domingo, 4 de maio de 2008

No país dos hipócritas só há crime quando se fala nele.

Antes de mais nada - em especial, antes que venham aqui me chamar de maconheira -, fique claro que eu não fumo maconha e sou totalmente contra a legalização das drogas.

Mas acho ridículo que um Estado que não consegue combater o tráfico no morro, nem o consumo "no asfalto", resolva proibir uma marcha em prol da legalização e do uso da marijuana - que é, não se enganem, o que pretende uma manifestação chamada "Marcha da Maconha".

Se uma passeata assim passar na minha rua, eu fecho as janelas. Mas anotem aí: prefiro mil vezes conviver com a liberdade de expressão da maconheirada do que com a mentira que esta proibição constrói - a saber, que é proibido consumir maconha no Brasil. Proibido onde, se abundam as bocas de fumo em nossos parques e praças? Proibido por quem, se é possível conseguir - e fumar! - um baseado em qualquer esquina deste país de hipócritas?

Penso que esta proibição da tal "Marcha da Maconha", sob a alegação de apologia ao crime, soa um tanto mais ridícula vinda de um Estado que aprovou, em 2004, uma lei que diferencia o traficante do usuário - e que praticamente descriminaliza o segundo, imputando-lhe, no máximo, uma pena de trabalhinhos comunitários. Ou seja: no Brasil, pode-se fumar maconha à vontade - só não pode falar no assunto.

Alguém se admira que este seja o mesmo país onde políticos que roubam a mais não poder são devidamente penalizados somente no caso, improvável, de uma confissão, e olhe lá?

17 comentários:

Steve disse...

Hipocrisia é o que não falta por aqui, no Acampamento Banânia.

Kika Albuquerque disse...

Como boas amigas, sabemos discordar.
E dessa vez, eu discordo inteiramente de você. E explico:
Acontece, NG, que o país está completamente, digamos assim, de pernas pro ar.
O que era errado virou certo e o que era certo virou errado.
Trata-se do país da petralha.
Entendo perfeitamente a sua visão sobre a tal Marcha da Maconha, e concordaria com ela se em outros tempos vivessemos.
O perigo de permitir uma marcha assim nos tempos em que vivemos, mergulhados na mais absoluta inversão de valores, é que daqui a pouco tenhamos que assistir a outras "marchas":

Marcha pela descriminalização do uso de dinheiro público para aplicação de botox.
Marcha pela descriminalização do uso de dinheiro vivo aos montes para pagamento de dossiês.
Marcha pela descriminalização da doação de Land Hovers a políticos safados.
Marcha pelo direito de usar dinheiro público para levar a sogra para a Europa de jatinho fretado.
Marcha pela descriminalização de carregar dolares em cuecas.

E haja marchas. Essa gente não tem limites. Não exitarão em promover a Marcha pelo direito de jogar filhos pela janela, se conveniente lhes for.

Aceito, numa boa, o direito que cada um tem de fumar, cheirar, comer com farinha, o que quer que ache que deve.
O que não pode é dar margem à petralha para marchas outras.

Já já os cretinos marcham pela descriminalização do roubo. Afinal, se não descriminalizar e se levar a sério, vai faltar cadeia e sobrar petralha.

(N.G.: Kika, a questão é bem essa. Se houvesse uma marcha pela descriminalização do uso de dinheiro vivo aos montes para pagamento de dossiês, ela não seria mais do que a realidade escancarada, já que é exatamente isso que esta acontecendo, sem que ninguém vá preso )

Ruy disse...

Concordo inteiramente sobre a marcha, querida. E olhe que mato queimado também não faz meu gênero. :) Beijão.

Roberto disse...

Hum... discordo. Se o executivo não consegue fazer com que as leis sejam cumpridas, porquê culpar o judiciário? Por cumprir a lei? Só para provocar um pouquinho (sem maldade, por favor): já pensou numa marcha, sei lá eu, a favor no neo-nazismo ou da pornografia infantil? Seriam tambem democráticas?
Quanto as tais marchas: a alternativa mais eficaz a elas é percorrer o caminho democrático normal. Sabe, aquele dos abaixo-assinados, petições, lobby junto a congressistas para apresentar projetos de lei, etc.
[ ]´s

PV disse...

Meu pensamento é o mesmo que o de Kika Albuquerque.
Não tenho certeza mas acho que maconha e maria joana ..rs - são um pouco diferentes. Bem, não sou expert no assunto.
O que vejo é cada vez mais fazendo-se passeatas ou consulta popular de algo que está a margem da lei e, tudo neste governo dos camaradas, que parecem buscar no ilegal a alimentação do álibi para suas falcatruas atraindo assim simpatizantes de todas as vertentes de nossa sociedade - desde os que não pensam por si até os que vivem à margem da lei. Não nos esqueçamos da "revolta" do pcc em São Paulo.
Veremos mais pra frente a marcha dos sem tênis - que querem o tênis de graça para não ter que roubar o tênis dos outros, a marcha dos usuarios de cocaina, dos politicos que usam o erário público par despesas pessoais.
Pior do que país da banãnia, o brasil petista está virando o país da criminalidade.
O crime - ora o crime - é apenas um deslize, um pequeno erro que sucumbe em razão de um bem maior petista - pro bolso deles.
Salve Dom Lulla, o amigo dos cri, digo, do povo!

Reginaldo Almeida disse...

I beg to differ.

