Nossos pais jamais precisaram comprar água engarrafada. Nós vivemos à base de garrafinhas, filtros e bombonas. Adaptamo-nos. Isto deveria servir para ilustrar que, até agora, a nossa civilização tem encontrado saída para os problemas que ela mesmo cria.
Que a questão não é nova, fica claro naquela discussão entre Rousseau e Voltaire. O primeiro afirmou que se os homens não construíssem casas, elas não lhes cairiam sobre as cabeças. O segundo avisou que estava velho demais para viver em árvores e voltar a andar de quatro.
Sou mais Voltaire. No mínimo porque há muita grana a movimentar este pânico ambientalista que tomou de assalto as mentes e corações do terceiro milênio. Reciclar o lixo é ótimo e necessário. Mas culpar-se pelos irreversíveis confortos da vida atual em nome das gerações futuras não serve para nada - talvez, apenas para aumentar a venda de antidepressivos.
Nascido na decada de 1970 como movimento contra-cultural, o discurso ecológico foi engolido pelo sistema. Consciência ambiental é, hoje, bem de alto valor no mercado. Você já não compra apenas rímel: você retoca os cílios com a certeza (?) de estar protegendo a Mata Atlântica. E aquele desejo incontrolável de um picolé à beira-mar é mais do que gula. No fundo, o que você quer é ler, no final, aquela frase gravada no palito: " Madeira de reflorestamento".
8 comentários:
NG
Você tem um talento especial para títulos.Este está ótimo. O texto também, como sempre.
Boa, Nariz! É isso aí. E tem mais: catastrofismo não combina com ciência. Bom feriadão para vc e família. Abs do Aluízio Amorim
Nariz
PARALELO, EMBORA CONVERGENTE.
Assistimos o jornal matinal na tv e meu filho de oito anos fez o seguinte comentário: Puxa, tanto buraco na cidade pra tapar e o cara fica se preocupando com os gritos na feira ? E ele tem apenas oito anos. Terá doze, quando mais este suplício acabar. Na sequência, mais um desvairio da noiva, como é conhecida por seus auxiliares mais próximos; a retirada das placas da cidade vai deixando um rastro de sujeira, pichações, depredações característicos de alguém que não tem o menor talento para antever os problemas de suas idéias esdrúxulas, cuja única função é criar polêmica. Um biônico, devidamente ressuscitado pelos conchavos de nossa política. E a taxa do lixo ? A indústria das multas ? A lei pra retirada das “bolas” ( engates ) nos automóveis ? E o kit emergência obrigatório ? Assim se sucedem as mil e uma fórmulas de incomodar o cidadão-pagante enchendo-o de leis idiotas e cerceando sua liberdade de trafegar ante a burocracia infinita dessa pesada e incômoda máquina administrativa. Mas a ordem é malhar o judas da vez, que é a esquerda sociopata. Experimente lançar um bem fundamentado manifesto contra estes ridículos representantes da tal “nova direita” pra ver se alguém abraça a causa. Nada. Eu até entendo. Um blogueiro não precisa ser um jornalista, nem seguir um “manual de estilo” ou abraçar causas insitucionais. Pode se esconder dizendo que “perdeu o post” ou outro artifíco qualquer para não divulgar o que salta aos olhos até de uma criança de oito anos, mas não chega a dilatar suas próprias pupilas, recheadas de outros interesses. Sei que você já me aconselhou a não levar muito à sério tais profissionais, mas esta postura sempre me decepciona. Já me disseram pra criar meu próprio blog, e deixar de incomodar os outros com minhas indignações. Pois ficamos assim. Eu não crio nada; nem polêmica. Feilz Páscoa à você, aos seus e a todos, que a esperança é a última que morre, mas morre. Brasileiro, quando a felicidade bate à sua porta, ele pula a janela.
Nariz,
Como voce é inteligente!!!
Eu me delicio com seus comentários.
Parabens e feliz pascoa, antes de morarmos em arvores e andar de quatro..
Brilhante texto. Recentemente escrevi algo sobre o aproveitamento da luz solar para aquecimento de água (o homem e sua genialidade para consertar os furos do telhado antes que a casa caia) no meu blog www.unisulbusiness.blogspot.com. Quem sabe posso ser agraciado com um pouco da sua habilidade ou pelo menos um comentário.
"Nascido na decada de 1970 como movimento contra-cultural, o discurso ecológico foi engolido pelo sistema. Consciência ambiental é, hoje, bem de alto valor no mercado. Você já não compra apenas rímel: você retoca os cílios com a certeza (?) de estar protegendo a Mata Atlântica. E aquele desejo incontrolável de um picolé à beira-mar é mais do que gula. No fundo, o que você quer é ler, no final, aquela frase gravada no palito: " Madeira de reflorestamento."
Comentário:
Taí. Mais uma prova de que o capitalismo, passados os primeiros momentos,fatura até sobre causas sociais. Para isto, utiliza-se de uma tecnica manjada de propaganda e "marketing": altera o quanto pode a finalidade do produto. De há muito, ninguém compra relógio para "ver as horas": compra por moda; as mulheres não compram cosméticos para cuidar da saúde da pele: compram beleza. Os homens, não compram automóveis mais caros para transportá-los: compram por "status". E por ai vai. Com a causa ecológica não seria diferente. Há até oportunismos. Em alguns hotéis e pousadas trocam as toalhas só a cada três dias com a dsculpa de estarem preservando o meio ambiente....
Em tempo: até onde sei, palito de picolé já era feito de pinho de reflorestamento muito antes da década de 70. É apenas mais uma esperteza. No caso, com s e não com x.
Ótimo NG. Até me lembei de um hotelzinho que fiquei em POA pedindo para reutilizar as toalhas para evitar o desgaste do meio ambiente!
Por essas e outras que fico com pé e meio atrás qd o foco de uma empresa é responsabilidade social ou ecológica. Ou quando os materiais recicláveis e vendiveis são tão visados a ponto das tampas de bueiros e cabos elétricos serem roubados.
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Eu até concordo que esteja ocorrendo o tal aquecimento global. O meu ceticismo [e vale para assuntos quando se tornam por demais políticos] é a causa: o homem; e as consequências apocalípticas alardeadas pelo "consenso".
Acredito que é necessário sim preservar, poupar a natureza, mas com honestidade intelectual e científica... mas isso já é pedir demais.
Uma coisa é certa eu estou velho demais para viver em árvores e voltar a andar de quatro.
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