À beira de um ataque de nervos

Os ecônomos do Planalto - aqueles dez funcionário responsáveis pelas compras da família do presidente Lula, que gastaram, só no ano passado, R$ 3,86 milhões, entre saques e compras com os cartões corporativos - foram orientados a não dar entrevistas. Longe dos microfones, porém, eles se queixam de que estão sendo tratados como bandidos e afirmam que todas as despesas foram realizadas por determinação da Presidência. É o que conta a matéria de Simone Iglesias para a Folha de S. Paulo deste domingo.

Os funcionários Presidência da República também estariam perdendo o sono ante a possibilidade de serem chamados a depor na CPI dos Cartões - chegaram a fazer uma reunião na última semana para saber como se comportar diante da Comissão. Funcionários de carreira, cedidos para a Presidência da Repúbica, eles sabem que perderão o cargo de confiança se falarem sobre as despesas sem ter autorização do governo. "Se falarmos, poderemos estar sujeitos até a problemas jurídicos. Mas vai chegar a hora em que não teremos saída", declarou um deles. (Assinante da Folha lê a matéria completa clicando aqui)

Do que vai acima se conclui que, primeiro, há muito a esconder - ou os ecônomos não estariam nervosos e preocupados em adiantar que todos os gastos foram realizados por determinação da Presidência. Segundo, que se a CPI não for só teatro, bastará convocar os ecônomos - e interrogá-los corretamente - que eles falarão. Terceiro, que eu estou delirando: CPI de verdade, convocação de funcionário da Presidência e um bom interrogatório? - tudo acontecendo ao mesmo tempo, na mesma CPI? Só em sonho.

Mas o fato inegável é: uma vez que seja chamado a realizar qualquer ato ilícito, o funcionário público tem a obrigação de denunciar - pouco importa de onde tenha vindo a ordem. Este deve ser o motivo que tem mantido insones, e incomunicáveis, os dez ecônomos da Presidência da República.