terça-feira, 10 de abril de 2007

Pesquisa CNT, minha bola de cristal e o senso comum

A CNT acaba de divulgar os resultados de sua pesquisa:

49,0% dos entrevistados são favoráveis à adoção da Pena de Morte e 46,0% são contra.

Em maio de 2003 esses índices eram, respectivamente, 46,7% e 49,7%.

Sobre a Redução da Idade Penal de 18 para 16 anos, 81,5% se dizem a favor, e 14,3% contra.

O aumento do Salário Mínimo de R$ 350,00 para R$ 380,00 foi classificado como Baixo/Inadequado por 59,1%.

Para 22,6%, o novo aumento não é nem alto nem baixo. Para 22,6%, o novo aumento não é nem alto nem baixo. já para 16,3%, o Salário Mínimo é alto.

E Lula?

O desempenho pessoal do Presidente Lula foi aprovado por 63,7%

A avaliação do Governo foi considerada Ótima ou Boa por 49,5%

Pois comparem estes resultados com o que eu tinha adiantado, há mais de duas horas, no post anterior.

Não, eu não tenho fontes dentro da CNT. Também não tenho bola de cristal.

É que há uma fórmula simples para acertar antecipadamente os resultados de pesquisas no Brasil : estar atento ao que a mídia de massa divulga como senso comum. Prestem atenção: não importa se é ou não o senso comum. Importa é que passa a sê-lo, no momento em que a mídia de massa assume como tal. Vejamos os exemplos para o caso em questão...

Com a super exposição do assassinato do menino João Hélio - e a compreensível revolta popular provocada pelo hediondo crime - a pena de morte entrou novamente em pauta. Natural, pois, que seu índice de aprovação apareça mais alto que da última consulta. E se a redução da maioridade penal aparece melhor colocada, é justamente porque a mídia de massa - a despeito de haver apenas um menor envolvido na morte de João Hélio - decidiu que este era o tema a ser colocado em pauta.

Quanto ao salário mínimo... Creio que não há, na história da televisão brasileira, um mês de março onde nossas telinhas não tenham sido invadidas por depoimentos de brasileiros dizendo: "o salário não é o ideal, mas é melhor do que nada". Eis porque a pesquisa a respeito deste item, realizada nesta época do ano, tende a se apresentar mediana. Fizessem a coisa em agosto e talvez fosse diferente.

E a popularidade de Lula? Para além de qualquer medida de governo, Lula continua batendo recordes de exposição na mídia. Pródigo em senso comum, piadas e comportamento vulgar, ele é beneficiado por uma mídia que explora até a última gota suas características pessoais - e essencialmente populistas. Pouco importa que, depois dele, venha um Arnaldo Jabor fazendo crítica. O espaço de Jabor sempre será menor. E o povo não entende o que o Jabor diz.

No senso comum, pois, Lula é um bom presidente - a despeito de seu governo. É por isso que seu governo sempre apresenta um índice menor de aprovação do que sua pessoa. Porque é essa a forma como a própria mídia de massa o apresenta: um falastrão simpático e irresponsável, que pouco ou nada tem a ver com o governo. Acho que alguém já disse que Lula está para nós como a Rainha da Inglaterra para os ingleses. É isso mesmo.

Da próxima vez que a CNT quiser informações sobre a opinião pública, pode dispensar a pesquisa e vir me consultar.

6 comentários:

CRISPIM disse...

Acertou na mosca
A mídia pode até não criar a opinião pública. Mas pega dela apenas aquilo que quer (ou pode) destacar.

João de Oliveira Passos disse...

Nariz Gelado

Acompanho seus comentários no Blog do Noblat com profundo respeito e admiração. É com grande alegria que acabo de descobrir este espaço. Você deveria divulgá-lo melhor. O Brasil precisa ler, cada vez mais e sempre, pessoas como você, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi.

Sobre a pesquisa, você está coberta de razão: hoje, faz-se com a opinião pública o que bem se quer. Pois a última eleição presidencial não foi a prova disso?

Um grande abraço do

João

Ângelo da C.I.A. disse...

Sobre o trecho:
"É que há uma fórmula simples para acertar antecipadamente os resultados de pesquisas no Brasil : estar atento ao que a mídia de massa divulga como senso comum. Prestem atenção: não importa se é ou não o senso comum. Importa é que passa a sê-lo, no momento em que a mídia de massa assume como tal."

Nem sempre isto ocorre. Um caso em que o que a mídia passava como "senso comum" e o que a população não caiu foi o do Referendo. A Globo usou até mesmo a Rosinha Garotinho como escada para argumentar pelo "SIM" de então. E o que dizer das pesquisas então? Um mês antes, davam vitória esmagadora para o "SIM" mas bastava conversar com as pessoas para descobrir que a maioria votaria pelo "NÃO".
Outro caso: A revolta com relação ao Mensalão! A mídia cobriu tudo, deu destaque a tudo. Mas de fato não havia um clamor público contra Lula e o PT, a revolta só ocorreu nas camadas mais esclarecidas da população.

Eu não sei se há uma regra clara para descobrir o que pensa a população. O caso da eleição do Lula é típico: Eu não "conhecia" mais do que 15 pessoas dispostas a votar nele. Nas empresas porque passava na época, quem assumisse o voto em Lula era massacrado por todos os lados ( coisas de São Paulo... Um dia explico! ). Porém, bastava andar em transporte coletivo ( Metrô, ônibus circular ou Barca )junto com a massa para perceber que no povão ele estava muito melhor que Geraldo.
E o que fica de tudo isto? Sei lá, talvez que você tenha sido boa na leitura de cartas, búzios e tarô desta vez !

(N.G.: Ângelo, processo eleitoral não serve. Durante processo eleitoral - seja ele para um refendo ou para um cargo - a opinião pública é bombardeada das mais variadas maneiras, por todos os pleiteantes. É por isso que as pesquisas são feitas semanalmente - porque o quadro pode mudar muito rapidamente. É totalmente diferente da forma como a opinião pública é gestada no cotidiano. Já a sua comparação com o mensalão até poderia servir, se a gente esquecesse aquela entrevista do Lula, para o Fantástico, onde ele declarou, desde Paris, que todos os partidos faziam a mesma coisa. Responda aí: qual foi a versão que prevaleceu? Como você pode ver , tenho motivos de sobra para declinar da carreira de vidente.)

Marcos V disse...

NG

Não esquecer que os telejornais nunca associam Lula aos fracassos do governo. É sempre matéria de problema isolada de discurso festivo de Lula. Não sei se isto parte das TVs ou do governo, que jamais permite Lula se pronunciar sobre os problemas nos discursos.

Aluizio Amorim disse...

Nariz: colocações mais que perfeitas. Agora imaginem depois que a TV Lula estiver no ar? Preparem-se, pois, para uma ditadura consentida e interminável. O kitsh petista já recolocou o pinguim em cima da geladeira. E parece que ele não sairá de lá tão cedo. Argh!

j disse...

Eu acho que pouco importa o que Diogo Mainardi diz ou denuncia. Ninguém entende mesmo. O Jabor? Bem, o Jabor é o revoltado. O revoltado a favor. Ultimamente ele estava mais revoltado contra. Mas, tive oportunidade de vê-lo falando outro dia no Jornal da Globo e acho que voltou às origens.