sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Eu, Mino Carta

Sempre achei um horror essa história do Mino Carta escrever numa velha Olivetti. Nada poderia ser mais representativo do encarquilhamento de suas idéias - quiçá do próprio Mino, por quem não nutro, como é de se esperar, grandes afetos. Do ponto de vista meramente argumentativo, me parecia muito confortável que alguém, a quem eu postulo uma ideologia retrógrada, resista de forma quase insana à tecnologia. A velha Olivetti estava para Mino Carta como os dólares na cueca estão para o petismo: era uma prova concreta de que algo vai mal naquele organismo

Assim pensava eu até ontem, quando o fantástico equilíbrio que me permite segurar pacotes e abrir o carro enquanto falo ao telefone simplesmente falhou. O saldo: jogo de taças a salvo e celular espatifado no chão. Nada que já não tivesse acontecido antes, ok. Mas, enquanto eu juntava frente, verso e bateria, me dei conta de que estava há quatro anos com o mesmo celular. Só isso já seria motivo para uma pessoa normal entrar correndo na primeira loja. Não eu. Eu precisei olhar mais de perto e descobrir que agora havia uma pequena rachadura entre o visor e o teclado.

Foi, pois, vencida pelas evidências e um tanto contrariada, que falei para o atendente da revenda: "Quero uma coisa simples". Gentilíssimo, ele me apresentou a uma miríade de objetos que tocam música, armazenam dados, filmam, fotografam, acessam a internet, dançam , cantam e apitam; enfim, todas aquelas coisas maravilhosas, surgidas nos últimos quatro anos, em prol da tal convergência. Recebeu de volta um suspiro acompanhado de " Veja bem, quero um modelo com números grandes para que eu possa telefonar sem óculos."

Depois de algum tempo saí de lá com uma coisinha que faz o que fazia o anterior: fotografa e acessa a internet.

Desconfio que o bom vendedor - que, no final, já me tratava com aquela gentileza reservada aos senis - me ocultou outras funções; coisas que, provavelmente jamais descubrirei. Mas como, em virtude dos pontos acumulados ao longo de quatro anos - a operadora deve me amar -, a coisa foi de graça, desisti de explicar que eu só uso celular para telefonar. Porque é exatamente isso: não passo torpedos, não acesso a web, não fotografo... Ou seja: os primeiros celulares estão para mim como a Olivetti está para Mino Carta.

7 comentários:

Cristal disse...

Nariz !!!

Estou saindo em viagem mas antes passei para desejar a vc e a toda sua família um " FELIZ NATAL!!!"

Alexandre, The Great disse...

Além disso tudo, ainda tem aquela qualidade que o Mainardi destacou há algum tempo: "Mino é portátil, cabe em qualquer bolso!" É quase como o seu celular...

Fabio Marton disse...

"Torpedo", céus, eis um termo que me dá urticária. Queria descobrir o publicitário antropofágico que traduziu em gíria carioca dos anos 50 o tal "serviço de mensagens curtas". Deve ser do tipo que chama PM de "tiraix". Pelo menos Aldo Motherfucking Rabelo deve estar feliz.

ALUIZIO AMORIM disse...

Nariz: essas engenhocas são tão incríveis que duvido que todos utilizem tudo que elas possuem. Pois eu utilizo câmera fotográfica, e envio os meus "torpedinhos" desde que a destinatária me deixe empolgado. Não acesso a internet pelo celular porque não vejo - ainda - utilidade. Mas sei que logo, logo estarei acessando. Parece que falta é tempo para a gente curtir tudo isso que a tecnologica oferece. O diabo é que o dia tem apenas 24 horas. Deveria ter, no mínimo, o dobro...hehehe...e aproveito o ensejo (epa!) para lhe enviar BOAS FESTAS E UM 2008 EXCELENTE PARA VC E OS SEUS FAMILIARES.
EM TEMPO: senilidade? Caracas! Esse atendente não enxerga bem, porque vc é bonita! gentil, simpática e sobretudo inteligente. Vc é uma mulher muito especial.

Verbo Demolidor disse...

NG

Feliz Natal e um ano nvo cheio de alegrias para vc e o Coronel.

Foi muito bom poder tê-los e lê-los em 2007.

rsrsrs

Abraço

Verbo Demolidor.

PS. Saio hoje para Curitiba
Amanhã Floripa.
Praia dos Ingleses.

Peço sua permissão para adentrar ao seu território.

Flamarion disse...

E eu, que nem celular tenho?

Eu já tive um. Nunca usei e ficou sendo da minha filha.

jânio disse...

Cheguei tarde. Mas é "descobrirei".