sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Herança maldita

Outro dia, uma amiga querida me disse que o grande problema da clandestinidade é a frouxidão de valores que ela promove. Hoje o sujeito assalta um banco para financiar a guerrilha. Amanhã, ao ver a família de um companheiro em sérias dificuldades financeiras, pensa " por que não?" A partir daí, vale tudo.

Estava certíssima.

Quem já experimentou as facilidades do 'vale tudo', quem já pôde infringir a lei sob a proteção moral - ilusória ou não - de uma nobre causa, terá dificuldades de abandonar os velhos hábitos. Melhor ainda: estará inclinado a retomá-los tão logo se apresentem as primeiras dificuldades.

Sob tais condições, resisitir à tentação de burlar a lei exige uma rara firmeza de caráter. E se ela é rara para ex-presidiários - razão pela qual, por mais que se queira acreditar na capacidade de recuperação do ser humano, nós sempre os tememos - por que não o seria para ex-guerrilheiros? Aliás, a razão pela qual um ex-presidiário precisa de campanha para ser agraciado com alguma credibilidade enquanto um ex-guerrilheiro é conduzido, sem maiores percalços, ao poder deveria ser objeto de estudo. Por que a verdade é que não há razão concreta para aceitarmos que o primeiro tenha mais inclinação ao crime do que o segundo. E a impunidade proporcionada pela anistia nos dá liberdade para concluir justamente o contrário: quem não respondeu pelos crimes cometidos é que costuma levar para vida a sensação de que o crime, afinal de contas, compensa.

Tudo isso já seria grave o suficiente sem que este pessoal tivesse feito escola. Mas quando fica claro que os clandestinos de ontem geraram herdeiros ideológicos, portadores de uma moral torta, incapazes de agir dentro das regras do jogo democrático, só podemos concluir que danou-se.

Um comentário:

Fernando Sampaio disse...

Nariz Gelado,
Não sei quem você é mas sou seu fã.
A New Criterion, na minha opinião uma das melhores revistas do mundo traz uma série de artigos sobre o relativismo cultural que assola o planeta. Fala especialmente sobre as consequências morais desse relativismo, como por exemplo de crimes que deixam de ser crimes dependendo do ponto de vista...
Dá pra ler no site alguns desse artigos.
Um abraço
Fernando