Quem lê os jornais de hoje tem a nítida sensação de que cabe
ao presidente de um partido político ir a Roma, pedir a bênção do Papa, para
almoçar com uma bancada estadual.
O partido em questão é o PSDB. O presidente é Aécio Neves. Os
deputados estaduais são os de São Paulo, com quem Aécio deve estar almoçando, neste
momento, em uma das ótimas cantinas da capital paulista.
Vejamos o que se lê nos dois maiores jornais daquele estado:
“A aliados Serra afirmou que o almoço de Aécio com a bancada
em uma cantina na região dos Jardins é extemporâneo e representa um atropelo ao
PSDB de São Paulo, uma tentativa de impor a candidatura do senador mineiro.”
(Folha de S. Paulo)
“O ex-governador Alberto Goldman, serrista histórico,
confirmou presença no almoço, apesar de se dizer contrariado com a iniciativa
da bancada.” (Estadão)
Chega a ser cômica a polêmica por conta de um almoço. José
Serra não ocupa qualquer cargo no PSDB – nacional ou estadual. Por que deveria ser consultado? Nem mesmo uma
liderança simbólica, que pudesse justificar uma consulta prévia sobre o
encontro, Serra vem exercendo.
Ao contrário: uma vez que tem declarado aqui e ali que
estuda a possibilidade de abandonar o PSDB, o próprio Serra se apresenta como
um integrante duvidoso, com quem a legenda não sabe mais se pode ou não contar.
Postura que, vamos combinar, justifica que ele fique afastado de qualquer
decisão.
Mas é a mesma matéria da Folha de S. Paulo que explica a
razão de tanta celeuma: dos 21
parlamentares em exercício na Assembleia Legislativa de São Paulo, 14 são
favoráveis à candidatura de Aécio. Apenas três pensam que Serra deveria ser o
candidato do partido na corrida presidencial do próximo ano.
Ou seja: bateu o desespero porque nem mesmo entre seus
aliados estaduais Serra está conseguindo adesão. Ou, como diria minha avó, o nível da água
chegou àquela parte macia da anatomia.
E, no desespero, os poucos serristas que ainda restam partem
para o ataque. Recados aqui e ali,
artigos sob encomenda, colunas de jornalistas usadas como mural de recados: é o
vale tudo dos desesperados, tentando salvar uma possibilidade de candidatura
que já virou pó.
Na própria matéria do Estadão de hoje, temos uma ameaça. Ao comentar
a possibilidade de realização de
previas, o deputado estadual Orlando Morando observa que não realizá-las fará
com que Serra atormente a campanha de Aécio em 2014: "Aécio sabe que Serra pode ser uma pedra
no caminho. O senador vai tomar estocada a campanha inteira".
Cada um esperneia como quer – ou como pode. Mas o fato inegável é que esta campanha
tacanha das últimas semanas tem feito Serra encolher. A cada dia que passa, ele
parece menor. Agora faz picuinha até por conta de um simples almoço. Se continuar
neste ritmo, em breve não sobrará mais nem a sombra do estadista que ele um dia
foi.
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