quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Desenhando a questão "José Serra"

Perdão pela insistência com o tema. Mas é que eu vejo o pessoal vir aqui comentar que José Serra é "o melhor quadro do PSDB", que é "o mais preparado tecnicamente" e concluo que eu devo estar escrevendo em grego.  

Para ser bem clara, vou evitar entrar na discussão de o "melhor" e o "mais". Vou aceitar o critério de vocês para ir ao que, de fato, tenho dito nos últimos tempos: para fins eleitorais, isto tem efeito zero. Ser o mais preparado, ser o melhor quadro técnico de um partido, não é a mesma coisa que ser um bom candidato.  

Na situação oposta: alguém totalmente desprovido de condições para governar, mas que reúna características de um bom candidato, tem grandes chances de ganhar uma eleição. 

Não é possível que isto não tenha saltado aos olhos de vocês em 2010 e 2012. Em ambos os casos ficou evidente que, com o marketing certo, qualquer poste derrota José Serra. 

E como eu já sei quase todos os “ah, mas” que virão na área de comentários, vou encerrar este post antecipando alguns deles: 

“Ah, mas o Serra foi sabotado pelo próprio partido” – ok, assim como o Alckmin foi sabotado em 2006. Mas a questão óbvia é: foi sabotado porque não conseguiu promover a união em torno de seu nome. E a pergunta é: se não conseguiu isto em 2002 e 2010 por que devemos acreditar que conseguirá agora? 

“Ah, mas o marqueteiro do Serra é uma anta” – sim e não. Primeiramente: em 2002 o marqueteiro era Nizan Guanaes. Deus sabe que eu tenho minhas diferenças com o González – especialmente com relação à estética. Mas o maior problema ali sempre foi a relação entre ambos. Serra faz o que quer e González permite. Não há indícios de que tal coisa possa vir a mudar. Ao contrário: as informações de bastidores dão conta de que Serra está se assessorando com alguém que lhe é mais subordinado ainda. 

“Ah, mas o Lula conseguiu na quarta tentativa” - acontece que nunca faltou carisma a Lula. O que Lula fez, ao longo das quatro tentativas, foi afinar o discurso, lapidar a imagem e construir alianças que lhe permitissem chegar ao poder. Carisma (que nada tem a ver com caráter, pelo amor da santinha) é uma condição fundamental para alguém que quer se eleger presidente. Sem isso, nada feito. Carisma se inventa? Não. É uma matéria prima, mais ou menos abundante, que pode ser lapidada.  Serra além de não ter esta matéria prima em abundância, também não permite intervenções neste sentido. Lula permitiu, Dilma permitiu, Haddad permitiu. Todos eles se deram bem contra Serra. 

“Ah, mas Serra tem recall” – sim. Em Santa Catarina, Esperidião e Ângela Amin também têm recall. Compreensível, pois já governaram e, assim como Serra, já participaram de muitas eleições. Então, tanto faz qual seja o cargo em jogo, antes do início da campanha os Amin sempre aparecem bem cotados. Mas basta aparecerem na televisão para começarem a despencar – exatamente como acontece com Serra. Não sei o que aparece nas qualitativas do Serra. No caso dos Amin, a reação é típica de fadiga da imagem: “não dá mais” “estão velhos”, “já passou o tempo deles” são algumas das reações que se coleta. 

“Ah, mas mesmo indo para outro partido,mesmo sem chance de ganhar, Serra pode ajudar a levar a eleição para o segundo turno” – nossa, que grande estratégia. Dividindo os votos do PSDB, vão para o segundo turno Dilma e Marina Silva. Não é uma beleza de perspectiva? 

“Ah, mas o Serra tem direito de ir atrás de seu grande sonho”– bom, mas direito, por direito, temos eu, você e toda a torcida do Flamengo. O que não temos é chance de ganhar. Coisa que, já ficou evidente, o Serra também não tem. Se você acha que o sonho de um só homem justifica correr o risco de um segundo turno entre Dilma e Marina, vá fundo. Só não me convide para ir com você. 

9 comentários:

Anônimo disse...

Entendido, claro.
Escolher o melhor presidente possível é uma utopia, então temos que escolher um cara de carisma e agregador, que seja ao menos razoavelmente preparado.

Proponho o Willian Bonner.

;)


Brincadeira. Mas acho que impor essa escolha (ainda mais sem as tais "primárias", se assim podemos chamar) é de um pragmatismo muito mais próximo de quem tem um projeto de poder, do que de quem tem um projeto de nação.

E - não me entenda mal - acho que você está 100% correta. O que não deixa de ser - neste caso apenas - lamentável.

Anônimo disse...

Putz,valeu do princípio ao fim!

Anônimo disse...

Concordo plenamente.

Carlos M. disse...

Perfeito!

Lucas O. Leme disse...

Acho que o Serra deveria sair logo do PSDB e entrar no PPS, saindo candidato a SENADOR por São Paulo, e apoiando Geraldo Alckmin para governador e Eduardo Campos para presidente.
Serra e Alckmin estariam eleitos no primeiro turno. E Eduardo Campos sairia de São Paulo com quantos votos?
Desconfio que se essa solução for aplicada, o segundo turno será entre Dilma e Eduardo Campos, que será o novo presidente do Brasil, com Serra como seu ministro da Fazenda/Planejamento.
A solução é essa. Simples assim!

Anônimo disse...


Bingo NG, matou a pau, o que falta em Serra é carisma, e também desancar a rataiada que está no poder, ele nunca fez e nem fará isso.

Sua imagem está desgastada, mostrou isso contra Burrad.

Em mecânica isso chama: Fadiga do Material.

Anônimo disse...

Certíssima em tudo que disse. Serrista faz juz ao seu ídolo, teimoso igual.

Anônimo disse...

Ah, Mas... sei lá! Isso mesmo.

Anônimo disse...


Perfeito NG.
Serra não tem carisma. Carisma é da natureza, se tem ou não, marqueteiro não tira água da rocha não faz milagres.
Pra competir com Campos só Aécio. Os dois são jovens, bonitos e governadores bem avaliados. Dilma e Marina são cavalos paraguaios igual a Serra. Representam o passado.

Ane