quarta-feira, 1 de abril de 2009

Como perder a razão

Descerrar três placas com os nomes das 126 vítimas de ações armadas de grupos de esquerda durante a ditadura militar é algo louvável. É um resgate histórico tão legítimo quanto aquele, já cristalizado na memória nacional, que enumera os mortos e desaparecidos nos porões da ditadura. Principalmente quando percebemos que a grande maioria dos formadores opinião - em especial aqueles ligados aos que hoje ocupam o poder - preferem jogar estas mortes para baixo do tapete.

Agora, fazer isso em uma solenidade comemorativa chamada de "45º aniversário da Revolução Democrática de 31 de março de 1964" é jogar a iniciativa na lata do lixo. Porque não houve revolução. Houve golpe. E, longe de instaurar uma democracria, sabemos que o golpe deu início a uma didatura - e aqui pouco importa se foi para impedir a instauração de uma outra ditadura, só que de esquerda. Os fins não justificam os meios - e isto vale para todos.

Então é uma lástima que algo tão importante - a memória dos que morreram vitimados pelo terrorismo da luta armada - corra o risco de cair no ridículo porque os militares insistem no mesmo erro que acomete as esquerdas: resgatar apenas a parte da história que lhes favorece.

Que tivessem descerrado as placas em 28 de agosto, data em que foi sancionada a Lei da Anistia, ou em 15 de janeiro, dia da eleição de Tancredo Neves - poderiam até fazer elogios à Figueiredo, por realizar a transição, se assim o quisessem. Mas chamar o golpe de "revolução" e dizer "democrático" o que foi essencialmente ditatorial é distorcer demais a história - e, com isso, perder a razão.

13 comentários:

Paulo Araújo disse...

Ótimo post, NG. Admiro em você a coerência de pensamento que recusa os dogmatismos.

Luiz Felipe Pondé escreveu (“Ditaduras” – FSP 09/03/09):

"O golpe de 64 marca um mito fundador da esquerda brasileira. Sem ele, muita gente não teria carreira intelectual ou política. (...) No caso brasileiro, a sobrevida de muitos 'combatentes' contra a ditadura tem essa marca.(...)

Fala-se pouco acerca do fato de que muitos 'combatentes' da ditadura brasileira eram amantes das ditaduras comunistas. Esse fato não muda a violência de nossa ditadura, mas deveria adicionar um dado de consciência histórica que não me parece receber a devida atenção por parte dos herdeiros do espólio simbólico das vítimas."

Esse me parece ser o ponto. O triunfo da mitologia influente é a última obra da ditadura militar.

E esse é o ponto a sobrelevar na atual discussão. Os golpistas de 64 contribuíram efetivamente para a produção histórica do mito.

Quanto aos mortos do lado “deles”, concordo plenamente com a sua ponderação. Acrescento, repetindo o que está no post, que a mentira do “contragolpe” preventivo é um abuso da linguagem que precisa de razões excusas para se justificar. E como você bem mostrou, a verdade das 126 vítimas não precisa se desculpar e nem precisa da nobre mentira (“Revolução Democrática”).

No Brasil vivemos muito tempo sem direitos e sem o Estado de Direito. Por mais imperfeita que seja a democracia ela é a única garantia de pelo menos parte dos nossos direitos à vida e ao pensamento. Os donos do estado de exceção, sejam eles quais forem, desconhecem direitos.

C. Mouro disse...

Primeiramente não se trata de "fins que justicam meios" por mais oportuno que possa parecer exibir tanta beleza de "coerencia democratica".

Ou seja, chamar de "fins que justificam meios" uma efetiva reação não tem bom odor. Seria o mesmo que afirmar que prender bandidos, reagir a eles, usar armas contra eles, seria usar os mesmos meios que eles. Fazendo uma linda afirmação sobre meios e fins sem noção do que está afirmando, imersa no deslumbre de bom mocismo inconsequente, envaidecendo-se com tal impostura.

Reagir a bandidos USANDO A FORÇA COMO MEIO, não é justificar os meios pelos fins, NÃO.
É questão de justiça. A retribuição é o principio da justiça e nada tem com justificação de meios por fins. Ou será que a nobrilissima democratississima e magnânima NG também considera que a policia armada revidando tiros, atacando e prendendo bandidos também é uma deplorável justificação de meios por fins????
Afinal, reivindicar a prisão de bandidos para proteger cidadãos inocentes seria justificar os meios pelo fim???
Prender, atacar, matar não é incondicionalmente proibido segundo a ética (filosofia da moral), segundo a idéia de justiça.

