quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

redentor2.jpg

Foto: Ricardo Zerrenner

"Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; " (Mateus, 5:39)

Não se enganem, queridos. A outra face é aquela que Ele mostrou ao expulsar a chicotadas os vendilhões do templo.

10 comentários:

Cristal disse...

Nariz!!!

Muito triste o que vivemos na madrugada e início
da manhã desta quinta-feira.Pessoas queimadas vivas dentro de um ônibus(interestadual),hospital Bonsucesso invadido,cabines policiais e delegacias
sendo atacadas,mais ônibus incendiados,etc...A Providência Divina pela manhã enviou um temporal alagando ruas e bairros.Com isto eles pararam,
não sei até quando.Ainda estão contando os mortos,até as 12hs eram 18 sendo 7 do ônibus.
Esse horror todo numa cidade que é chamada de Maravilhosa.
Nariz querida amiga,o que vai ser de nós? O que vai ser desse País?

Persegonha disse...

Sim, ouvi a fuzilaria. Moro não muito longe de uma favela - a bem dizer a alguns quarteirões dela e os tiros me fazem pensar que Bagdá talvez seja um lugar menos tenso... Entretanto, a governadora já tomou uma decisão para nos tranqüilizar: botou a culpa no futuro secretário de segurança. Acho que agora vai!

PS - A face a qual se refere Jesus não é a face do rosto e sim a da mão. As traduções levam a este engano. Antigamente, era comum que o dono de um escravo ou alguém que tivesse um criado lhe esbofeteasse com a face externa da mão. Era considerado um bofetão humilhante... Se você quisesse bater em seu filho ou em alguém da sua condição social deveria bater com a face interna. Jesus, na verdade, pede para que você ofereça a face interna de sua mão, algo como "Venha me bater de igual pra igual".

(N.G.: discordo, Persegonha. Jesus, ou o discurso mitico que a partir de sua existência histórica se construiu, não estava recomendando que se apanhasse passivamente ou, como você sugere, de forma "socialmente aceita". Uma observação mais atenta de suas atitudes, conforme relatadas nos evangelhos, evidencia que ele mostrou dois caminhos: amor e rigor. Uma vez que o amor não funcione, deve-se fazer uso do rigor. Eis, aí, a "outra face", que ele bem mostrou saber usar no episodio dos vendilhões. O tema é amplo e remete ao rompimento com a dura lei do judaísmo, ocorrido com o surgimento do cristianismo. Nem tudo, porém, da Antiga Palavra foi descartado pelo discurso da Boa Nova. Houve uma proposta de equilíbrio de forças, com o amor sendo introduzido no discurso. Mas o rigor não foi descartado. Pouca gente se dá conta disso - talvez porque, erroneamente, o senso comum tende a associar a análise crítica destes textos com heresia, blasfêmia ou falta de fé. A exegese, porém, é área do conhecimento das mais interessantes, que não precisa conflitar com a fé.)

Jorge Nobre disse...

Os Vendilhões do Templo! Os que abusam da fé dos simples! Ah, eles sempre existirão!

Oxalá exista também sempre gente disposta a expulsá-los.

Persegonha disse...

Oi, Nariz! Por favor! Não pense que eu não saiba disso: "Eu vim trazer a espada", ele disse. Não sou apegado a valores místicos de Jesus, tampouco sigo a Igreja Católica, apenas leio muito sobre religiões - é um assunto fascinante. Me refiro apenas a essa passagem. Tampouco acredito que Jesus tenha exarcebado os limites do Judaísmo, como se diz por aí. Se olharmos a Mishná e o Talmude, vários assuntos abordados por Jesus ainda estavam em discussão (curar no sábado, por exemplo). Jesus nem foi condenado por blasfêmia. Foi condenado por lesa-majestade, por ter traído Roma. A plaquinha na cruz (titulus) é claríssima. Bom, me desculpe. O tema do post era outro. Estou tomando espaço com uma outra discussão. Abraços.

(N.G.: É, eu sei que o tema do post é outro. Mas não se penitencie, pois eu dei corda. rsrsrs. Como você deve ter notado, também gosto do assunto. Abaços)

maria helena rubinato rodrigues de sousa disse...

O cardeal aqui do Rio acaba de consagrar a estátua do Cristo Redentor como um altar, onde sacramentos poderão ser celebrados.
Quem sabe iniciam essa nova fase celebrando missa de 7º dia pelos mortos da batalha de ontem?

marcelo disse...

ao pessoal do rj, minhas sinceras manifestações de solidariedade e votos de que não amplie-se o número de vítimas, fatais ou não.
quanto as atitudes dos responsáveis pelo que aconteceu e acontece (os governantes e secretários), não fariam melhor do que fizeram nestes anos que passaram.
não podemos desistir. somos brasileiros, independentemente de cidade onde nascemos.

Santa disse...

Nariz,

"Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça..."
Mário Quintana

Desejo que 2007 seja o grande ano de sua vida...Bjs

Sharp Randon disse...

Ao oferecer a outra face o agressor teria que bater com a palma da mão e isso nivelava ambos.
O uso de violência no templo é mito. É força de expressão. As palavras foram profundas e dilacerantes para as consciências adormecidas e doeram fundo como chicotadas. A força moral era tamanha que era dispensável a violência física.
A força de expressão da narrativa também pode ser exemplificada no sentimento que permeia a narração. Segundo Karen Armstrong, Moisés atravessa o rio vermelho e não o Mar Vermelho. Deus abriu o mar e tal. Era um rio em época de seca, águas baixas e quando Ramsés ali chega com seus exércitos já era época de chuvas e não conseguiram atravessar. A metáfora que traduz a emoção sentida por aquela coincidência do destino. O compromisso não é com a verdade fria do fato mas com a emoção, a saga de um povo.

Sharp Randon disse...

NG, como é uma buscadora da verdade em matéria de espiritualidade além da histórica, analise o texto:
Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra
Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. - Eu, porém, vos
digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; - e que se
alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o
manto; - e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais
dois mil. - Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar
emprestado. (S. MATEUS, cap. V, vv. 38 a 42.)
8. Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar "ponto de honra"
produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade,
que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é
tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões
terrenas. Por isso é que a lei moisaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia
com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribui o mal com o bem. E disse
ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face,
apresentai-lhe a outra.” Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não
compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e
não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.
Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o
outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas
últimas conseqüências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar
livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não
pusesse um freio as agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio
instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao
assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas
condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido
numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve
aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória
lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que
de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar
os outros. E, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação
de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal,
pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos
nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante
o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.>>>>

Tenho certeza que vc. sabe de onde foi extraído.

Sharp Randon disse...

Olho a Gandhi e o compreendo. Admiro-o e me espanto com o que foi capaz de realizar, pacíficamente.
Ouço a apropriação do episódio no Templo onde teria Jesus açoitado indivíduos abstraidos no materialismo, servir a causa dos homens.
Me espanto.
Seria Gandhi superior a Jesus ?
Se o próprio já havia dito que se perdessem toda a literatura do mundo e mantivessem o Sermão do Monte estaria a humanidade na posse de sua salvação.
A exemplificação pessoal de um Mestre transcende a tudo que se possa escrever sobre ele.
Deixemos o pensamento correr... livre.
Ele encontrará, sublime, a verdade de amor incondicional que respeita o tempo de despertar de cada um e se apoiará no respeito que desejaria para si mesmo ao confrontar-se com a missão de abrir os olhos à humanidade com relação às verdades eternas.

Muita Paz ! Um ótimo 2007 !

(N.G.: Paz e um 2007 repleto de beleza para você também, Sharp)