Não é porque o Brasil é uma enorme casa da mãe Joana que vamos olhar para o outro lado quando os maconheiros passarem.

O errado é o consumo não ser crime e lugar de vagabundo maconheiro é na cadeia!

Mas apologia a qualquer coisa que seja, desde o uso de cartao corporativo para aplicar botox, até a despenalização do narcotráfico, são exatamente isso, apologia ao crime. E não podemos exatamente comparar crimes do colarinho branco com o narcotráfico.

Quem sabe em lugar de proibir, eu fotografaria a todos eles e colocaria no meu blog: "Este maconheiro trabalha pra você" debaixo de cada foto.

Em geral, e no Brasil em particular, os vagabundos adoram se esconder no anonimato das aglomerações mas se cada um for "singled out", num instante colocam o rabinho entre as pernas.

Rienaldo Silva disse...

Caso o Judiciário, não cumpra o papel de interpretar as leis, "apologia as drogas", daqui a pouco vamos ter a marcha do crack, da heroína, do ecstasy, da cocaína e por aí vai, e não poderemos fazer nada, pois abriu-se um precedente.Não é uma questão de Estado, mas de interpretação das leis e da nossa constituição, e cabe ao Judidciário.

Gravatai Merengue disse...

Proibir a marcha é burrice e é ilegal. A maconha não é proibida em razão de Lei, mas sim de Portaria Ministerial. Cabe ao Ministro da Saúde (e muito pouca gente sabe disso) definir quais são os entorpecentes que serão abarcados pela tal "Lei dos Tóxicos".

Ele pode - e sem nem consultar o Lula (não que isso fosse de alguma valia científica) - simplesmente acordar num belo dia e tirar três narcóticos da lista. Publica no Diário Oficial e tá valendo. Todo mundo que foi pego com aquilo - usando ou vendendo - sai da cadeia (a Lei Penal retroage se for para o benefício do réu).

Bizarro, né? Brasil. O país-gambiarra. Nosso sistema legal é um bombril na antena de uma telefunken.

Rose disse...

Desta vez preciso discordar de você. Drogas são ilegais. Maconha é droga. Fazer apologia do uso de maconha, portanto, é crime.

É bom saber que pelo menos uma parte dos poderes públicos, uma parte da Justiça, está trabalhando, está atenta e disposta a agir em defesa da Lei.

É uma gota num oceano de crimes, mentiras e insensatez? É. Mas os honestos, os corretos devem fazer a sua parte, para não serem acusados depois (principalmente por suas próprias consciências) de omissão ou indiferença.

Jorge Nobre disse...

"No Brasil, pode-se fumar maconha à vontade - só não pode falar no assunto."

Só aqui? Eu acho que uma marcha dessas também seria proibida na América, ou na Europa. E o povão lá é tão ou mais doidão que o brasileiro - na verdade, começamos a ficar doidões importando a doideira deles. É uma tradição nossa só importar o que não presta dos países ricos.

Eu sou contra a legalização de qualquer droga, porque se forem legalizadas acabarão nas mãos de crianças. É verdade que já acabam, mas legalizadas seria ainda mais fácil.

Daniela disse...

Xiii

Lendo dos comentários abaixo percebe-se que você está no lado aposto da maioria dos seus leitores.

(N.G.: às vezes acontece, Daniela. E eu posso dizer que, depois de cinco anos, sei exatamente que tipo de post vai ou não desagradar a maioria dos meus leitores. Mas nem por isso deixo de dar a minha opinião. Pode ser um defeito ou uma qualidade - ainda nao descobri - , mas eu não jogo para a torcida.)

marie tourvel disse...

Que bom que não escreve para agradar, Nariz. Em todo caso, só para constar, embora eu não tenha o menor apreço por droga nenhuma, não me incomoda nem um pouco a marcha. Não participaria, mas fico com a liberdade de expressão. Sempre.

FDR disse...

Trabalhinhos comunitários, Nariz? Imagina ter que trabalhar com o Silvinho Pereira! :-)
Bjs,

Blog & Roll disse...

Também concordo com você NG!A Constituição Federal garante o direito ã "LIVRE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO" e eu também não participaria de tal marcha.

Eric Maheu disse...

Erradissimo o Jorge Nobre quando diz que uma tal marcha seria proibida na América do Norte o na Europa. Essa marcha não é uma invenção brasileira. É um fenômeno mundial e acontece em centenas de cidades em numerosos países democráticos (salvo os países baixos onde não teria sentido manifestar).

Com essa proibição o Brasil se iguala a Cuba e a China onde só é permitido manifestar a favor das leis e do poder...

Com esse lógica que a manifestação, por veicular um um discurso contrario a lei, é apologia ao crime, poderia se proibir qualquer contestação das leis atuais. Assim melhor fechar o parlamento.

Fabio Tagiavini Neto disse...

Podem anotar , chegará em breve o dia que serei obrigado a apagar meu cigarro pq só haverá área para fumantes de maconha e que abrirei a Vejinha e terei q consultar os três lugares heteros que ainda poderei frequentar.País estranho este!!!

Fabio Tagiavini Neto disse...

Kika , adorei oquê você escreveu , mas temo que a jurisprudência já se faz presente.
Kika e N.G. , me ajudem , please!!!!
Quero ser minoria , é o bicho , faz oq quer e não tem deveres , manda uma idéia pra mim?
Está mente conservadora não consegue resolver a problemática sozinha.

Bom dia as duas.