia alguma coisa de muito errada acontecendo. E quem tentou mobilizar-se junto aos órgãos competentes, o fez vão.

Chegamos, pois, à prisão de Perciles Druck, idealizador de Jurerê Internacional, juntamente com outros 21 empresários, políticos e funcionários públicos catarinenses, ocorrida na última quinta-feira, sob a acusação de compra de licenças ambientais.

Uma bandeira para os xenófobos invejosos

Não foi exatamente uma surpresa, já que há muito se murmura a respeito da facilidade com que planos-diretores são alterados em toda a ilha - e não só em Jurerê Internacional. Mas basta acompanhar algumas manifestações da imprensa local para perceber que Druk e seu empreendimento estão merecendo um destaque todo especial: o que antes era a manifestação semi-velada de inveja e xenofobia ameaça, agora, transformar-se em ataques diretos, desferidos contra toda uma comunidade que nunca foi, na verdade, "engolida" pelos nativos.

Depois de 27 anos amargando o fato de que a piada havia se transformado num entrondoso sucesso, eles agora encontraram uma bandeira. É assim que nas últimas 48 horas a imprensa local está se dedicando a publicar notinhas estapafúrdias, carregadas de mágoa, preconceito e inveja: que os, até então orgulhosos, moradores de Jurerê Internacional estão agora evitando revelar onde moram; que o bairro concentra o maior número de contraventores por metro quadrado da ilha ou que os "gaúchos" são corruptores compulsivos, tendo maculado a "boa índole nativa", são algumas das "perolas" publicadas por esta louvável imprensa de merda. Vou repetir: louvável imprensa de merda, que não hesita em fazer uso de um episódio grave para dar vazão às suas vergonhosas frustrações.

Se de fato está envolvido com corrupção, Druck deverá responder por todos os seus atos. Se o episódio servir para preservar o que ainda resta de natureza intocada em Jurerê Internacional, desejo da maioria dos seus moradores, melhor ainda. Mas os habitantes de Jurerê Internacional - e os gaúchos de Florianópolis como um todo - não têm motivos para aceitar passivamente o uso lamanetável que se começa a fazer deste episódio. Pois a verdade nua e crua é que aqui moram pessoas de valor, que para cá trouxeram seu dinheiro, seus sonhos e sua capacidade de trabalho - e que, não raro, aqui realizam empreendimentos que os nativos jamais tiveram capacidade de realizar.

Se não por isto, pelo menos pelo fato inegável de que outros 21 estão envolvidos na mesma maracutaia, que muitos são nativos, e que nenhum deles, a despeito de toda a corrupção praticada, foi capaz de erguer um bairro que é padrão de qualidade no mundo inteiro, seria melhor que os nativos calassem.

11 comentários:

Aluizio Amorim disse...

Nariz: vc está certíssima. Quanto à malta imunda que se diz alternativa e que invade diversas praias da Ilha, militantes políticos retardatários com o pensamento voltado para os anos 60, ninguém diz nada. Como também todos ignoraram a invasão botocuda da Ponta do Coral, na Av. Beira Mar Norte, onde já se forma um amontoado de barracos. Há alguns anos o empresário Realdo Guglielmi, de Criciúma, já falecido, tinha um projeto para um hotel internacional naquela local. Os ecochatos alternativos fizeram o maior carnaval e abortaram o projeto. Além disso, nunca vi nenhum movimento dos ecochatos em favor da implantação de esgoto em Fpolis e nas demais cidades catarinenses. Quem dá uma voltinha pelo mercado público, onde é manipulada alimentação, constata o odor fétido da merda quase à céu aberto. Conclusão: ecochatos e alternativos gostam de viver na merda. A imprensa local, que se dedica mais à fofoca, no estilo das comadres, ignora solenemente tudo isso. Em contrapartida, são contra os empreendimentos limpos e que trazem a civilização e a urbanização para Fpolis.

Lefebvre disse...

Já fiquei em Jurerê alguns dias. É um bairro maravilhoso mesmo. Eu não curto muito Florianópolis, pelos motivos acima citados. Mas eu quero fazer um pequeno porém.

É preciso ter certeza de que todos estavam envolvidos na MESMA maracutaia. Foi noticiado até agora que "compravam facilidades". Quem já se envolveu com as tais licenças do IBAMA, sabe que é uma merda essa secretaria. Muito incompetente.

Prefiro esperar os processos serem liberados para fazer acusações. O IBAMA sempre me causa desconfiança.

Paulo disse...

Parafraseando o grande Euclides, "o brasileiro é acima de tudo um invejoso..."

