sábado, 9 de abril de 2011

Aos loucos o que é dos loucos

Wellington era louco. Wellington era maluco. Wellington era lelé-da-cuca.

Não mão de um louco como Wellington, faca de cozinha é arma, isqueiro é arma, motosserra é arma, automóvel é arma.

Na cabeça de um louco como Wellington, internet é combustível, vídeo-game é combustível, bullying é combustível, religião é combustível.

Portanto, sejamos decentes para admitir a única coisa que poderia, de fato, ter evitado a tragédia de Realengo: a ação de alguém próximo a Wellington que, ao dar-se conta de que ele estava enlouquecendo, tivesse providenciado sua internação.

O resto é coisa de quem não tem vergonha de se aproveitar de uma tragédia como essa para balançar a bandeira de sua preferência.

Obs: com a migração para o Blogspot, os comentários deste post tiveram sua data original alterada. Fique registrado que todos foram feitos entre os dias 09 de abril e 05 de maio.

14 comentários:

Fatima Teixeira Neves disse...

Concordo. Não havia como prever esta ação de Wellington, por mais que apresentasse comportamentos estranhos, não havia justificativa para internação, ainda mais levando-se em consideração a política de Saúde Mental existente.

Marcel disse...

Exato.

Faltou um amigo, nem que fosse pelo emessene.

E devem ter sobrado “Do it faggot!”s nas possíveis visitas de Wellington ao 4chan.

Paulo Y disse...

Me diga uma coisa. Quem é o tipo de pessoa indicada para internar alguém próximo? Por exemplo, se eu, o cara mais pacífico do mundo, me tornar um problema para o Estado, um assistente social não pode de repente me encontrar na rua por uma coincidência da vida bem bestinha e, sabendo que eu sou louco (ou perigoso para o Estado, jornalista, professor, ativista de qualquer coisa, tanto faz), vai e me interna? Ou alguém comprado? Se o cara não tem família, fica mais fácil até, né? Pode ser um vizinho, um desafeto? Qual seria a reação de uma pessoa inocente ao ser alvejada por bombeiros, policiais, enfermeiros, em sua casa de repente? Se morar sozinho? Se tiver poucos amigos? Quem poderá depor em seu favor? Qual psiquiatra hoje ouve pacientes por mais de 5 minutos? Depois de uma série de remédios, solidão, indignação, desespero, alguém tem como se recompor?

Tese maluca a sua. Agora, quantos caras desse aí fizeram atentado nesse país? É o primeiro.

Uma tese como a sua não salvaria ninguém e ainda pode ser uma maravilha para qualquer regime totalitário. Foi assim na Alemanha, foi assim na União Soviética, e é assim em Cuba.

TONHÃO de TéRêsina disse...

O pior NG são os “Wellinton” da politica que matam diariamente centenas de crianças, desviando verba da merenda escolar, educação, saúde, segurança, fazendo obras super faturadas, comprando com notas frias, gastando sem reservas o dinheiro público.
E se mantem livres, leves e soltos, porque não fizeram isso tudo com uma arma não e assim não provocaram a indignação do povo.
Uma lastima, uma vergonha

nelson disse...

alvíssaras! estava com saudades dessa lucidez. ver esse povo do viva rio, oab, cardozos e quejandos usando a tragédia para fazer seu proselitismo, dá nojo.

Itamar Piffer disse...

Análise curta e perfeita.
só falto o c.q.d. do final de um teoremoa em matemática.
Grande
Abraço

Grazi disse...

Ah, nariz gelado!!!!!!!!
Escreva mais para nós!!!!

Cristina disse...

Isso mesmo….deveriam saber que os políticos não são diferentes do Wellington quando roubam educação, saúde e cidadania. Matam do mesmo jeito……

marcelo disse...

esse bando de oportunistas tudo fará para completar o esquema facilitador da eternização no poder.

CarlosZ disse...

A sociedade brasileira é um ser doente em acelerada decomposição rumo a falencia multipla dos órgãos.
Já não há muita coisa que possa ser feita… loucos e mais loucos são despejados neste convívio a cada dia.
A unica coisa que podemos fazer é cuidar com amor e carinho daqueles a quem Deus nos aproximou e isto foi a principal falta que levou Wellington a fazer o que fez.

Aldo disse...

“Portanto, sejamos decentes para admitir a única coisa que poderia, de fato, ter evitado a tragédia de Realengo: a ação de alguém próximo a Wellington que, ao dar-se conta de que ele estava enlouquecendo, tivesse providenciado sua internação.”

