quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Parece mas não é: o jogo duplo dos petistas.

Os senadores petistas andaram demonstrando uma aparente rebeldia com o caráter secreto da sessão que decidirá o destino político de Renan Calheiros.

Na segunda-feira, Delcídio Amaral, Eduardo Suplicy e Augusto Botelho - juntamente com o Pedro Simon e Jefferson Péres - entregaram um projeto de resolução para alterar o Regimento Interno do Senado, permitindo que sessões sobre pedidos de cassação de mandato sejam abertas. Desde o princípio estava claro que a iniciativa não poderia beneficiar a sessão de hoje - o que evidencia que a proposta foi uma tentativa de gerar um fato positivo, mais de acordo com os anseios da opinião pública.

Ontem foi a vez de Aloizio Mercadante dizer que abrirá seu voto após a sessão - e que só não o faz antes para não influenciar aos colegas.

Diante de pressão exercida pela opinião pública - que é claramente a favor da cassação do presidente do Senado -, tanto a apresentação do projeto quanto a declaração de Mercadante podem ser interpretadas como uma declaração de voto. Quem, além da tropa de choque de Renan, vai querer alardear por aí que votou contra sua cassação, certo? Quem, na atual cinrcunstância, pediria uma sessão aberta para ser visto absolvendo Renan? Logo, até que se conte os votos, tanto os que pedem uma sessão aberta quanto os que prometem que abrirão seu voto acenam com uma posição favorável à cassação. É o que vamos confirmar logo mais. Abrir o voto após a sessão pode ser um jogo perigoso - não seria curioso se as posteriores declarações de voto de repente fugissem ao controle e não correspondessem ao resultado do painel eletrônico?

Mas, enfim... Importa é que tudo pode ser só jogo de cena. E, no caso dos petistas, eu tenho razões muito concretas para pensar que é isso mesmo. Na Folha de S. Paulo de hoje lemos que 29 senadores se negaram a responder a pesquisa realizada pelo jornal, que pretendia fazer uma prévia da sessão. Dos 12 senadores do PT, 8 se negaram a responder a pesquisa: Aloizio Mercadante, Delcídio Amaral, Eduardo Suplicy, Fátima Cleide, Ideli Salvatti, Serys Slhessarenko, Sibá Machado e Tião Viana.

Percebe-se, então, que aquele desejo de transparência externado por Suplicy e Delcídio não resiste a uma simples enquete informal. O mesmo vale para Mercadante. Alegam, as excelências petistas, que estão indecisas - pois não é isso que se diz quando se declara, como fez Mercadante, que " tem que ouvir a defesa até o final" ou, como alega Suplicy, "que ainda há esperança de que Renan esclareça dúvidas no último momento"?

Deve-se dar o benefício da dúvida, claro. Sempre é possível que os petistas estejam usando de franqueza. Mas - e quando se trata deles sempre tem um "mas" - matéria de hoje do Jornal do Brasil dá conta de que estiveram fazendo um jogo duplo. Diz : "Na véspera da sessão que definirá o futuro político do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o Palácio do Planalto entrou de corpo e alma para salvar a pele do aliado. Mas estipulou seu preço. Renan terá de se comprometer com todas as letras a se licenciar da presidência da Casa para que o governo se mobilize pela captação dos votos dos senadores ditos indecisos.

Ao fim e ao cabo, concluo que os petistas estão a exercer plenamente sua natureza: dizer uma coisa e fazer outra. Se absolvido for, Renan poderá sim - ao contrário do que andou pregando Ideli Salvatti - agradecer ao PT.

5 comentários:

Oliver disse...

NG:
Eu insisto naquela figura patética tão bem desenhada nos grotescos de Passolini; sempre haverão figurantes dispostos a oferecer seus prestimosos traseiros pela causa. A lista que você nos oferece é um primor. Espero que meu título de eleitor seja de um papel bem macio, pois o que pretendo fazer com ele nas próximas eleições pode me causar hemorróidas. Um beijo.

jml disse...

Quando até Romero Jucá, o paladino da moralidade, vota em aberto a favor do relatório, é sinal de algo está MUITO errado.

É lógico que o discurso será um e a prática outra.

Mas vc tocou num ponto MUITO interessante: já pensou se não bate o número de votos reais das intenções de voto a favor do parecer ?

Aluizio Amorim disse...

Nariz: mais uma vez vc pegou bem. Artigo para ser publicado em um jornal da grande mídia. Abs do Aluizio Amorim

Sharp Random disse...

A malícia ao avesso da aética é incutir a dúvida, desmoralizar o óbvio e inverter a lógica. Berzoini apresenta a unicameralidade, MAG pot pot pode sucedê-lo e o circo pegar fogo.
O Senado, inoperante, facilita as etapas preliminares a Constituinte e a miséria moral dos senadores troca a bitola viabilizando a invasão. 2 + 2 é = a... quem arrisca um palpite ?

Too Loose Lautrec disse...

Estranhíssimo o comportamento do sen. A. Virgilio, profissional da política, ao atacar o Sarney e assim habilitar o jogo em bloco do PMDB para manter a presidência do Senado. Só não fez pior o Jereissati ao defender a candidatura do J. Vasconcelos, opositor do Lula, e assim habilitou a defesa corporativa do governo pelo PT.
Jereissati, diga-se, não é amigo de Renan, mas Virgilio sempre foi dos mais próximos.
O Brasil não tem apenas o governo que merece, tem também uma oposição equivalente.