sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O martelo de Tarso

É claro que vocês já sabem: o pugilista cubano Erislandy Lara - que Tarso Genro devolveu, na calada de um final de semana, para o companheiro Fidel Castro - afirma que, antes de ser sumariamente deportado, pediu asilo político ao Brasil.

À época, toda a torcida do Flamengo já desconfiava de que algo assim havia ocorrido. Mas, no momento em que tais desconfianças ganham consistência nas palavras de uma das vítimas, Tarso Genro quer que ignoremos todas as evidências para acreditar em um exercício de lógica dos mais fajutos.

O ministro cita o tratamento concedido a outros cubanos como prova de que os boxeadores não fizeram tal solicitação. Para o Ministro da Justiça (vallha-me Deus!) os fortes protestos da embaixada cubana no Brasil contra o refúgio concedido a um jogador de handebol, um ciclista e três músicos prova, por si só, que o processo com os boxeadores foi encaminhado corretamente - e que quem pede asilo, ganha.

Uma argumentação indecente, um desrespeito à inteligência alheia que, eu espero, o bom articulismo brasileiro não deixe passar em brancas nuvens.

Porque ocorre, meus caros, que a cronologia dos fatos demonstra justamente o contrário: que o comportamento do ministro cambaleou entre os humores castristas e a opinião pública nacional. Vejamos:

O ciclista Michel Fernandes García e o jogador de handebol Rafael da Costa Capote abandonaram a delegação de Cuba na primeira quinzena de julho - Rafael, mais precisamente, em 12 de julho. Dois dias depois, foi a vez do técnico de ginástica artística Lázaro Lamelas fazer o mesmo. Nenhum dos três, ao que se sabe, foi perturbado pela Polícia Federal.

No dia 21, foi a vez dos boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara desaparecem da Vila Pan-Americana. Ninguém ainda sabia o paradeiro de ambos quando, no dia 23, Fidel Castro declarou "Nos acertaram um golpe direto no queixo, promovido por norte-americanos". Mais um dia e o Granma, jornal do Partido Comunista de Cuba, publica um texto no qual Lula se diz triste e indignado com a situação. Em 29 de julho, a delegação cubana, temendo outras deserções, abandona o Rio às pressas.

Tudo foi silêncio até 2 de agosto, quando Rigondeaux e Lara são presos em Araruama e, 48 horas mais tarde, enviados para Cuba em avião venezuelano. Mas somente no dia 7 o ministro se dignou a falar oficialmente sobre o tema.

Em 28 de setembro, O Comitê Nacional para Refugiados (Conare) aprovou o pedido de refúgio do jogador de handebol Rafael da Costa Capote e do ciclista Michel Fernandez García. Não encontrei notícias de Lázaro Lameras, técnico de ginástica olímpica que, inicialmente, estava aguardando asilo em Jaguariúna/SP.

Já o caso dos músicos cubanos - Arodis Pompa, Juan Diaz e Miguel Costafreda - foi só em dezembro. Mais precisamente, em 15 de dezembro - três meses depois do banzé com os boxeadores ter obrigado Tarso a explicar-se no Senado.

Se, conforme alega Tarso Genro, a diferença de tratamento entre um desertor e outro é prova passível de ser considerada, temos que admitir que a evidência cronológica depõe contra a versão do ministro. Em princípio, o Brasil agiu diplomaticamente com os atletas desertores. Mas tão logo Fidel Castro estrilou, os próximos a desertarem - os boxeadores - foram caçados e deportados na calada da noite. Na seqüência, diante barulho provocado pela opinião pública, Tarso Genro se viu forçado a recuar em sua mal disfarçada tendência castrista - o que explica o tratamento dispensado aos músicos.

O que Tarso Genro espera com esta patacoada é exatamente aquilo que ele, no final de sua entrevista ao Estadão, atribui aos seus crtíticos: martelar tanto uma inverdade que ela acabe se transformando em verdade. Afinal de contas, quem tem martelo é ele.

5 comentários:

jml disse...

Clap, clap, clap (palmas, NG).

Fantástico artigo.

Mereceria ser lido nas escolas e faculdades, principalmente de Direito.

(N.G.: vindo de você, J, o elogioé uma honra. )

Philippe disse...

Perfeito!
Eu fico aqui pensando: será que os policiais que prenderam os boxeadores tem algo a dizer?
Abraços.

Jorge Nobre disse...

Essa canalha não sabe mais nem cometer crimes direito!

Claro, pode ser também porque estão mal acostumados: afinal, aqui nem a oposição nem a imprensa pega pesado, como eles merecem.

HAGG disse...

Tarso Genro é muito mais competente do que a oposição em queimar o filme do governo. Deixa ele lá ...

Pedrão disse...

O paraíso cubano é muito bom para a pequena elite do partido comunista que manda e desmanda. Os oprimidos querem cair fora.