segunda-feira, 30 de julho de 2007

Priorizando

Algumas notícias falam em 2.000. Outras, em 6.500 pessoas. Importa é que a manifestação em homenagem às vítimas de acidentes aéreos e aos bombeiros que trabalharam no resgate da TAM reuniu bastante gente.

Ponto, pois, para os organizadores - a saber, a Associação Brasileira de Parentes de Vítimas de Acidentes Aéreos, a CRIA Brasil (Cidadão, Responsável, Informado e Atuante), Campanha Rir para não Chorar, Casa do Zezinho, Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Brasil Verdade, Instituto Rukha e Movimento Nossa São Paulo: Outra Cidade.

Lá estavam, também, os manifestantes contra Renan Calheiros e o governo Lula. O presidente, Marta Suplicy e Marco Aurélio Garcia foram os alvos preferenciais das faixas, cartazes e palavras de ordem. O último foi lembrado pelo músico Seu Jorge que, em discurso, comentou os obscenos gestos do assessor presidencial, recentemente exibidos pela Rede Globo.

Considerando os acanhados protestos do ano passado, o número não deixa de ser impressionante. Mas é bom lembrar que tratava-se de um misto de protesto com homenagem aos mortos. Esta, me parece, foi a sua força. Resta cuidar para que não se transforme numa fraqueza dos próximos atos que estão programados. E eles não são poucos.

Há aquele "Fora Lula", em São Paulo, no dia 4 - pelo menos, não me consta que tenha sido cancelado -, sobre o qual já falei anteriormente. Há, também, o minuto de silêncio no próximo dia 17, promovido pela campanha "Cansei". Finalmente, há o "Dia do pé no chão", que pretende parar os aeroportos em 18 de agosto.

Quem está me acompanhando há mais dias sabe que este último é o que considero mais importante. Primeiro, há uma coerência entre objeto e a ação em si que é fundamental em qualquer protesto que pretenda chamar a atenção: reclama-se contra o caos aéreo parando os aeroportos. Segundo: ao provocar prejuízo para as companhias aéreas, nós as estaremos atingindo na única coisa com a qual elas parecem se importar. Terceiro: se o governo não tem vergonha na cara - e não tem - não adianta protestar contra ele; é melhor pressionar as companhias para que elas parem de fazer o jogo governamental. Por fim, as chances de sucesso de um boicote desta natureza são grandes: para ser um sucesso, ele só precisa mobilizar uma camada da população que é majoritariamente bem informada.

Queiram me desculpar os mais sensíveis: dizer simplesmente "estou cansado" e pedir um mísero minuto de silêncio não vai mudar nada. Reunir 60.000 nas ruas gritando "Fora Lula" também não vai mudar nada - será sempre uma minoria, contrastada com os votos que reelegeram Lula ou com as providencias pesquistas de opinião que o governo arruma nessas horas. Mas dêem um dia de prejuízo para as companhias aéreas, sugerindo que isto pode voltar a acontecer mais vezes, que elas mesmas vão dar conta de nos entregar todas as governamentais cabeças - e, o que é melhor, passarão a nos respeitar enquanto consumidores.

Por esta razão, penso que tanto o pessoal que pretende gritar simplesmente "Fora Lula" quanto a organização da campanha "Cansei" deveriam usar seu tempo e energia - bem como os espaços que venham a conquistar na mídia - para apoiar o boicote do dia 18. É o que esta blog pretende fazer - assim que descobrir uma forma de contato com quem está a frente deste movimento pois, até agora, só li a respeito nas notícias de jornais.

5 comentários:

Enoch disse...

Nariz Gelado

Será um orgulho contar com o seu apoio.

Por favor, visite o site http://www.noflyday.com.br/17_de_julho_de_2007/noflyday.html

janet rocha disse...

Um outra movimento seria para a classe média parar de comprar jornais como a Folha de São paulo e a Estadão. Adoraria ver essas jornalistas petralhas na sarjeta.

(N.G.: que "jornalistas"? Na Folha até se encontra alguns petistas. No Estadão não me ocorre ninguém. Vale lembrar, porém, Janet, que a sua proposta é perigosa e, queira me perdoar, quase petista: discurso único, partido único , etc..costumam ser reivindicações das esquerdas totalitárias. São elas que não gosta de ler opiniões contrárias nos jornais. Um abraço.).

Fernando disse...

NG, acho que vocês estão completamente equivocados ao dizer que o prejuízo seria a única coisa com a qual elas parecem se importar e que elas seriam cúmplices do governo. Ora, nenhuma companhia aérea quer atrasar vôos e obrigar seus pilotos a usarem infra-estrutura precária, e menos ainda se envolver em acidentes ou deixar seus clientes aborrecidos.

Um avião parado é prejuízo de tempo, de planejamento, de recursos humanos e de combustível. As companhias operam sob uma miríade de restrições e qualquer bagunça provocada pelo controle de tráfego e más condições dos aeroportos prejudica ainda mais. Por exemplo, sabia que alguns pilotos são obrigados a voar em círculos para gastar combustível porque um determinado aeroporto para o qual foram redirecionados pelo CTA só está homologado para um certo limite de peso? Muitas vezes os CTAs não permitem um piloto ocupar determinados gates mesmo estando eles vazios e mais próximos. Outras vezes os pilotos são obrigados pelos CTAs a voarem em círculos até mesmo após a *decolagem*, tal é a confusão.

Não faz o menor sentido deixar de protestar contra o governo ("não adianta protestar contra ele") e protestar contra uma das várias vítimas dele: as companhias. Companhia aérea nenhuma faz o tal jogo governamental. Elas são tão reféns do mau governo quanto o resto da população que não votou no atual presidente.

O único motivo que existiria para um boicote desse é que praticamente não dá para boicotar os aeroportos e o controle de tráfego sem boicotar as companhias aéreas por tabela.

(N.G.: desculpe, mas discordo. Que as relações entre companhias aéreas e órgãos governamentais que deveriam fiscalizá-las são promíscuas já está claro. Pilotos anônimos vivem declarando que nao podem denunciar abertamente a sobrecarga e os riscos a que sao expostos porque seriam demitidos; passageiros estão sendo tratados sem a menor consideração e não têm a quem recorrer. Boicote, sim! Pode ser que assim as cias avaliem o "custo-benefício" e quebrem esta rede de pormiscuidade - ou, pelo menos, que dispensem melhor tratamento a quem lhes garante lucros. )

Celso disse...

É com dor no coração que eu concordo com você. Infelizmente nós classe média alta somos poucos, eles votantes de Lula estão em grande numeros. Viu a pesquisa no Paulo Henrique Amorim? A imagem de Lula vai bem obrigado! Nem um arranhão!

janice disse...

Pois eu apóio qualquer iniciativa. Desde o "Fora Lula!", até o afetado "Cansei", passando, naturalmente pelo boicote às companhias aéreas. Antes tarde do que nunca, Nariz. Um abraço.