sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Buraco sem fundo

Repita comigo, leitor: "pobreza intergeracional".

É com esta novidade que o ministro Desenvolvimento Social e Combate à Fome pretende compensar uma notícia para lá de previsível: a grande maioria dos usuários do Bolsa Família não tem o menor interesse em abandonar a teta. Das 185 mil vagas em cursos profissionalizantes gratuitos, apenas 9.530 foram preenchidas. O início das aulas - previsto para fevereiro - foi adiado para março.

Diante de números tão reveladores, e das críticas do colega Mangabeira Unger, Patrus Ananias saiu-se com uma petistada. Ao admitir que boa parte dos 11 milhões de beneficiários da mamata jamais largarão o osso, ele explicou: "Estamos trabalhando para seus filhos, netos. Para quebrar a pobreza intergeracional."

E eu fico aqui, morrendo de orgulho do bisnono e da bisnona que, lá pelos idos de 1880, chegaram no Rio Grande do Sul embalados pela promessa de terras. E que tudo o que ganharam foi um facão com o qual deveriam enfrentar a mata fechada, o frio e os índios da serra gaúcha para chegar no tal "pedaço de terra" - uma pirambeira desgraçada cujos penhascos, como dizia o bisnono, "só dava para semear à tiro de Beretta".

Tinham a companhia de uma dezena de casais e algumas famílias que, como eles, haviam caído de gaiatos no conto do Império. Juntos - sem Ananias, PT ou Bolsa Família - eles construíram uma das regiões mais prósperas do país. E levaram três gerações para quebrar, com o suor do próprio rosto, a tal da 'pobreza intergeracional' - eu, meus irmãos e meus primos fomos a primeira geração a conquistar um diploma universitário.

Se eu quero que todos passem tanto trabalho quanto o bisnono e a bisnona? É claro que não. Não desejaria a ninguém o que eles passaram - o inverno da serra gaúcha, não sei se vocês sabem, pode ser tão ou mais rigoroso que a seca nordestina.

Quero apenas que as pessoas trabalhem para merecer o que comem. Porque acredito que esta antiga e simples didática - de trabalhar para comer - forja grandes homens, mulheres e nações. E os números, por mais que tentem maquiá-los com novos e complicados termos, não me desmentem: o Bolsa Família é uma chocadeira de vagabundos.

19 comentários:

Gili disse...

É isso aí, NG.

Trabalhar para comer foi o que aprendi com meu pai, português, e o outro lado da família de longínquos suíços, cariocas.

Um abraço.

Sharp Random disse...

Muuito bom. Primoroso.
Essa foi dharma.

Abraço, NG.

HAGG disse...

Uma chocadeira de vagabundos e um curral eleitoral. Esse negócio de trocar voto por comida é muito antigo.

Renato Byrro disse...

Ótimo post!
Parabéns!
É preciso combater a falta de vontade, é preciso mostrar às pessoas que elas podem ser donas do destino de suas vidas. Enquanto acreditarem cegamente nas crenças de que dependem de um ente superior (seja sobrenatural ou não, como o Estado) para melhorarem suas vidas, continuarão na mediocridade, pois nada terão forjado com suas próprias mentes e suor.
Um abraço,
Renato

neanderthal disse...

É, esse paternalismo de esmolas é pai d vagabundagem generalizada. Quem, analfabeto funcional, trocaria a esmola constante pelas responsabilidades do trabalho árduo e produtivo? É mais fácil encher a cara de cachaça e jogar nas loterias oficiais e tele senas da vida na esperança de conseguir um dinheiro extra.É a velha piada do preguiçoso a ser enterrado vivo. Se a comida não vier pronta, segue o enterro. Enquanto isso, distribuindo os restos da mesa, a zelite e o presimente vão se fartando dos acepipes do "pudê". E dá-lhe nepotismo, cargos de confiança, transposição de rios, estradas internacionais, e acobertamento de criminosos.

FIXtheMAD disse...

Fantástico texto.

marie tourvel disse...

E a partir de agora, Nariz, querida, com essa crise é que vamos começar a pagar a conta dessas bolsas-cruzcredo. Enfim, o gasto público pra lá de exagerado deste desgoverno. E com Batistti entre nós, graças ao pai da Luciana Genro. Lazy.

Um grande beijo.

Gil disse...

Sem querer me queixar, pois trabalhei dos 12 aos 63 anos, hoje já não mais podendo por conta de varios problemas de saúde, concordo plenamente com o texto do autor principalmente no que se refere á "chocadeira de vagabundos".Acho que a distribuição governamental de bolsas familia deveria estabelecer critérios para que o individuo pudesse parar de receber o beneficio o mais rápido possivel.Mas, como todos sabemos que a intenção verdadeira do governo não é essa e sim a compra de votos do vivente dependente fica dificil reverter o quadro, principalmente enquanto esta camarilha permanecer no poder.

