quarta-feira, 5 de abril de 2006

O preço

O teatro armado ontem pela defesa de Antônio Palocci começou no final da semana passada, quando pulularam notinhas dando conta de que Marcelo Netto estava desaparecido. Agora diz-se que ele sempre esteve em sua casa, em Brasília, ao alcance de qualquer um que quisesse ouví-lo.

Ao mesmo tempo, pessoas ligadas a Palocci começaram a divulgar que ele se desentendera com o ex-assessor - e que este último estaria "fora de controle".

O que aconteceu ontem à tarde todos sabem: Batochio avisou à imprensa que explodiria uma bomba às 17h30h. A partir deste momento, parlamentares governistas começaram a espalhar que a bomba se chamava "Marcelo Netto". Por volta das 22h00, tudo foi desmentido.

É óbvio que a farsa orquestrada pelo governo e pelo ex-advogado de Paulo Maluf não foi apenas uma tentativa de afastar a imprensa do depoimento do ex-ministro à Polícia Federal. A antecipação do depoimento - e o conteúdo do mesmo, divulgado por Batochio - são reveladores de uma estratégia que tinha por fim garantir o silêncio de Marcelo Netto. Depondo primeiro - e assegurando a inocência do ex-assessor - , Palocci estaria acenando com bandeira branca para um Marcelo Netto "fora de controle", certo?

Errado.

Há evidências para supor que Marcelo Netto sabia da farsa e compactuou com ela. Caso contrário, por qual motivo não veio à imprensa, no final da tarde de ontem, esclarecer que Batochio não era seu advogado? Não se pode esperar que alguém como ele tenha dificuldades para se fazer ouvir pela imprensa. E é inadmissível sugerir que estivesse alheio ao que acontecia em Brasília.

Logo, deve-se perguntar por qual razão um jornalista,sobre o qual pesam graves suspeitas, perdeu a chance de colocar os colegas de profissão a seu favor, desvendando a farsa - que, diga-se de passagem,fazia uso de seu nome - enquanto ela ainda estava em curso.

A resposta parece óbvia: Marcelo Netto negociou. E o que lhe ofereceram foi bom o suficiente para fazê-lo abrir mão de sua imagem profissional. Talvez seja um indício de que esteja saindo dessa naquela rara condição de quem não precisa procurar emprego.

Se assim não for, saberemos tão logo seja revelado o conteúdo do depoimento que ele presta, neste momento, à Polícia Federal.

10 comentários:

Carl Amorim disse...

É Nariz, grande amiga,

Todo homem tem seu preço.

Em Brasília alguns até fazem promoção.

Abraços

Carl

Aluizio Amorim disse...

Nariz,

faço minha a sua leitura do episódio. Que coisa asquerosa, pura podridão. No Congresso continua a mesma coisa. Negociatas nessa votação do relatório da CPI. Durante toda a minha como jornalista, anos a fio, nunca vi nada igual ao que acontece na atualidade, nada.

Abs
Aluízio Amorim
http://oquepensaaluizio.zip.net

Angelo da CIA disse...

Meio chato ficar batendo na mesma tecla mas... Mainardi estava certíssimo!

Bom, o fato é que este Marcelo Netto, aparentemente, delubiou como tantos outros. Muitos silêncios estão sendo tratados como jóia da coroa no governo petista.

(N.G.: Angelo, Mainardi pode estar certo em muitas coisas.Mas errou ao dizer que ninguém na mídia citara o Netto. Aquele meu post da semana era sobre isso - e não sobre o envolvimento do Netto no episódio.)

Dra. Daniela Mann disse...

Gostei imenso deste espaço, parabéns!

/|/|@rc0$ disse...

esta quadrilha compra o silêncio de qualquer um que esteja disposto a vendê-lo.

helena disse...

Nariz, querida, você tem toda razão. Há algo de podre no reino da Dinamarca. Na verdade, tudo de podre. Mas meu nick Vomitador, homenagem ao personagem do Jaguar foi bloqueado no Noblat. Temos que engolir a seco e sem reclamar.

beijos,

Helena

Saramar disse...

Nariz, boa noite.
Eu sempre fico impressionada com essa sucessão de bobagens que eles cometem. Não consigo entender. Todos os movimentos delles só servem para afundá-los ainda mais na ilegalidade. O que haverá por trás disso? Serão fatos mais hediondos ainda que os já conhecidos, que obrigam todos a se lançarem assim ao abismo?

Beijos

Alexandre disse...

Mais um que nada sabe e jamais viu algo de errado.

Entrou mudo e saiu calado, livre, leve e solto.

A pergunta que não quer calar disse...

A pergunta que não quer calar:

que lhe ofereceram em troca? Bens materiais ou garantia de sua privacidade fiscal e pessoal?
Integridade fisíca? E se ele sabia mais do devia? Se massacraram um caseiro que ameaçava um ministro, que seriam capazes de fazer para proteger o presidente?

Quem vive próximo do poder e dele, por ele envereda.

Teoria da conspiração? Realidade? Desse "governo" não duvido de nada!

Sharp Randon disse...

A série " Os silêncios " iniciada com Delúbio e produzida pelo governo Lula ainda serão as " Lurians de Collor ". Um passivo explosivo e sensível como nitroglicerina, com a notável diferença do amplo respaldo moral na sua divulgação.