sexta-feira, 6 de abril de 2007

Rousseau, Voltaire e o palito de picolé

Nossos pais jamais precisaram comprar água engarrafada. Nós vivemos à base de garrafinhas, filtros e bombonas. Adaptamo-nos. Isto deveria servir para ilustrar que, até agora, a nossa civilização tem encontrado saída para os problemas que ela mesmo cria.

Que a questão não é nova, fica claro naquela discussão entre Rousseau e Voltaire. O primeiro afirmou que se os homens não construíssem casas, elas não lhes cairiam sobre as cabeças. O segundo avisou que estava velho demais para viver em árvores e voltar a andar de quatro.

Sou mais Voltaire. No mínimo porque há muita grana a movimentar este pânico ambientalista que tomou de assalto as mentes e corações do terceiro milênio. Reciclar o lixo é ótimo e necessário. Mas culpar-se pelos irreversíveis confortos da vida atual em nome das gerações futuras não serve para nada - talvez, apenas para aumentar a venda de antidepressivos.

Nascido na decada de 1970 como movimento contra-cultural, o discurso ecológico foi engolido pelo sistema. Consciência ambiental é, hoje, bem de alto valor no mercado. Você já não compra apenas rímel: você retoca os cílios com a certeza (?) de estar protegendo a Mata Atlântica. E aquele desejo incontrolável de um picolé à beira-mar é mais do que gula. No fundo, o que você quer é ler, no final, aquela frase gravada no palito: " Madeira de reflorestamento".

8 comentários:

Marcos V disse...

NG

Você tem um talento especial para títulos.Este está ótimo. O texto também, como sempre.

Aluizio Amorim disse...

Boa, Nariz! É isso aí. E tem mais: catastrofismo não combina com ciência. Bom feriadão para vc e família. Abs do Aluízio Amorim

Oliver disse...

Nariz

PARALELO, EMBORA CONVERGENTE.

Assistimos o jornal matinal na tv e meu filho de oito anos fez o seguinte comentário: Puxa, tanto buraco na cidade pra tapar e o cara fica se preocupando com os gritos na feira ? E ele tem apenas oito anos. Terá doze, quando mais este suplício acabar. Na sequência, mais um desvairio da noiva, como é conhecida por seus auxiliares mais próximos; a retirada das placas da cidade vai deixando um rastro de sujeira, pichações, depredações característicos de alguém que não tem o menor talento para antever os problemas de suas idéias esdrúxulas, cuja única função é criar polêmica. Um biônico, devidamente ressuscitado pelos conchavos de nossa política. E a taxa do lixo ? A indústria das multas ? A lei pra retirada das “bolas” ( engates ) nos automóveis ? E o kit emergência obrigatório ? Assim se sucedem as mil e uma fórmulas de incomodar o cidadão-pagante enchendo-o de leis idiotas e cerceando sua liberdade de trafegar ante a burocracia infinita dessa pesada e incômoda máquina administrativa. Mas a ordem é malhar o judas da vez, que é a esquerda sociopata. Experimente lançar um bem fundamentado manifesto contra estes ridículos representantes da tal “nova direita” pra ver se alguém abraça a causa. Nada. Eu até entendo. Um blogueiro não precisa ser um jornalista, nem seguir um “manual de estilo” ou abraçar causas insitucionais. Pode se esconder dizendo que “perdeu o post” ou outro artifíco qualquer para não divulgar o que salta aos olhos até de uma criança de oito anos, mas não chega a dilatar suas próprias pupilas, recheadas de outros interesses. Sei que você já me aconselhou a não levar muito à sério tais profissionais, mas esta postura sempre me decepciona. Já me disseram pra criar meu próprio blog, e deixar de incomodar os outros com minhas indignações. Pois ficamos assim. Eu não crio nada; nem polêmica. Feilz Páscoa à você, aos seus e a todos, que a esperança é a última que morre, mas morre. Brasileiro, quando a felicidade bate à sua porta, ele pula a janela.

muriu disse...

Nariz,
Como voce é inteligente!!!
Eu me delicio com seus comentários.
Parabens e feliz pascoa, antes de morarmos em arvores e andar de quatro..

Marcos Krucken disse...

Brilhante texto. Recentemente escrevi algo sobre o aproveitamento da luz solar para aquecimento de água (o homem e sua genialidade para consertar os furos do telhado antes que a casa caia) no meu blog www.unisulbusiness.blogspot.com. Quem sabe posso ser agraciado com um pouco da sua habilidade ou pelo menos um comentário.

Degauss disse...

"Nascido na decada de 1970 como movimento contra-cultural, o discurso ecológico foi engolido pelo sistema. Consciência ambiental é, hoje, bem de alto valor no mercado. Você já não compra apenas rímel: você retoca os cílios com a certeza (?) de estar protegendo a Mata Atlântica. E aquele desejo incontrolável de um picolé à beira-mar é mais do que gula. No fundo, o que você quer é ler, no final, aquela frase gravada no palito: " Madeira de reflorestamento."

Comentário:

Taí. Mais uma prova de que o capitalismo, passados os primeiros momentos,fatura até sobre causas sociais. Para isto, utiliza-se de uma tecnica manjada de propaganda e "marketing": altera o quanto pode a finalidade do produto. De há muito, ninguém compra relógio para "ver as horas": compra por moda; as mulheres não compram cosméticos para cuidar da saúde da pele: compram beleza. Os homens, não compram automóveis mais caros para transportá-los: compram por "status". E por ai vai. Com a causa ecológica não seria diferente. Há até oportunismos. Em alguns hotéis e pousadas trocam as toalhas só a cada três dias com a dsculpa de estarem preservando o meio ambiente....

Em tempo: até onde sei, palito de picolé já era feito de pinho de reflorestamento muito antes da década de 70. É apenas mais uma esperteza. No caso, com s e não com x.

Lele Carabina disse...

Ótimo NG. Até me lembei de um hotelzinho que fiquei em POA pedindo para reutilizar as toalhas para evitar o desgaste do meio ambiente!
Por essas e outras que fico com pé e meio atrás qd o foco de uma empresa é responsabilidade social ou ecológica. Ou quando os materiais recicláveis e vendiveis são tão visados a ponto das tampas de bueiros e cabos elétricos serem roubados.
*
Eu até concordo que esteja ocorrendo o tal aquecimento global. O meu ceticismo [e vale para assuntos quando se tornam por demais políticos] é a causa: o homem; e as consequências apocalípticas alardeadas pelo "consenso".
Acredito que é necessário sim preservar, poupar a natureza, mas com honestidade intelectual e científica... mas isso já é pedir demais.

Ajuricaba disse...

Uma coisa é certa eu estou velho demais para viver em árvores e voltar a andar de quatro.