sexta-feira, 7 de julho de 2006

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Cuiabá, 17 de abril de 2006. Foto: Capitão.

Eu alí, completamente sem jeito, enquanto um tucaninho meio maluco, viciado em torta de chocolate e café expresso, dizia: " Conhece o blog Nariz Gelado ? Pois então...É dela. Ela é a Nariz Gelado."

Desejei ardentemente que o chão se abrisse. Primeiro, porque eu sou tímida mesmo. Segundo, porque o cidadão parado à minha frente era uma das minhas primeiras referências políticas.

No mesmo abril em que eu fizera o meu título de eleitor, uma emenda levando o nome dele tramitara no Congresso Nacional. E eu, na ingenuidade daqueles verdes anos, tinha certeza de que meu primeiro voto já seria para presidente. O fato de que a emenda não tenha passado não diminuiu em nada a importância daquele nome para a nossa democracia.

E agora alí estávamos nós. Eu completamente embaraçada. Ele sorrindo - o olho virando um risquinho, como acontece aos que sorriem de rosto e alma. Me pareceu óbvio que ele jamais diria "não conheço" - ninguém constrói uma carreira política dizendo verdades socialmente dispensáveis. E, de fato, ele disse: " Ah, é você? Conheço, claro que conheço."

Apertei a mão que ele me estendia gentilmente e suspirei alividada: "Ótimo. Tudo pró-forma. Agora ele se despede e acabamos logo com este embaraço", pensei.

Qual não foi meu espanto ao vê-lo puxar a cadeira para se abancar ao meu lado. Um olho no computador - acompanhando o que eu, àquela altura, fazia de conta que postava, - outro na movimentação da sala de imprensa, ele comentou um episódio que só quem lê este blog poderia conhecer.

Creio eu que aquela nossa conversa não durou mais do que quinze minutos. Durante o restante do tempo em que estive em Cuibá, porém - para onde fui, em abril deste ano, a fim de acompanhar um evento do ITV - volta e meia esbarrava com ele. Um sorriso, uma observação e aquela pergunta " está tudo bem?" - coisas que valem ouro quando estamos em um ambiente onde conhecemos poucas pessoas -, fizeram com que eu, na volta, lhe conferisse um "troféu simpatia". Uma bobagem sem a menor importância, eu sei. Mas era uma forma de agradecer a atenção que ele me dispensara.

Por isso, hoje - quando muitos estão escrevendo laudas e laudas a respeito da importância de Dante de Oliveira para a redemocratização do Brasil - preferi dividir com vocês aquilo que jamais será questionado, posto que é fruto de uma experiência pessoal e intransferível: o sorriso de quem ri com a alma, a facilidade para um bom papo e a gentileza.

6 comentários:

Aluizio Amorim disse...

Dante de Oliveira parecia ser realmente uma boa pessoa. Não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.

Aluízio Amorim

Coronel disse...

Nariz:

Emocionante.

Um beijo.

lenita disse...

A descrição é tão viva, que a gente sente o cheiro do expresso...
Pobre Dante de Oliveira e pobre Brasil, que perdeu um de seus melhores políticos.

Joaquim Mitchel disse...

1984 - 18 anos
2006 - Melhor parar por aqui...
Cara balzaquiana de olhos verde....
JM

( N.G.: vá em frente. Revelar a idade é um dos esportes feminos prediletos na minha família. O povo nunca acredita e a gente sempre acaba apresentando a identidade para encerrar a discussão. )

Tucano Alucinado disse...

Cara Nariz Gelado.

Eu relutei em comentar. Vários motivos, e indo contra minha natureza, serei econômico nas palavras: nada do que eu diga chegará perto de sua sensibilidade.

Quero cumprimentá-la e dizer sem modéstia nenhuma que tenho um orgulho muito grande de ter sido esse tucano totalmente alucinado mesmo movido a cafeína, responsável por esse - e outros - embaraços que você foi vítima.

Você não sabe - sabe, creio até que sabe sim, como você se tornou importante para nós, sem que você faça nada especificamente com este objetivo.

Seus textos nos enchem de orgulho e por muitas vezes,como precisamos mesmo, mexem com nossos brios. Por tantas vezes suas palavras nos dão a oportunidade de lançar aos pares o desafio: "Cadê a coragem, meu colega? ... covarde não ganha eleição". E por aí vai.

Fico particularmente feliz por te dizer que esse meu jeitão, totalmente maluco, não é nem de longe inconseqüente: se te pego de surpresa com minhas maluquices, é porque sei que você transborda consistência, opinião, personalidade, caráter, inteligência.

Bom, pode considerar sem acanhamento que você tem um verdadeiro fã clube aqui. Mas se em primeira instância suas idéias e seu texto nos conquistaram, foi sua doçura e simpatia que firmaram de vez esse sentimento de admiração e respeito que acompanham a gente, cada vez que digitamos seu endereço.

E nem ouse ficar tímida e não publicar este. Afinal, não tenho um blog onde posso dizer o que penso. Conto com você para que seus leitores saibam como admiramos esse seu nariz arrebitado - e agora podemos falar, esses vibrantes olhos verdes.

Um beijo carinhoso e cheio de agradecimento por suas palavras.

PS.: Dos meus dois vícios, alimento sem culpa e na maior cara de pau, a dependência de cafeína. Quanto à torta de chocolate, bem, essa a balança - e mais uns minutos na esteira - exigem muita ponderação.

Beijo de novo.

(N.G.: Querido tucaninho alucinado...não fosse você e este seu jeitão, quantas boas histórias eu deixaria de contar? Saudades, viu? Beijos e bom trabalho).

Ramão Antunes disse...

Olá Nariz Gelado(?)
Sou diagramador de um jornal do interior de Mato Grosso, Barra do Garças, e procurando uma foto do Saudoso Dante de Oliveira, me deparei com esse texto seu, obviamente, muito bem escrito, e me senti enternecido com o que você falou a respeito do nosso Dante de Oliveira. Não tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, mas admirei muito a forma de atuação de Dante, como político de renome nacional.
Fico grato a você por ter recordado aquele sorriso muleque, de quem está sempre de bem com a vida, de fato, nós perdemos um grande estadista. Estamos sem grandes lideranças no Mato Grosso, principalemte dentro do PSDB, mas esse é o rítimo da vida. Não tem como evitar. Que dante de Oliveira inspire novos talentos para a política matogrossense.
Parabéns pelo seu texto!
Abraços!
Ramão Antunes