Mas nem as notas oficiais?

A edição de domingo do Estadão trouxe matéria informando que a diretora da Anac, Denise Abreu, teria incentivado as companhias aéreas a reagir judicialmente à decisão do governo federal de diminuir o movimento no aeroporto de Congonhas. O incentivo teria ocorrido em reunião realizada com as companhias no dia 26 de julho.

Ontem mesmo, Abreu emitiu uma nota desmentindo a coisa. Li a nota nos portais de imprensa. E, neles, ela é composta de seis tópicos, sendo que o quinto e o sexto aparecem como segue:

"5. As pessoas de bom senso já devem estar perplexas como a imprensa, numa mesma semana, pode ser tão contraditória. Uma hora Denise Abreu é tão importante para o Governo Federal que as autoridades se preocupariam em blindá-la. Dias depois, a mesma imprensa diz que Denise Abreu faz oposição ao Governo! Isso apenas evidencia que há uma deliberada tentativa, por motivos ainda velados, de buscar criar um cenário de desestabilização e dificuldades. Será em vão.

6. É um absurdo imaginar que uma servidora pública exemplar como Denise Abreu possa rebelar-se dessa forma contra diretrizes superiores. Sua competência de dezenas de anos na gestão pública, em diversos governos, de diferentes partidos, a credencia para a atividade que exerce e sobre a qual está pronta a prestar todos os esclarecimentos necessários".

(Fontes: Radiobrás, JC Online e G1)

Como se vê, o quinto tópico faz uso da já enxovalhada estratégia de culpar a imprensa por todos os males que assolam o governo e seus aliados.

Se fosse possível comentá-lo, eu trataria de desfazer a estudada confusão que este tópico traz.

Não há qualquer incoerência em sugerir que Denise Abreu está blindada e, ao mesmo tempo, que não tem seguido aquelas que deveriam ser as diretrizes do governo. Se ela estivesse fazendo o seu trabalho direito - a saber, defender os interesses da aviação civil brasileira e não das companhias aéreas - , não haveria necessidade de blindagem. Desconfia-se, aliás, que esteja blindada justamente porque, a despeito da bagunça que reina na ANAC, ela se mantém no cargo. Desconfia-se que esteja blindada justamente porque é ela que desfaz, nos bastidores, aquilo que o governo finge fazer diante da opinião pública.

Estas são coisas que eu diria se pudesse comentar os tópicos 5 e 6. Ocorre que eu não tenho como comentá-los porque na nota oficial publicada no site ANAC eles simplesmente sumiram.