terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A linguagem da demagogia

O artigo de Bernardo Kucinski - no qual o autor atribui preconceito a gente como João Ubaldo, Ricardo Noblat, Daniel Piza, Lucia Hippolito e William Waack - apresenta um acerto e dois erros.

O acerto: Lula não é um ignorante - é um político esperto, forjado no ar viciado do sindicalismo e fartamente amamentado pela esquerda uspiana.

Primeiro erro: as manifestações de Lula não são advindas de "formas diferentes de saber" - e muito menos de um "saber popular", como sugere Kucinski. Lula tem pleno domínio de mecanismos populistas bem tradicionais - em especial daqueles destinados a eliminar as vias intermediárias entre um líder carismático e seu público. No caso de Lula, os únicos públicos que lhe interessam são o topo e a base da pirâmide social. O topo garante força política e apoio fincanceiro para suas campanhas. É para satisfazer seus integrantes que Lula mantém intocada a política econômica de FHC - e isto lhes basta. A base, como se sabe, garante a Lula a vitória nas urnas. Para ela, o petista reserva uma política social de dependência, o néo-coronelismo, e uma linguagem adequada: são as tais "confusões" e declarações jocosas, com as quais Lula - um membro da elite há pelo menos duas décadas - se mantém um "homem do povo" aos olhos dos realmente ignorantes.

Segundo erro: uma vez que o que acima se expõe é evidente e para lá de conhecido, está claro que não é por preconceito que os articulistas citados por Kucinski sugerem que Lula se apresenta ora confuso, ora mal informado. Na maioria dos casos trata-se de ironia - única arma com a qual pessoas mentalmente saudáveis podem enfrentar o festival de constrangedoras metamorfoses e indecências emanadas de Lula e seus comparsas. Aliás, tão conhecido e debatido é o que vai no segundo parágrafo que somos levados a pensar que Kucinski "errou" por pura demagogia e comprometimento ideológico.

9 comentários:

HUGO AGOGO disse...

A boa nova é que alguns "ex-petistas" estão na lista do intelectual chapa-branca. Não deixa de ser um bom sinal.

Joca disse...

Adoraria saber o que são "formas diferentes de saber". Cá na minha ignorância, sempre achei que ou se sabe ou não se sabe alguma coisa.

Peregrino disse...

O resultado dessas "formas diferentes de saberes" nós conhecemos: ignorância em grau elevado. Conheço muitos desses doutos senhores que não sabem ler um manual de ferro de passar.

marie tourvel disse...

Os "intelequituais" da esquerda (sei que isso não ecxiste, como diria o Quevedo) são assim, comprometem-se ideológica, demagógica e, o principal, financeiramente. Estamos lascados.

Ruy disse...

Análise perfeita, Nariz.

Quanto ao Kucinski, o comprometimento ideológico é total. Petista dos raivosos - e não estou brincando. Tive aula com ele.

Bira disse...

Vejo pessoas que ou dependem da verba ou bateram a cabeça e não procuram um médico urgente.
Alguns acreditam piamente que a única forma de dar dinheiro é com Lula, o salvador...com gente assim não é possível sequer abrir um diálogo.

Ligia disse...

Não suporto mais esta gente falando, discursando, escrevendo, dá nojo. Toda vez que vejo algum defendendo esta tropa imnagino que ou tem um cargo, bolsa, ajuda do governo ou é incoerente total. Nem me importaria tanto se pelo menos ficassem calados, quietinhos e curtindo as cosinhas que ganharam.Detesto este papo de preconceito, ficaram anos sendo preconceituosos com burgueses e banqueiros pombas! Tô fazendo as contas dos saques em dinheiro dos cartões da turma.
Mandei e mail nada a ver pra ti Nariz, uns copos pra festa que achei num site de compras americano.
Tua cara!
Abraços

(N.G.: já li, Ligia. Aqueles copos são o máximo KKK... Acho que vou postá-los qualquer hora dessas. Beijos).

Oliver disse...

Também achei sua análise primorosa, Nariz. Só não entendo como o Ruy aí embaixo perdeu a chance de comentar sobre o kucinski alheio. Ele não perde uma, he he he

(N.G.: Ora bolas, Oliver... O Ruy é autor de uma extraordinária poesia concreta - na qual, eu acho, ele já deu sua palavra definitiva sobre o kucinski alheio.)

Jorge Nobre disse...

O João Ubaldo acusado de preconceito contra o suposto "saber popular"!

Mas bom mesmo é a lógica do Kucinsky. Então, se x não gosta do que ele gosta (ou finge gostar, o que é mais provável) é por defeito de x, e não do objeto rejeitado.

Eles são todos assim: não há defeito em seus projetos, em suas intenções, em seus idolos. Defeito, se houver, está nos outros, que não compartilham sua adoração.

Lametável.