A nobrilissima e coerente NG condenaria que a policia (um atirador de elite) matasse um sequestrador prestes a matar uma criança inocente tomada como refém??
...NG desaprovaria, por exemplo, que um pai tendo a oportunidade de atacar com um facão, ou qq arma, um fortissimo sequestrador prestes a estuprar sua filha de 12 anos, e talvez mata-la como fez com sua esposa???

...A magnifica perfeita NG condenaria tal pai dizendo-lhe que o fim de salvar sua filha inocente não justificaria os meios que usou para tal???

Francamente, menos NG, menos!
Um pouco de reflexão antes do deslumbramento com a oportunidade é recomendável.

No mais, NG aprova o que ocorreu na Colômbia com as FARC, onde dezenas de milhares de INOCENTES foram torturados e assassinados por facinoras guerrilheiros? ...E isso que defende NG? democracia (ditadura dos eleitos) como meio de combater assassinos ideologicamente organizados??? ...e que nada respeitam.

Que lindo! é mesmo magnanima! deveria também recomendar "dar a outra face" e "amar os inimigos" como meio de combater facínoras democraticamente.
Saberia NG justificar sua defesa da democracia(ditadura dos eleiotos) racionalmente, sem a beleza dos achismos?

Perdoe-me o tom, mas falta reflexão em certas exibições de "beleza moral", a ambição (mais a psicológica/intelectual do que a material) cega.

Abs
C. Mouro

(C. Mouro, da mesma forma que eu não aceito que Dilma se diga "uma menina" à época em que foi torturada - simplesmente porque ela não era uma menina, era uma terrorista experiente - , não admito que chamem um golpe ditatorial de "revolução democrática". Quanto ao resto das suas acusações - apoio às Farcs, etc e tal - nem valem o debate. Quem conhece este blog sabe o que eu defendo. Quem não conhece que vá consultar o arquivo antes de escrever asneiras. Perdoe-me o tom, mas falta de coragem e ombridade para assumir o passado como ele realmente foi é algo que muito me irrita. Brincar de soldadinho é barbada. Mas assumir o ônus sem querer dourar a pílula é coisa para poucos. NG)

Brainiac disse...

À parte a discussão de fins e meios, o que houve em 1964 foi realmente uma revolução, e não um simples golpe militar.

Como o assunto é afeito à Ciência Política, convém usar as definições que os profissionais da área utilizam:

1. Um golpe de estado é a troca de mandatário pelas vias de fato, com ou sem violência, com persistência da mesma classe política no poder; como exemplo temos a ascenção do General Galtieri à presidência da Argentina em 2001.

2. Uma revolução existe quando esta troca de mandatário traz também troca da classe política no poder.

No caso de 1964, o poder passou da classe política para a classe militar. Isso explica o fato de políticos de primeira linha que apoiaram o movimento (tais como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães) ou ficaram sem papel no novo regime (Lacerda, JK) ou migraram para a oposição (Ulysses).

Desfeita a confusão, meto agora a minha colher no assunto do post. Não vejo nada de errado em homenagear as vítimas da esquerda armada num dia 31 de março. Poderia ser nessa como em outras datas.

(Braniac, desculpe, minha visão é história. Revolução exige significativas mudanças sociais, econômicas e/ou culturais - sem isso, a tomada do poder político ,seguida da dissolução de partidos e do surgimento de uma polícia política, é golpe. E eu discordo de você sobre o dia escolhido para a homenagem - simplesmente porque ele foi um dia bem infeliz - infeliz, note bem, não desnecessário - de fechamento do congresso nacional. Em suma, o cidadão que planejou a festa e redigiu o convite é uma anta. Pôs a perder uma belíssima causa ).

marcelo disse...

NG, o ato do golpe militar não foi sem motivo. Pelo contrário, foi atender a um apelo popular em defesa da constituição e da democracia. Nesse caso a "Revolução Democrática" tem seu sentido já que a alternativa era a "Revolução Comunista".

O plano inicial era ter eleições ao fim do mandato derrubado pela junta. Você pode apontar o erro a partir desse ponto, de não terem cumprido o prometido. Todos os excessos que ocorreram também não são justificáveis.

