terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A imprensa no banco dos réus

Eu estava lendo o post do Reinaldo Azevedo sobre o depoimento que ele prestou, ontem, no caso "Paulo Henrique Amorim x Diogo Mainardi" quando me dei conta: nunca antes, na história deste país, os jornalistas estiveram tão auto-referenciais.

É verdade que o fenômeno dos blogs colaborou bastante para isso. Contar que se está doente, que se foi à missa ou a um jantar é uma forma de tornar mais íntima e pessoal a relação entre o blogueiro e seus leitores - e é claro que os jornalistas, ao resolverem ingressar neste mundo dos blogs, passaram a fazer uso da coisa. Mas o que me preocupa é a quantidade de notas auto-referenciais que tratam de processos e pendengas com a Justiça.

Antes de prosseguir, porém, vale lembrar que nem só de "Diogos Mainardis" se faz esta farra processual que temos assistido; nos últimos anos, também Ricardo Noblat sofreu pelo menos dois processos - da senadora Serys Slhessarenko e de Valdemar da Costa Neto, se estou bem lembrada. E, ao que me parece, há uma miríade de processos judiciais contra veículos de comunicação e seus editores-chefes tramitando atualmente.

Vocês podem me dizer que a mídia está, agora, apenas tendo que se responsabilizar pelo que fala - e que tal coisa é fruto de um melhor acesso às instâncias judiciais por parte da população. Podem, também, afirmar que o fenômeno dos blogs está tão somente permitindo que estes processos cheguem ao conhecimento dos leitores. Podem, ainda, puxar o caso "Petrobras x Paulo Francis" para comprovar que esta tendência não é de hoje.

Concordo. Mas, ainda assim, não consigo escapar à sensação de que a quantidade de processos movidos contra jornalistas está extrapolando um pouco aquilo que poderia se chamar de normalidade. Não me perguntem o que seria tal normalidade. Só consigo reconhecê-la por contraste, ou seja: agora que ela me parece ter sido quebrada.

Pois a minha sensação - que eu ficaria feliz se alguém se desse ao trabalho de confirmar ou refutar a partir de uma pesquisa quantitativa - é de que a coisa aumentou muito de 2004 ou 2005 em diante. E 2004, vale lembrar, é o ano no qual a imprensa e a sociedade civil obrigaram Lula a desistir daquele Conselho de Jornalismo. Já 2005 ninguém esquece: foi marcado pelo mensalão, que veio à tona graças a imprensa.

Não sei se estes fatos estão relacionados entre si. Mas sei que, nos últimos anos, a imprensa parece ter conquistado uma credencial vitalícia no banco dos réus. Se conquistou tal coisa por merecimento, só um levantamento sério sobre as sentenças pode responder. Seria bom se alguém fizesse isso.

9 comentários:

PauloC disse...

Na verdade você está com a impressão errada - acho que o que acontece é que alguns jornalistas específicos resolveram fazer alarde dos processos que sofrem, especialmente dos que vencem. E que temos um bom número de jornalistas razoavelmente conhecidos processando uns aos outros.

Este artigo (http://conjur.estadao.com.br/static/text/56141,1) do Consultor Jurídico/Estadão mostra que o número de processos contra os cinco maiores grupos de comunicação do país na verdade caíram um de 2003 para 2007. O mesmo artigo diz que a maior parte dos processos é ajuizada por juízes, promotores, advogados e políticos. Quem mais ganha processos contra jornais são juízes e advogados.

Tambosi disse...

NG,

também há muito neo-juiz afoito que abre processo à vontade contra a imprensa, algo inédito na história do Grotão. Com muita facilidade, eles mandam cortar matérias etc.Diria que há uma invasão judicial dos jornais. Se o petralhismo tem algo com isso, a ver (huummm, juízeis novatos, pensamento único etc....)

Gustavo Lima disse...

A resposta ao questionamento do post está em reportagem do jornal Folha de São Paulo, publicada no dia 05/10/2007 ("Brasil tem recorde de ações contra jornalistas"). Para ler um trecho da reportagem e o comentário sempre pertinente de Reinaldo Azevedo, segue o link: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2007/10/democracia-deles-brasil-pode-ser.html

Azul disse...

