terça-feira, 31 de outubro de 2006

Futurologia....mas nem tanto.

Leio por aí que o PSDB vai viver, nos próximos dias, um dilema delicado: ser oposição sem que seus governadores eleitos explodam as pontes de diálogo com o Governo Federal.

Não acho que esta seja a questão primeira. A questão que se coloca antes dessa é: o PSDB quer ter alguma chance am 2010?

Caso a resposta seja positiva, os tucanos devem priorizar a lição que receberam das urnas no último domingo: derrotar o PT de Lula não é trabalho para uma campanha ou para um ano e meio de denúncias. Derrotar PT de Lula implica declarar-lhe guerra implacável desde já - principalmente, fazendo oposição "irresponsável", como eles sempre fizeram, sem jamais admitir que se está agindo assim.

É isso ou nada, queridos. Não se preocupem que o país agüenta - e se, no final das contas, a coisa ficar muito ruim, será mais fácil culpar Lula ao final do seu segundo mandato. É assim que se ganha eleição no Brasil - e eu espero, sinceramente, que o PSDB tenha aprendido pelo menos isso.

Qualquer outra atitude por parte do PSDB será interpretada como desonra pela grande maioria dos que votaram na legenda a fim de que ela se apresentasse como oposição ao governo Lula. Eis, aí, a verdade nua a crua: o PSDB recebeu votos menos pelo que é e mais pelo compromisso de apresentar-se como oposição ao lulismo. Se capitularem neste quesito, os tucanos condenarão o partido a um movimento fatal de retração - e deixarão o flanco aberto que outros cresçam neste vazio.

Quem se habilita?

Deve-se notar que os escândalos do último ano meio, somados à decepção daqueles quase 40 milhões de eleitores com a reeleição de Lula, talvez tenha preparado o ambiente para o surgimento de um partido verdadeiramente de direita no país. Toda a pouca vergonha do primeiro mandato de Lula colaborou para acabar com os pudores daqueles que, embora defendessem muitas idéias de direita, sentiam-se envergonhados de serem rotulados como tal. De certa forma, o desmanche público da imagem lúdica do candidato-operário - e, principalmente, das "boas" a "imaculadas" intenções do pensamento de esquerda - liberou o pensamento direitista do trauma que normalmente lhe é atribuído em países que, como o nosso, passaram por ditaduras de direita.

Mas é pouco provável que, com a nova cláusula de barreira, alguém se aventure a fundar um novo partido. O mais lógico é que o PFL se apresente como legenda capaz de dar voz a esta "direita desavergonhada" que começa a surgir. Caso se proponha a sair do armário - e a assumir um programa verdadeiramente de direita - o PFL pode tirar proveito deste novo ambiente para crescer em número de filiados.

Mas não é só isso: diante de uma hipotética capitulação tucana, o PFL será, ao final de quatro anos, tudo o que restará enquanto oposição. Pelo menos para efeito de discurso, é assim que ele poderá se apresentar dentro de quatro anos, apontando nas alianças tucanas sinais claros de cumplicidade com o PT. De posse de tal discurso - e num quadro eleitoral novamente polarizado - este novo PFL, que a princípio abrigara apenas a direita desavergonhada, irá cooptar um bom número de insatisfeitos dentre aqueles quase 40 milhões que não votaram em Lula - gente que sentirá traída se, nos próximos dias, o PSDB tomar alguma outra atitude que não a oposição ferrenha ao governo petista.

A bola está no ar

Resta saber quem saltará para pegá-la primeiro. O PFL está dando mostras de que não quer conversa com o governo Lula. Hora mais do que propícia para o PSDB fazer jus aos votos que recebeu e encontrar alguma organicidade para tentar - agora sim, é hora para isso - pavimentar 2010.

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