Quanto ao "fins não justificam os meios" reflita sobre historia cubana dos últimos 50 anos... o simples fato de você ter acesso a um computador e expressar sua opinião livremente... tem passaporte?... pense um pouco nisso antes de esbravejar contra uma data comemorativa e de por no "mesmo saco" os que morreram para preservar a liberdade que desfruta hoje.

Hoje, infelizmente, esta liberdade está em risco.

(N.G.: Marcelo, onde foi que eu disse que o golpe foi sem motivo? O post é cristalino: comemorar a 'revolução' de 64 é simplesmente ridículo. Foi golpe de estado - e foi feio desde o primeiro momento, quando fecharam o congresso nacional. Necessário? Sim, provavelmente. Mas feio. Nada a ser comemorado. E a homenagem às vítimas do terrorismo de esquerda, uma idéia maravilhosa, não merecia ser associada a comemoração tão ridícula - simplesmente porque ao invés de ser levada à séro vai virar motivo de piada. Em termos discursivos é um verdadeiro desastre. Esta é a minha opinião. Certamente não é a opinião de muitos dos meus leitores - o que eu respeito, na boa, desde que, para defender seu ponto de vista, eles não distorçam o que eu escrevi.)

marcelo disse...

NG, se me permite esclarecer -- não precisa publicar e eu prometo encerrar minha participação aqui:

Note que o evento foi o "45º aniversário da Revolução Democrática de 31 de março de 1964". Uma única data, um evento histórico comprovado na midia da epoca. Não estavam comemorando o periodo de repressão e abusos.

"onde foi que eu disse que o golpe foi sem motivo?"; foi exatamente aqui -> "[...] e aqui pouco importa se foi para impedir a instauração de uma outra ditadura [...]"

Não é o tema central do seu texto, mas fez parte do seu argumento.

Talvez hoje seja prático concluir que, se uma ditadura era inevitável, tanto faz uma ou outra e os militares poderiam ter se poupado do desgaste, daí o "sem motivo".

Mas não se pode apontar aquele fato histórico sem os motivos que levaram a aquele momento e, naquela data, haviam apenas duas alternativas: a ditadura comunista (quase implantada) ou o golpe militar clamado e depois aclamado pela população consciente do perigo comunista. Os abusos cometidos pela junta militar só aconteceriam mais tarde.

E, por fim, "resgatar apenas a parte da história que lhes favorece" é um fato recorrente desde o inicio da humanidade. A História seria outra se outros a tivessem contado.

(Marcelo, "[...] e aqui pouco importa se foi para impedir a instauração de uma outra ditadura [...]" significa o contrário do que você sugere: significa que não é porque teve justificados motivos que vamos, agora, chamar de 'revolução' aquilo que foi, na verdade, um golpe. Por fim: resgatar apenas parte da história pode ser hábito cultivado desde o inícios dos tempos. Nem por isso deve ser aceito hoje em dia. E, de fato, não é aceito - ou os militares não viveriam acusando a esquerda de fazer isso. E é aí que eu pergunto: com que moral eles pretendem exigir isso se incorrem no mesmo erro?)

Paulo Araújo disse...

[O golpe militar se fez para] “atender a um apelo popular em defesa da constituição e da democracia”.

De onde você tirou os fatos que sustentam esse enunciado, Marcelo? A primeira decisão dos golpistas foi destituir a soberania popular expressa na Constituição vigente em 1964. Isso é defender a democracia? Procure ser menos ideológico e informar-se melhor sobre os fatos do imediato 31 de março.

Não lhes parece estapafúrdia, caros comentaristas, ideia de que a ditadura salva a democracia? Eu gostaria que vocês exemplificassem em qual tempo e em qual lugar na história alguma outra ditadura alguma vez salvou a democracia.

Fantástico que comentaristas ativem contra o post a noção leninista de revolução para justificar afinidades ideológicas com um golpe de estado. Para quem não sabe, o Ato Institucional nº 1 é o ato fundador da ditadura e foi promulgado pelos próprios golpistas em 01/04/1964. Invertam os sinais ideológicos, e o mesmo ato pode ser utilizado como elemento de justificação para qualquer golpe de inspiração leninista.

Alguns fatos:

[O Poder Constituinte] “se manifesta pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como o Poder Constituinte, SE LEGITIMA POR SI MESMA (...) Ela EDITA NORMAS JURÍDICAS, sem que nisto esteja limitada pela normatividade anterior à sua vitória.”

