domingo, 25 de maio de 2008

Saber não dói

Sobre o estudo "O movimento Cansei na blogosfera: o debate nos blogs de política", cuja leitura sugeri ontem, gostaria de dizer, inicialmente, que não conheço seus autores. Troquei e-mail uma única vez com um deles, o professor Cláudio Penteado, para responder o questionário que me foi enviado em outubro do ano passado. Como não recebi qualquer retorno, só na semana passada fiquei sabendo, por um leitor, que o estudo fora apresentado em dezembro de 2007 e que já se encontrava disponível na web.

Como eu disse ontem, me senti muito a vontade para recomendar a leitura porque achei que meu blog foi tratado pelos pesquisadores com a maior neutralidade possível. "Possível" porque, conforme eu mesma já afirmei algumas vezes, não existe esse negócio de imparcialidade absoluta. Em ciências humanas, a imparcialidade é meta, norte, leme... Mas jamais um valor absoluto. Porque é simplesmente impossível anular o sujeito - e a crença em tal possibilidade configura um tamanho flerte com a porção positivista do marxismo que eu fico pasma de ver como alguns liberais ainda a cultivam.

Portanto, é somente sabendo que sempre haverá uma boa dose de subjetividade na eleição, hierarquização e análise das fontes, que se pode realizar estudos na área das ciências humanas - e, mais ainda, analisar os seus resultados.

No estudo em questão, é claro que houve uma eleição preferencial por blogs ditos de esquerda. Mesmo se considerarmos Noblat como um blog de centro, com espaço para opiniões diversas - e eu acho que este foi o posicionamento dos pesquisadores - ainda teremos Mino Carta e Zé Dirceu conferindo uma vantagem numérica à esquerda. Se, por outro lado, considerarmos a minha opinião, veremos que a balança pendeu para blogs que se mostraram críticos ao movimento Cansei.

Bem, é uma opção tão válida quanto qualquer outra. E se há crítica a fazer sobre isso, é o fato de que tal opção não foi explicitada nos objetivos - como eu penso que deveriam ser, na medida do possível, explicitadas todas as opções. O estudo poderia ser perfeitamente sobre blogs que se posicionaram criticamente ao movimento Cansei. Neste caso, o meu seguiria na pesquisa. Noblat, considerando que os próprios pesquisadores lhe conferiram neutralidade, talvez estivesse fora. Reinaldo Azevedo certamente estaria - como está - fora. O estudo poderia ser, ainda, sobre como os blogs de esquerda trataram o movimento Cansei. Neste caso, o meu estaria fora.

Notem que não haveria qualquer problema se os pesquisadores assumissem estas escolhas. O problema é querer analisar diferentes coberturas sobre o movimento Cansei e fazê-lo favorecendo numericamente blogs contrários - ou de esquerda. E é problema porque oferece uma informação fictícia, jamais apresentada em qualquer momento do estudo posto que não era este seu objetivo, mas sempre presente nas entrelinhas : que o movimento Cansei foi mais criticado do que apoiado na blogosfera de um modo geral.


Só que não é por isso - por uma falta de clareza na eleição das fontes - que precisamos colocar, como se dizia antigamente, a criança fora junto com a água do banho. Há coisas interessantes no estudo.

Uma análise que compara o conteúdo de blogs mantidos por diferentes atores sociais, com diferentes objetivos portanto, não deixa de ser interessante. Contrastar como um jornalista (ou dois), um ex-ministro do governo vigente - estrela de primeira grandeza do partido que governa o país - e um blogueiro independente tratam um mesmo tema é, na minha opinião, o maior mérito deste estudo. E porque me dei ao trabalho de reler os posts que escrevi sobre o Cansei, posso afirmar que, pelo menos no que respeita ao meu blog, a análise de conteúdo foi muito bem realizada.

Por outro lado, eu discordo um pouco da análise dos comentários. Não pela análise em si mas porque, no que se refere ao meu blog, cuja moderação fica à mercê do meu humor, aquele índice de comentários "dispersivos", por exemplo, é muito questionável. Impossível lembrar se foi o que aconteceu na ocasião mas sei que, algumas vezes, irritada com a mudança de assunto, a partir de um certo momento eu começo bloquear comentários dispersivos. Não imagino como esta variável deveria ser tratada pelos pesquisadores . Penso, contudo, que ela é um complicador.

Aliás, a minha moderação foi alvo de críticas - principalmente pela falta de clareza das regras. Comunico que vai continuar assim. Este negócio de blog como espaço democrático não é comigo. Blog mantido com recursos privados não tem a menor obrigação de ser espaço democrático - vai de acordo com o humor do dono. E o humor desta dona aqui não cabe em regras. Oscila. Quem não gostar que pegue o chapéu e tome o caminho da porta. A diferença é que e não tenho problemas em assumir esta subjetividade, enquanto que José Dirceu, por exemplo, apresenta regras só para inglês ver: comentários críticos, independentemente de respeitarem ou não as regras, são postados ou bloqueados ao sabor do seu estado de ânimo.


Só que eu poderia fazer como alguns comentaristas fizeram ontem: jogar tudo fora porque, afinal de contas, o estudo mostrou simpatia por blogs de esquerda - alguns, apressados, chegaram a levantar problemas metodológicos inexistentes. Preferi, ao contrário, ler, comparar com os meus posts e aproveitar o que o estudo, a despeito de sua subjetividade, trazia de interessante. Simplesmente porque, uma vez que não acredito na imparcialidade absoluta, esta é a maneira correta de me comportar diante de pesquisas na área das ciências humanas. Ou não poderei dar crédito a nenhuma delas - nem mesmo às que, porventura, forem realizadas privilegiando fontes de posicionamento à direita. Serei obrigada a descartar todas como "não confiáveis".

No entanto, ao contrário de rejeitar, preferi saber. Saber, por exemplo, que o meu blog foi o único a apresentar post propositivos, que buscavam oferecer uma solução para a questão em debate - e que fez tal coisa sem uma argumentação ideológica ou partidária - foi motivo de orgulho. Por outro lado, saber que eu sou mais irônica do que o Noblat - cujo excesso de ironia, muitas vezes, me irrita - é um estímulo e tanto para uma autocrítica. O mesmo se dá com o decepcionante índice (37%) de post "opinativos" - meu ideal de blog fica acima dos 80% de opinião pessoal.

Só me resta, portanto, confessar que eu adoraria saber se estes índices se repetiriam caso fossem estendidos para além do movimento Cansei.

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