O que explica o sucesso de Celso Russomanno é menos simples,
embora constrangedoramente óbvio. Passa menos pelo poder de capilaridade dos
obreiros da igreja e mais, bem mais, por uma construção discursiva que apela ao
senso comum. E o faz com tamanha
competência que dificilmente poderá haver alguma mudança drástica no quadro
eleitoral de São Paulo. Ao contrário: no
segundo turno, com mais tempo de TV, é bem provável que o sucesso deste
discurso se consolide de forma irreversível já na primeira semana.
Não é difícil perceber como as coisas chegaram a este ponto.
Basta se despir da arrogância que costuma pairar sobre os QGs de campanha e lembrar
que não há focus melhor do que o
ibope da TV aberta. Basta se desfazer
dos muitos vícios adquiridos por quem é ou foi governo – os vícios advindos do
profundo conhecimento da máquina e seus entraves – e reaprender a arte de fazer
promessas. O sucesso de Russomanno pode, sim, ser um pouco humilhante para os experts de plantão. Mas nada tem de
misterioso.
O que temos no primeiro ato? Russomanno na televisão, em defesa
do consumidor. Ali, desde a época do SBT, ele construiu um capital simbólico
poderoso porque palatável ao senso comum: o do homem simples que, uma vez que
tem em mãos o poder de denúncia de uma câmera de TV, aponta injustiças e erros
clamando por solução. As vítimas pertencem, é claro, a camadas populares da
população. As soluções são simples:
Russomanno não faz nada diferente do que qualquer um de seus telespectadores
faria se estivesse em seu lugar. Bate pé, diz que o problema precisa ser
resolvido de uma vez por todas e, se preciso, chama a polícia.
No segundo ato, temos Russomanno candidato a prefeito, diante
de uma câmera de TV, apontando problemas e apresentando soluções. O modelo é o
mesmo do ato um. O que Celso Russomanno faz
como candidato é exatamente o mesmo que fazia como jornalista. Não houve a
necessidade, e nem o risco, de que sua audiência tivesse que se adaptar a um
novo Celso Russomanno, investido do papel de prefeito. Neste papel, ele segue
fazendo o que qualquer um de seus telespectadores faria se estivesse em seu lugar:
apresenta soluções simples, de fácil entendimento, ainda que de execução
duvidosa.
Enquanto seus adversários se enroscam em explicações
complicadas para resolver os muitos problemas de São Paulo – e ficam parecendo,
aos olhos do povo, criaturas de má vontade -, Russomanno diz ao homem comum: “eu
sou você no poder”.
O exemplo mais acabado desta estratégia discursiva é a
promessa de aumentar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana para 20 mil homens.
Enquanto seus adversários fazem contas
para provar a inviabilidade da coisa, o homem comum se regozija com Russomanno porque,
finalmente, alguém está prometendo fazer o que ele faria se fosse prefeito:
colocar mais polícia na rua.
É simples, direto e palatável - como, ao fim e ao cabo, são todas
as coisas nascidas do senso comum. É impossível?
Pode ser. Mas ganha eleição.
17 comentários:
Aulinha clara, direta, franca, para um dia de domingo a 2 das eleições. Perfeitíssima, como não poderia ser diferente, pois é a NG falando. O fato é que uma coisa é ser relativamente bom (e Serra até que é) governante, outra coisa é saber vencer eleição. Ocorre que para o primeiro, precisa o segundo. E isso não aprendem. Um beijo, NG!
Na mosca!
Uma campanha populista e demagógica. Russomanno é cara do PT, mas joga na direita.
Enquanto não existir educação, sempre vai ter um Russomanno fazendo sucesso.
Claro, lúcido, inteligente e muito bem colocado. É exatamente isso!
Parabéns! Prossiga assim.
Pena que essa pérola de clarividencia seja acessível a poucos, o País padece e, padecerá sempre, pela falta de uma educação adequada à população, somente isso propiciaria senso crítico de modo a facilitar ao cidadão comum, o discernimento entre o "desejável" e o "factível".
Um paulista degredado em Itaparica-BA
É isso aí. Perfeito
Circunscrita ao Russomanno a análise fica de pé. O problema é tentar entender a razão do PT não ter conseguido o que o cretino da Universal está conseguindo. E aqui julgo haver um problema interessante: parece-me que o PT acreditou no próprio discurso, na própria narrativa -- a narrativa de que o partido foi o responsável pela elevação de milhões de pessoas a um padrão de consumo superior. Claro que a narrativa é equivocada. E claro que o PT, acreditando no próprio embuste, julgou que essas milhões de pessoas tivessem em relação ao partido algum tipo de vínculo de "lealdade", "gratidão" ou o que seja. Outro ponto que, na minha visão, ajudaria a explicar o sucesso do Russomanno é rejeição a Lula, muito forte em SP. Por último, algo horrível para o lado de Serra/Kassab/PSDB: não sabem explorar o momento político, são incapazes de conectar com as mudanças, são vistos como mais do mesmo, como algo parecido ao PT. Lamentável. Sorte da Globo. Sim, sorte da Globo. Chove em São Paulo no verão? E tem inundação? Vai cair no colo da Record.
