quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Tudo tão previsível

No início de 2006, quando o índio cocaleiro nacionalizou gás e petróleo - e expropriou refinarias -, a esquerda brasileira comemorou, efusivamente, o "direito do povo boliviano à soberania sobre seus recursos naturais".

Foi com algum cinismo, confesso, que eu perguntei, à época, se os bolivianos iriam extrair gás e petróleo com canudinho.

Agora - quando fica claro que a Bolívia não está conseguindo explorar suas riquezas - eu poderia ser igualmente cínica e dizer que a sempre decantada cultura autóctone se mostra, mais uma vez, útil apenas como curiosidade histórica. Mas não posso fazê-lo porque, afinal de contas, Evo Morales nem tentou investir em tecnologia: usou a considerável receita obtida com a nacionalização em programas sociais, repetindo aquela fórmula, tão cara a esta "nuestra América", de distribuir esmolas para garantir popularidade. Só que, igualmente previsível, o dinheiro acabou e as riquezas naturais estão lá, esperando que alguém consiga transformá-las em algo rentável.

Mas há mais coisas previsíveis nesta história. Que, incapaz de produzir gás na quantidade necessária para cumprir os acordos feitos, Morales tenha vindo, rabo entre as pernas, pedir socorro ao governo Brasileiro, era de se esperar. Que, diante de tal pedido, o governo do companheiro Lula tenha dado sinal verde para que a Petrobras volte a enterrar dinheiro na instável Bolívia, também se previa. E que, uma vez tendo ouvido um "sim", Morales tenha voltado a emitir discursos nacionalistas, tratando a Petrobras como intrusa, também.

O que, talvez, não seja tão previsível nesta história toda é a inércia de Hugo Chávez. Mentor da nacionalização boliviana, ele nada fez para auxiliar Morales - instigou-o a tomar a medida e, em seguida, tirou o time de campo. Nada fez, fique bem claro, nesta questão do gás. Porque, em meados de outubro, diante de manifestações populares contra o governo Morales, o gorila venezuelano deixou bem claro que, se o governo do índio cocaleiro for ameaçado, a Venezuela fará uma intervenção militar na Bolívia - fará da Bolívia "um Vietnã", foram as suas palavras.

Fazendo continhas, arrisco dizer que Chávez está trabalhando arduamente para que o governo Morales vá de mal a pior. Foi por esta razão que ele instigou a nacionalização irresponsável do tonto cocaleiro - e, na seqüência, não garantiu-lhe qualquer apoio concreto. Porque o único apoio que Chávez pretende oferecer à Bolívia é o apoio militar - é com isso que ele sonha e é nisso que se empenha.

Não é de hoje que Hugo Chávez vem procurando uma oportunidade para exibir seu poderio militar. Armado até os dentes, ele encontrou na Bolívia o palco ideal para tal demonstração. Agora é só uma questão de tempo.

9 comentários:

Alexandre, The Great disse...

Todo o "poderio bélico" do gorila venezuelano não resiste a um traque dos EUA. Será que ele é burro, ou apenas fanfarrão?

(N.G.: a questão não é a viabilidade, mas o intento. Só para ficar no exemplo mais recente: Sadam Hussein era burro ou apenas fanfarrão?)

degauss disse...

"....a Venezuela fará uma intervenção militar na Bolívia - fará da Bolívia "um Vietnã", foram as suas palavras".

Tivesse lido algo mais que manuais militares, Hugh Keys saberia que duas grande potências tentaram fazer do Vietnã "um vietnã". Conseguiram. E, como consequência, foram corridas de lá. Saberia, igualmente, que Tchê Guevara também tentou fazer da Bolívia "um vietnã". Não conseguiu e, tampouco, foi corrido de lá: não deu tempo, morreu antes.

HUGO AGOGO disse...

Acho que esses arroubos militares do Chavez tem duas motivações: eleitoral, pois o populacho deve gostar e financeiro, com os cachorros feitos nos negócios com armamentos.

julio moura disse...

SIMPLESMENTE INACREDITÁVAL!! Você é uma SUMIDADE em ANÁLISE POLÍTICA INTERNACIONAL! Não foi você quem disse que o ALCKMIN iria VIRAR A DISPUTA ELEITORAL??? Não???

(N.G.: se disse é porque na época assim me pareceu. Eu estava errada. Qual o problema, Julio Moura? Não cobro pelas minhas opiniões - posso acertar e errar quantas vezes eu quiser. Sabe quem nunca erra? Merdinhas como você, que só opinam sobre fatos consumados.)

Max disse...

There's this fantastic left wing point of view everywhere, that is: all the riches are already produced, and if you don't have any it's because somebody else took your share. They look at people with good cars or whatever and think "he must have all our money at home". The truth is, anyone with a minimum of economics knows that whatever money we see in the streets, is produced and spent every day, that the riches are produced by work, that the idea of distributing all the "riches" is stupid, because in latin american countries it would probably be enough to buy everybody a couple of sandwiches and condemn them to starve after that. But well, the left lives to establish this (phony) cause/consequence relationship between the richness of some and the poorness of others. They can never accept some are poor just because they don't produce anything anyone else would buy. And the poor, well, I'm sorry for them but they will always buy the story from the ones that tell them the responsibility for their poverty isn't theirs.
That's it.

Kika Albuquerque disse...

Mas é o fim do mundo! O sujeito entra no blog alheio para "cobrar" opiniões, certezas, dúvidas e o escambau.
Ô Júlio Moura, vc poderia ter ido dormir sem ter sido chamado de merdinha... mas mereceu.
Nariz Gelado é muito educada.
Merdinha, pra um sujeito como vc, é pouco.

Adolfo Sachsida disse...

Excelente ponto, muito bem pensado.

Adolfo

Alexandre, The Great disse...

Concordo com a réplica.

Jorge Nobre disse...

Bem, o Lula e o Morales nunca chegaram a romper. O Morales queria fingir de campeão nacionalista para os índios da tribo dele, e o Lula consentiu em colaborar, com o Chávez promovendo o espetáculo. É claro que os três estavam combinados.

Agora, o Morales precisa que a Petrobrás volte, mas não ninguém quer que pareça que o Morales deu pra trás ou que era tudo uma farsa desde o começo. Daí, eles precisam agir da maneira mais discreta possível. Convem que o Chávez não apareça muito.