NG

O PT era o partido das "vestais", costumava contar com a simpatia de toda a imprensa e a proteção até do PSDB. Depois que eles tentaram emplacar a censura e que seus crimes começaram a aparecer mais, eles ficaram muito sentidos com o fato de haver jornalistas falando de seus podres. Provou-se, para quem tem alguma inteligencia, que é o partido mais podre do Brasil.

Solução: Eles precisam apanhar bastante, bastante mesmo, pra se acostumarem...

HUGO AGOGO disse...

NG

Vc e o CORONEL viraram celebridades no site do Luis Nassif. Tem um post exclusivo com comentários sobre vcs. Engraçadíssimo. A inveja é um negócio terrível.

Abraço. HAGG.

j disse...

Jornalista não deveria processar jornalista. Simples assim. E acho que temos que saber, sim, o que se passa nestes processos. É a democracia que está em jogo (embora no Bananão ela já nem exista mais). Ainda bem que Diogo Mainardi revela os processos sofridos e, melhor ainda, a maioria ganhos por ele. Afinal, se não fosse ele e mais meia dúzia de loucos que se atrevem a denunciar as falcatruas lulopetistas (incluindo aí as de jornalistas) passaríamos por tolos. Se Ricardo Noblat não revela os processos que sofre é porque no fundo é um lulopetista só meio arrependido.

(NG: J, acho melhor você reler o meu post... Por acaso eu disse que não deveríamos ficar sabendo dos processos? Acaso eu disse que Diogo Mainardi não deveria contar o que se passa? E mais:quem lhe disse que Ricardo Noblat não revela os processos que sofre, criatura? O Noblat chega a publicar as sentenças. Suco de maracujá antes de ler e comentar pode ser uma boa. )

j disse...

Nariz, querida, eu não quis dizer que "você" escreveu que não deveríamos saber sobre os procesos, acho que me expressei mal. Nem disse que "você" escreveu que Diogo não deveria se expressar. Li em outros lugares, daí as minhas observações (colocadas de forma errada, assumo). Quanto ao Ricardo Noblat, assumo minha total ignorância, já que há muito tempo não leio o blog dele. Sim, estou errada por não ler e dizer uma besteira dessas (que ele não revela os processos), é que me dá uma preguiça em ler jornalistas adesistas ou meio adesistas. Olha que às vezes, até o petista arrependido Clóvis Rossi da Folha me cansa, mas me diverte ao mesmo tempo. O Noblat já não consegue o mesmo efeito (o da diversão). Tentarei tomar um suco de maracujá antes de voltar a ler o Noblat para não dizer asneiras. Desculpe-me. Sou sua fã. Beijo.

(N.G.: desculpas desnecessárias, J. Relendo agora minha resposta a você, notei que, apesar da correção da mesma, também eu estava precisando de maracujina. rsrsrs )

Fabricio Neves disse...

Nariz,

isso não é exclusivo da atividade jornalística. O fenômeno já vem sendo verificado por alguns juristas e não são raras as pesquisas de mestrado e doutorado sobre a judicialização da política e a judicialização da saúde, por exemplo.

Hoje, no Brasil, TUDO é resolvido pelo judiciário, até licença ambiental para obra pública:
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/12/19/327680284.asp

Janaína disse...

Oportuno seu questionamento, Nariz.

Jornalistas sempre falaram mal uns dos outros. O veneno corre solto nas redações. Com a internet, e o conseqüente enfraquecimento da mídia tradicional, veio o endeusamento da primeira pessoa e as maledicências, antes restritas, vieram à tona.

Melhor para o leitor. Ele pode agora escolher o discurso que lhe aprouver, sem cair no conto da imparcialidade.

No caso de quem cobre disputas comerciais, a desqualificação é a estratégia adotada pelos lobistas para acabar com a credibilidade de quem se atreve a ouvir o lado adversário. Acaba sendo incorporada às falas dos jornalistas, eles próprios acostumados ao mimetismo.

Para entrar no meio desse tiroteio é preciso muita coragem _ artigo cada vez mais raro entre os profissionais da imprensa, infelizmente. Boa parte dos jornalistas foge da polêmica, essa bala perdida pode chegar a qualquer tempo, com toda a força das pernas. Desperdiça o talento em nome da comodidade. Dá no que dá: jornal com gosto de comida de hospital; blogs e colunas temperados à malagueta. :)