Direto.
E ver Serra se explicando na TV, dizendo que "eu vou ficar os 4 anos na Prefeitura" é vergonha alheia.
E olhe que vou votar nele, mas acho que isso poderia ser dito (e ter sido dito) de maneira diferente. Agora, Inês é morta.
Lilyane
É exatamente por este motivo que não me sensibilizo, quando assinto as pessoas morrendo nos hospitais, nas enchentes.
Pois estão apenas colhendo o que plantaram.
Simples assim.
Na realidade a eleição de Russo Manno evidencia urgentemente a melhora na educação brasileira. É um péssimo sinal! O candidato melhor preparado todo mundo sabe, mas, Nariz Gelado foi no ponto nevrálgico do problema. Parabéns!
Parabéns, Nariz Gelado, simples e inteligente análise. E se olharmos para o resto do Brasil, será que não veremos a história se repetir? Por exemplo: Ratinho Júnior em Curitiba?
Minha cara NG, seu texto é perfeito, pena que você está demorando a atualizar seu blog. Por favor, escreva mais garota!
Infelizmente, em um país onde a grande maioria do povo raciocina com o estômago, como disse o lula na campanha eleitoral de 1998, fica muito fácil aparecer os Russomanos da vida.
Grande abraço.
NG, querida amiga. Acho que sua avaliação, perfeitamente coerente diga-se, tem um lado que falta ser avaliado. Eu vivo em São Paulo desde o tempo que recebi uma alfinetada sua, por conta do meu virulento protesto contra uma imbecilidade de marketing denominada "Cidade Limpa", você se lembra ? Na época você chegou a me questionar, se tinha eu um comércio atingido pela medida esdrúxula e estava tornando genérica uma questão pessoal. Como você pode ver, eu não estava. O processo de desconstrução do Sr. Kassab se deu por obra e graça dele mesmo, e suas decisões estúpidas. Não foi Russomano o responsável por se candidatar a suceder um dos prefeitos mais mal avaliados de nossa história. Sou eleitor do Serra, mas não sou cego. Percebo que chacoalhar horas no trânsito caótico da cidade, enfrentar os mesmos problemas que já tínhamos ao fim da gestão de Marta e não ver uma mísera solução para os problemas com os quais sempre convivi seriam argumentos mais que suficientes para mudar de lado. Me desculpe, mas um discurso como o de Russomano só faz sentido para os descontentes. Não por acaso, a esmagadora maioria da população paulistana. Não custa lembrar que quem está afirmando que vai acabar com uma vergonha como o Controlar é o Haddad, e não o Serra. A falta de vontade de admitir os próprios erros é a mola mestra dessa imensa rejeição. Como Serra não está disposto a fazê-lo, também não está disposto a ganhar a eleição. Simples assim. Feliz em lê-la de volta. Abraços.
O texto está bem interessante. Talvez a explixação do fenômeno/farsa Russomano vá por aí. O povão sempre demonstrou ter uma sede enorme de ter um herói (Russomano ou/e um pai (Getúlio/Lula)que o proteja e lhe dê as coisas (degraça é ainda melhor). O Brasil é um país constituido em grande parte de pobres e analfabetos. Mas, as coisas realmente não são simples como parecem. Se mais acesso a educação de mais qualidade resolvesse a questão da "consciência política" os americanos teriam eleito a FARSA chamada OBAMA. É mais complicado.
Não se culpe o eleitorado! O que vivemos é a barafunda de um sistema político farsesco. Querem o quê? Que o eleitorado distinga quem de quem? São muito diferentes? Por que não aproveitaram anos para mostrar às diferenças? Diferentes em quê? Serra é passado. Haddad e o defaco de Lula são passado. Russomano é passado. Compõem, cada um a sua maneira, a nossa desgraça. Mas São Paulo é muito grande. Talvez por isso mesmo possa se dar ao lixo da mediocridade. Ah! O eleitorado faz suas escolhas a partir do que os partidos lhe apresentam. Esses escolhem o pior e o eleitorado que é burro?
Mais claro e didático que isso, só desenhando...
Mas espera aí. os paulistanos estão descontentes com as horas perdidas no trânsito e culpam o governo do estado. Aí Kassab é o diabo. No Rio se perde horas no trânsito e Eduardo paes é um Deus. cadê a lógica? Ninguem culpa o governo federal irresponsável que incenivou milhares a comprar um carro novo? Sem poder. Sem ter como pagar. E colocando no trãnsito. Tudo isso para maquiar o terror que é este governo federal que só consegue fazer maracutaiaw e nehuma linha férrea. São Paulo devia agradecer a Deus por não ser gerida por petistas. E ainda acredito que a maioria da população que ama São paulo, vai refletir. PT nunca mais.
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