Star disse...

Nariz, eles não vão entender que se somos a "elite" é porque nossos bisas e avós comeram o pão que o diabo amassou.
Pobreza Intergeracional = Eles são indolentes, pouco chegados ao trabalho e sacrifício, vendem os filhos como se fossem galinhas, quando arrumam um trabalho se mutilam pra viver na aposentadoria e aceitam qualquer boquinha pra fazer nada... Isso não é exclusão, é preguiça mesmo.

Pior mesmo é que gente desse nipe esta no governo do país

jml disse...

Eu só não sei se o Autor da frase foi Patativa do Assaré ou Luiz Gonzaga, mas ela, proferida já vai anos, continua perfeita:
"Seu dotô, dar uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão".
O PT está, na verdade, viciando toda uma geração.
Quem quer trabalhar, quando o governo está ai para estender a mão, por conta da "pobreza intergeracional" ?
Qual a necessidade de se sacrificar, suar o rosto e as mãos ?
O PT não quer, nem de longe, forjar "grandes homens, mulheres e nações".
Quer viciar e, desta forma, controlar.
Esta tática não é, em absoluto, privilégio nacional.
Ao contrário, está sendo posta em prática em toda a América Latrina, ops, Latina, por meio de políticas assistencialistas, cujo ÚNICO objetivo é fidelizar o eleitor mais humilde.
É assim que Chavito, Evito, Correia e outros menos conhecidos crescem e se mantêm no poder.
Nosso estimado líder só está seguindo a cartilha da esquerda.
O que me espanta é somente o ministro Desenvolvimento Social e Combate à Fome (como é o nome dele mesmo ? - Duvido até que os petistas mais ortodoxos e fervorosos saibam os nomes de todos os ministros. Tem senador e dublê de cantor que não sabe) ainda vir a público tentar justificar tal fato...

Sharp Random disse...

Buraco sem fundo
Por Raymundo 23/01/2009 às 21:20

Repita comigo, leitor: "pobreza intergeracional".

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/01/439002.shtml?comment=on#comment

NG, a delinquência intelectual é uma merda, não ?

(N.G.: valeu, Sharp. Já tinham me avisado. Vou lá dar um esporro no cara.)

R. disse...

Querida, por falar no Bolsa Família, dê uma olhada nesta reportagem da Folha de hoje (acho que é só pra assinantes) sobre o gato -bicho- que recebia dinheiro do programa:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2401200905.htm

Será que a "pobreza intergeracional" felina vai acabar também? (= Beijo!

(N.G.: ai, eu vi sim, R. Já estou com um slogan 'óootemo' na manga. Posto daqui a pouco.)

Josemar Leite Preté disse...

Excelente texto, principalmente a última frase!

Zinha disse...

Boa Noite a todos.

Adorei seu comentário, NG! Corretíssimo!
Já soube inclusive de casos de nordestinos que moravam aqui em S Paulo, tinham emprego e moradia, mas que voltaram para a "santa terrinha",pois agora eles poderiam viver por lá com a ajuda do governo...
É isso aí: se pode comer de graça, por quê vai comprar, né não?
Isso é o nosso país...para nossa vergonha!
Abç
Zinha

Da C.I.A. disse...

Off Topic: O que houve com o Apostos?

On Topic: Excelente post. Mas tem gente que ainda defende o Bolsa Família, desde o povo que pode suceder Lula até mesmo aos seus vizinhos de condomínio. Ou seja: A gente tem que engolir o Bolsa Família, ele veio para ficar.

(N.G.: um pequeno problema técnico na página inicia. Já foi corrigido.)

HAGG disse...

Plantar a tiro e colher a laço. HAGG também é oriundi.

Raquel disse...

Nariz,
eu sei que deveria chorar pois já estamos sustentando os vagabundos, mas dei risada com o "chocadeira de vagabundos"!

Antonio disse...

Este programa federal de compra de votos "o bolsa(voto da) família" - vai continuar estimulando a vagabundagem de tal maneira que vai chegar a hora em que quem o está sustentando (o contribuinte) vai perceber que pode valer mais a pena receber o bolsa-voto do que batalhar no processo produtivo. Esta é a política dos sonhos de todos os imprestáveis. Passar o resto da vida sendo sustentado pelos outros e fazendo filhos para receber uma bolsa cada vez maior e assim manter o curral eleitoral dos comunistas (com o suor dos capitalistas) bem providos de votos.

Alfredo Franch disse...

Parabéns pelo texto!
Imprimi e mostrei para amigos bem intencionados - desses que ajudam a pavimentar a entrada do inferno - simpáticos ao bolsa-família.
Ficaram todos sem resposta.
Amigo bem intencionado, falando displicentemente: O bolsa família não é tão ruim assim.
Eu sacando o antídoto NG: leia isso.
Amigo bem intencionado: Glupt.
Eu: Gaguejou, perdeu!