segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Para a História

O primeiro mandato de George W. Bush teve início em 14 de setembro de 2001. Ali, sobre os entulhos ainda fumegantes do World Trade Center, abraçado a Bob Beckwith - bombeiro aposentado, que acorrera ao local nas primeiras horas da tragédia - Bush falou de improviso. Mal começara a discursar e alguns dos presentes - trabalhadores e voluntários, que há mais de 72 horas, moviam entulho e contavam corpos - reclamaram do megafone: "Não conseguimos ouví-lo, presidente!". Prontamente, Bush respondeu: " Mas eu posso ouví-los. E o resto do mundo está ouvindo vocês. E as pessoas que derrubaram esses prédios vão ouvir-nos em breve!’’ Em resposta, os presentes começaram a gritar "USA, USA!". Foi um momento emblemático, capaz de erguer a moral da nação e lustrar a imagem de um presidente que, até então, se mostrara totalmente apagado.

Pois o segundo mandato de George W. Bush encerrou ontem quando, aos gritos de "É o beijo de despedida, seu cachorro!", um jornalista iraquiano tentou atingí-lo com um par de sapatos. Apesar da péssima pontaria, o iraquiano não deixou dúvidas sobre a sua intenção: dirigir a Bush, diante da imprensa mundial, uma das maiores ofensas da cultura árabe. Foi outro momento emblemático; uma despedida melancólica, a altura da imagem internacional coquistada por Bush ao longo dos seus oito anos de poder.

Qual das duas imagens receberá maior destaque no futuro é coisa que dependerá - como sempre - do ponto de vista a partir do qual a história será contada. Fora dos EUA há grandes chances de que a sapatada leve a melhor. Internamente, porém, o discurso daquele fatídico 14 de setembro tende a prevalecer. Não só porque a cultura americana se alimenta do heroísmo mas, sobretudo, porque Bush foi rápido e esquivou-se da sapatada. E eu não estou falando somente da agilidade com a qual o presidente evitou o impacto... Me refiro, também, a sua declaração logo depois do ocorrido: "Esses atos não me preocupam, quem faz isso quer chamar atenção.".

É uma declaração simples, que carrega duas verdades. A primeira, e mais evidente, é que, graças à ocupação promovida por Bush, o jornalista iraquiano não irá para a forca. A segunda, e bem mais pragmática, é que esta sapatada não não vai impedir a redemocratização do Iraque. Porque, a despeito de toda a inegável tragédia da guerra, esta sapatada carece de uma unanimidade que possa lhe conferir alguma força. Ao contrário daquele discurso de 14 de setembro de 2001, esta sapatada não tem o poder de aglutinar uma nação - seja ela os EUA ou o Iraque - em torno de uma causa.

3 comentários:

Márcio Guilherme disse...

Do Bush, a imagem que fica, pra mim, é a dos sete anos que se passaram entre o "I can hear you" e a sapatada - sete anos da mais pura e completa incompetência.

marcelo disse...

realmente, os americano cultivam o heroísmo e também o patriotismo, que falta a nação tupininquim.

infelizmente, o bush foi para os americanos um presidente similar ao que o presimente está sendo aos brasileiros.

bom agora o bode está saíndo da sala e vamos ver o que o "the one" fará pela américa do norte. apesar que começou tropeçando e segue tropeçando (episódio do leilão do cargo de senador pelo governador do estado.

do abc que não é o berço do lula nem do pt

Claudio disse...

Grande post. Devidamente linkado.