Inveja do sucesso alheio é um dos traços culturais mais marcantes do brasileiro de todas as origens e regiões.

E não é aquela inveja que eu chamo de saudável, da admiração pelo sucesso alheio que nos move a realizar coisas. É inveja destrutiva, que os alemães batizaram de "Schadenfreude".

Flamarion disse...

Nariz, sinto muito pelos seus conterrâneos. Eles dão mesmo pena.

(N.G.: "conterrâneos" vírgula, Flamarion...que eu sou gaúcha. rsrsrs Beleza ver você por aqui. )

LuizF disse...

Cara NG,

é isso aí! ... dor de cotovelo em estado puro. Se os "manezinhos" tivessem um pouco mais de consciência e um pouco menos de arrogância "nativa", tratariam do assunto com mais urbanidade.

Um abraço,
LuizF

debora disse...

Nariz,
O nativo da ilha não gosta de ninguém que venha do outro lado da ponte, independente de ser catarinense ou não.
Morei em Floripa por dez anos e cansei de explicar que meu sotaque gaucho na verdade é de Lages, cidade do mesmo estado.
Morar em Florianópolis é uma beleza para quem é estudante, aposentado do serviço federal ou mantém negócios em qualquer outro lugar do país que não na capital catarinense.
Paira em Florianópolis um marasmo economico quase palpável, ser profissional liberal num ambiente desses é trabalho para Hércules. Sem contar a quantidade de picaretas, ô terra fértil pra esse tipo de gente!
Floripa é um ótimo lugar pra passear. Nada mais, nada além.

carlos disse...

Sou gaúcho, moro em Jurerê Internacional e me incomodo com o que a Habitasul faz por lá. Se o objetivo era criar um lugar aprazível e diferente, eles já conseguiram. Podiam ter parado por aí, já ganharam rios de dinheiro com a explosiva valorização do bairro. Mas isso não parece ser o bastante pra eles, é preciso expandir, sempre, apesar de a lei ambiental ter mudado bastante desde o início do projeto. Reputo Jurerê Internacional como o maior "crime" ambiental já produzido na Ilha de Santa Catarina, basta olhar o matinho que eles deixaram ali do lado do Openshopping pra entender o que eu quero dizer. Só não é crime porque ocorreu antes da lei 9.605/1998. Não obstante a lei, as máquinas continuam destruindo as restingas e cursos d'água, abrindo novas áreas, tudo em nome do lucro. O pior de tudo é a hipocrisia deles, com suas placas de "proteção à natureza", áreas de recuperação ambiental,cordas, etc ambiente que eles mesmos destroem todo dia. Mas o que é a lei para quem tem o poder? Até o poder de polícia eles se apropriaram, sem que ninguém reclame. Vejo com irritação os abusos cometidos pela segurança do bairro, que acredita poder decidir que pode e quem não pode circular no bairro. Até ruas próximas da praia eles já fecharam, cobrando de quem queria estacionar o carro. Apropriavam-se de área pública e cobravam pelo seu uso! Uma noite na cadeia é pouco para essa turma.

(N.G.: Carlos...tem certeza de que você mora em Jurerê Internacional? Veja bem: os moradores daqui, concordariam com muito do que você disse sobre preservação ambiental. Mas, quanto ao resto, você não me parece morador: se fosse um, estaria feliz pela nossa segurança, sempre atenta aos estranhos, como devem ser todas as seguranças. Se fosse um, saberia que não se cobra estacionamento na praia. O que é uma lástima, já que os moradores de Jurerê Internacional pagam 80% a mais em suas contas de água para ter um mar limpo. Seria mais do que justo que os que vem de fora, para usufruir de nosso mar limpinho, gastassem um pouco também, não? Pelo menos com estacionamento...)

carlos disse...

NG, transformar Jurerê Internacional num feudo, com regras próprias, onde o poder de polícia e o poder de dispor sobre o direito de ir e vir em área pública pertencem aos moradores parece muito cômodo. No entanto, isso ainda é crime, tanto quanto furtar e corromper funcionários públicos. Como auditor público, não posso aceitar como normal tais atitudes, embora, como dizes, devesse estar feliz, já que a minha segurança aumenta muito com essas "providências" da administração local. Infelizmente sou adepto da "tolerância zero" com o crime, não importa de onde venha, e independentemente das boas intenções que supostamente abriguem. Me incomoda saber que os vendedores de rede, ainda que estejam apenas batalhando pelo dinheirinho que mandam para suas famílias lá no nordeste, só podem circular pelas ruas de Jurerê Internacional se estiverem acompanhados de um morador. Da minha sacada, aqui na rua das Algas, já vi todo tipo de arbitrariedade, e não compactuo com isso. Como não estou morto, continuo peleando, defendendo essa coisa que alguns chamam de "estado de direito", mas que para mim é apenas o direito de viver respeitando o próximo.