Cara nariz, sinto lhe dizer, mas nem isso seria possível, graças ao Políticamente Correto que hoje destrói ese país. Não sei se já ouviu falar no Movimento antimanicomial? Bom, sou médico psiquiatra já há 30 anos, e bem sei que muitos manicômios eram meros depositários de infelizes, muitos dos quais eram maltratados ou recebiam tratamento de eletrochoque de forma não indicada. Porém toda uma corrente denominada antipsiquiatria se formou, principalmente nos EUA nos anos 60 (em que outro período seria??), bebendo em fontes como Marcuse, Althuser e numa visão deturpada de Lacan. Essa corrente não via a loucura (mesmo os graves casos de esquizofrenia que envolvem uma completa distorção da percepção da realidade) como patologia, mas apenas como uma variante do que se “convencionou” normal. Dito isso esse movimento chegou ao Brasil e na política de jogar o bebê junto com a água do banho, ao se tornar abase das políticas públicas no tratamento psiquiátrico, fechou a maioria dos manicômios, jogando para as famílias, ou simplesmente jogando ao léu, dezenas de milhares de esquizofrênicos, pessoas com distúrbio da personalidade, retardados mentais severos. Isso acarretou uma veradeira tragédia social, milhares de famílias tiveram suaus estruturas desfeitas, pois não tinham condições de arcar psicologicamente com pessoas com tais distúrbios (houve um caso que acompanhei de um pai, que tamanho desespero chegou, que teve que matar o próprio filho esquizofrênico, pois esse iria matar suas filhas menores).Outros passaram a engrossar a lista de andarilhos e sem-teto , aumentando os grupos de zumbis que vagam pelas carcolândias Brasil afora. Portanto, internações psiquiátricas hoje são consideradas tabu pelo sistema de saúde.mesmo sendo diagnosticado como sendo uma pessoa com sérios distúrbios mentais, e mesmo tendo um laudo psiquiátrico para tal,uma pessoa não pode ser mais internada contra a vontade.Enem adianta entrar na justiça, pois o hoje badalado Direito Alternativo comunga da mesma fé da antipsiquiatria.(lembre-se do triste caso daquele assassino de Goiás que estuprou e matou seis rapazes, que foi posto em liberadde por uma juíza mesmo com o parecer negativo de uma avaliação psicológica, do memso modo a família de minha esposa viu uma tia morrer lentamente de anorexia pois a mesma não aceitava ser internada e nada podia ser feito).Desculpe a prolixidade, mas infelizmente certops aspectos de nossa sociedade se degeneraram a um ponto que poucas palavras já não são suficientes para tentar explicá-las.
Abraço.
PS- volte a escrever mais, a blogosfera ficou mais burra com a sua ausêcia

Irene Soares disse...

Se o levassem a um hospital público, dariam uma injeção “sossega leão” e mandariam para casa.

Isa disse...

Que bom que voltou!

Não concordo com tua linha de raciocínio. Pela carta (e antes dela) penso que faltou sociedade, faltou Estado, educação, segurança, saúde. Ausentes todos os suportes sociais e governamentais que nos mantem estáveis e viventes.
Estamos cada vez mais individuais, ensimesmados, doentes, reflexo de uma sociedade sem norte, sem limites, sem ética.
O nosso atual Estado é já um manicômio a céu aberto. Ninguém mais escuta ninguém, reflete sobre coisa alguma, todos donos de verdades impermeáveis e permanentes. E medo, muito medo desta “coisa” que se apoderou dos corações e mentes que agora dá as cartas na Nação.
Escreva mais, fique também por aqui!!!!
Abraço

João Costa disse...

Oi, NG, que bom que você voltou.
Infelizmente, tenho que concordar com o dr. Aldo. Hoje em dia não é possível internar quem mais precisa de internação. O Movimento Antimanicomial tomou tal proporção que mistura o horror dos antigos manicômios com a impossibilidade de um ser humano não poder conviver com a sociedade por total dissociação da realidade.
O mais grave: tais indivíduos são jogados nas mãos das famílias que, definitivamente, não estão preparadas para lidar com isso. Por exemplo, os Caps (Centro de Atenção Psicossocial) realizam sessões de terapia em grupo com familiares de pessoas atendidas pelas unidades. Porém, trabalham num horário pré-determinado, em geral comercial: das 9h às 17h ou 18h. E aí? Como fica? Como explico pro meu chefe que preciso ir ao Caps uma vez por semana às 16h, toda semana, para fazer terapia em grupo pra lidar com a minha sogra com transtorno bipolar? Você acha que ele vai entender, apoiar e incentivar minha saída semanal? Agora, tente sugerir para esse pessoal do Caps fazer essa terapia após as 19h, que é quando a maior parte das pessoas já está fora do trabalho. Você acha que eles vão topar? É só ir a um Caps (se o encontrar) e ver a grade de horários.
Concordo com você, faltou alguém próximo para ajudar o cara a fazer o que é preciso. E esse alguém, no caso a família, também não encontra alguém que possa fornecer ajuda. No papel, o Caps é lindo…