Nenhuma surpresa

Há coisas sobre Gaza que não podem nos surpreender. Marco Aurélio Garcia - assessor especial de Lula e amigão das FARC - dizendo que Israel faz terrorismo de Estado, por exemplo: não pode surpreender ao mais desatento dos observadores. Quando foi que este senhor se mostrou contra o terror? Típico exemplar do esquerdista bem-passado, Garcia se alinha a qualquer bestialidade que rosne contra o capitalismo. E Israel - quantas vezes já falamos isso a respeito da esquerda em geral ? - lhe incomoda não só por ser uma próspera democracia capitalista no Oriente Médio mas, sobretudo, por ser aliado dos EUA. Surpresa alguma, portanto.

Também não pode nos surpreender a nota do PT que qualifica a ação de Israel como "uma prática típica do exército nazista". Ora bolas... Desde a sua fundação que o PT advoga em favor da causa palestina - e suas razões não são diferentes daquelas atribuídas a Marco Aurélio Garcia no parágrafo anterior. O PT joga para uma torcida que baba sempre que o capitalismo é afrontado. Uma posição que o partido só negocia nos casos em que obter gordas doações dependa de adotar uma postura mais moderada. Mas tais guinadas discursivas, além de raras, são sempre rapidamente revertidas por declarações bombásticas das facções mais radicais que, em momentos assim, assumem as palavras que a direção do partido está impedida de sustentar.

Igualmente, não podemos nos admirar da militância de esquerda que - aqui ou lá fora, em blogs ou nas ruas das grandes cidades - sob o manto do 'pacifismo' dirige aos judeus palavras de ordem preconceituosas, passíveis de prisão em países (sérios) onde o racismo é crime.

Por que nos surpreenderíamos com tudo isso? Respeitadas raras nuances, a esquerda ocidental e seus líderes se encaixam naquela descrição lá do primeiro parágrafo. Podem se manter quietos por longos períodos - passando a impressão de que estão mais calmos. Mas basta uma crise para que venham às ruas mostrar sua verdadeira cara - que, hoje, é de apoio ao islamofacismo, mas que em todos os tempos sempre foi de comunhão com qualquer violência não institucionalizada. Qualquer bando de guerrilheiros, que ande provocanco matanças em nome do combate ao 'sistema' - como isso soa velho, não? - pode contar com o apoio dessa gente.

Por aqui, o PT é sempre o melhor exemplo do pior da esquerda. Alguma vez Marco Aurélio Garcia se manifestou contra a matança genocida em Darfur? Em alguma ocasião o PT emitiu nota de desprezo à doutrinação de crianças para o martírio (veja os vídeos aqui) promovida pelo mesmo Hamas que ele tanto se orgulha em apoiar? Alguma vez as mulheres petistas a foram às ruas para protestar contra a mutilação feminina, esta prática africana milenar, que foi assimilada cruelmente pelo islamofacismo?

Se é que existe - e tudo indica que sim -, a esquerda que não comunga deste oportunismos revolucionário irresponsável é silenciosa demais. Me parece que, em momentos como este, eles preferem ficar escondidos em casa - não sei se envergonhados com a performance dos companheiros ou se acovardados pelo patrulhamento que, fatalmente, sofreriam se assumissem uma posição contrária. O que sei é que se não se fazem representar estas raras nuances da esquerda não podem ser consideradas. Pelo menos não até que sua voz ecoe forte o suficiente para avisar da sua existência.