(N.G.: Não soube de nenhum constrangimento - isto dos vendedores de rede, para mim é novo, pois sempre os vejo belos e faceiros a beira mar. Soube, isto sim, de negligências - como no ano passado, quando três de nossos jovens foram seriamente agredidos por bêbados não residentes em plena luz do dia, em frente ao El Divino. Desde então, a associação passou e exigir maior fiscalização junto aos não residentes - sejam eles ambulantes ou banhistas. Nosso índice de criminalidade é baixo, mas não continuará assim se começarmos a afrouxar. Sinto muito, sou pragmática. De resto, nosso policiamento é feito não pelos moradores ou por capangas - como seria num feudo - mas por empresa de segurança treinada, registrada e autorizada a trabalhar como tal. Agora....e sobre o inexistente estacionamento pago... Alguma réplica?)

Carlos disse...

NG, a segurança pública de Jurerê Internacional é feita por empresa privada, que aborda pessoas ditas "suspeitas" que transitem pelo bairro, impede vendedores de circularem pelas ruas, e só não o fazem na faixa de areia. Somente o Estado (ente jurídico) pode realizar a segurança pública, porque só ele detém o poder de polícia, indelegável a qualquer ente privado. O que a administração do bairro faz se chama usurpação de função pública e é crime tipificado no art. 328 do Código Penal. Houve uma época, lá por 1997, 1998, não lembro bem, em que eles fechavam os estacionamentos (públicos)e até algumas ruas entre a Búzios e a praia, durante o verão, com correntes e colocavam uns meninos para cobrar pelo uso. Por melhores que fossem as intenções (ajuda aos menores), praticavam apropriação indébita de patrimônio público. Acho que o Ministério Público andou questionando e eles pararam com a cobrança.

(N.G.: Carlos, se a segurança de Jurerê Internacional, nos moldes em que é feita, fere a legislação, encaminhe uma queixa aos orgãos competentes. De minha parte, paguei mais por um terreno para me sentir segura. Se quisesse morar num lugar onde os ambulantes não fossem importunados - ou coisa que o valha - teria inúmeras outras praias da Ilha para escolher. Quanto ao estacionamento, lamento que a legislação não dê abrigo para a iniciativa. Como já lhe disse a "manutenção" deste pequeno e caprichoso paraíso é feita pela iniciativa privada - por seus moradores. É mais do que justo que os que não moram aqui, que não bancam a manutenção, sejam cobrados de alguma forma para usufruírem da coisa. Por ora, exceto pela devastação ecológica - penso que o Aqcua e o Il Campanario são exemplos máximos de uma ganância imobiliária que não corresponde ao que me foi originalmente oferecido - não tenho queixas.)

Marcelo Weit disse...

Cheguei até este blog porque pesquisava pelas palavras "Xenofobismo" e "Florianópolis".
Que vergonha! Qualquer nativo que se disponha a sair da sua bela ilha verá facilmente que ela não é - e nunca vai ser - o centro do mundo. Não com este tipo de comportamento. segregador.

Manuel Crispim disse...

NARIZ... EU COMO BOM MATUCHO (GAUCHO DO MATO GROSSO) VOU A JURERE PASSAR AS MELHORES FÉRIAS DA MINHA VIDA TODO ANO, SABE COMO EH A VIDA FORA D'AGUA, MUITO ESTRESSANTE E MONOTONA, E PORTANTO VOU ATÉ O SEU PARAÍSO PARTICULAR, ME ENTOCAR UM POUCO, COMO DIZEM POR AQUI, FAZER USO DE SEU PARAÍSO SEM CONHECER PROFUNDAMENTE ELE. GOSTARIA DE CONHECER OS MORADORES DE JURERE NO MEU PRÓXIMO VERANEIO POR AI, QUEM SABE A GENTE APRENDE ALGO UM SOBRE O OUTRO, O ESTRANGEIRO ALIENIGENA, E O MORADOR ACUADO. HEHE BRICADEIRA, SOMOS DE FAMILIA, HEHE E VAMOS AI PRA APROVEITAR UM POUQUINHO , UMA PONTINHA DO QUE VCS VIVEM O RESTO DO ANO: SOSSEGO, TRANQUILIDADE , QUALIDADE DE VIDA, MAR , SOL, GENTE BONITA, ETC ETC ETC....