Acima um trecho do Ato Institucional nº 1 com o argumento de legitimação do golpe. Ou seja, os golpistas de 64 decidem que a “revolução” é soberana para criar o direito.

Para efeito didático, vamos considerar com os sabidos em ciência política que o golpe foi uma revolução.

Mesmo que fosse uma revolução, a ciência política democrática alerta que revoluções não são fontes do direito, logo não podem investir-se de poder constituinte. Revoluções são movimentos que ocorrem na história e muitas têm em comum o fato de visarem a destituição de um poder tirânico de fato. A natureza tirânica de um governo é a causa primeira das revoluções. A derrubada de um poder tirânico é legitima, mas tais movimentos por si só não podem usurpar a soberania popular e, desse modo, arvorar-se na criação do direito.

Na democracia, fonte do direito é o soberano povo. Em determinadas situações, revolucionárias ou não, o povo elege os seus representantes (e ao fazê-lo, delega parte da sua soberania, mas limitando a delegação à duração de uma legislatura e a um fim precípuo) com vistas à constituição da sociedade civil no Estado de Direito. Isso aconteceu no imediato pós-64?

Impressiona a popularidade da falácia do “golpe bom e justo” nos primeiros anos da ditadura. O que aconteceria se Jango não tivesse sido destituído do poder? Sei lá. Como é possível ir além de conjecturas quando se pensa sobre coisas que não existiram?

E se os golpistas de 64 eram tão bem intencionados e tão democráticos, por que impuseram logo de cara ao Congresso o Ato Institucional nº 1? Por que não negociaram no Congresso uma data certa para eleições democráticas para uma nova Assembleia Constituinte?

O fato histórico ineludível, caros defensores dos golpistas, é que se deve a essa malfadada aventura antidemocrática de civis e militares a existência dessa mitologia de esquerda que lhes é posterior. Aos civis e militares golpistas cabe parcela bem grande na responsabilidade pelo triunfo atual da mitologia de esquerda.

Sharp Random disse...

Ah! Que pena, perdi o timing.
Gosto de comentar, no calorrr, do debate.
Na próxima revolução comparecerei pontualmente prá nomeá-la como merece.
Afinal todos sabemos que está sendo gestada num antro que só tem produzido 'golpes'.

Êta, Nariz Gelado. Que frio.
Abraço fraterno do Sharp.

Sharp Random disse...

Um viral que vale a pena.

http://idgnow.uol.com.br/internet/2009/04/01/blogueira-yoani-sanchez-e-acusada-de-provocar-contra-revolucao-em-cuba/IDGNoticiaPrint_view/

Obrigado, NG.

C. Mouro disse...

Veja, NG, do que você se valeu para me responder:
Afirmaste que eu a acusei de defender as FARC, quando eu apenas escrevi

"No mais, NG aprova o que ocorreu na Colômbia com as FARC, onde dezenas de milhares de INOCENTES foram torturados e assassinados por facinoras guerrilheiros? ...E isso que defende NG?"

Como voce pode ver repetido, eu não a acusei de defesa das FARC, mas apenas perguntei se aprova o que ocorreu com a Colombia, com os guerrilheiros que assassinaram dezenas de milhares de inocentes.
Voce apenas alterou o que eu disse para simular uma resposta conveniente.

No mais, concordo que usar a expressão "revolução democrática" não é correto, mas é uma resposta no mesmo nível daqueles bandidos que se dizem, E SE DIZIAM, lutadores contra a dita dura. Eles precisam esculhambar a dita dura como meio de mitigar o próprio vexame por terem defendido ditaduras socialistas para se exibirem "jovens salvadores", quando não o eram.

Coerência democrática nada tem com exibicionismo de democratismo. Por exemplo, é proibido a propaganda nazista. É proibido insuflar o racismo, dá cadeia. Seria democratico que nada se fizesse para impedir que lideranças insuflassem massas uns contra os outros, reivindicando o exterminio dos "inimigos" de classe ou raça? seria democratico insuflar ataques a inocentes?
Se houvesse grupos guerrilheiros, sequestradores assassinos nazistas ou talibãs seria democratico combate-los com eleições livres.
Pense. Só isso. Reflita sobre o que disse.

Será mesmo tão coerentemente democratica?

Abs
C. Mouro

(C. Mouro, pode ter certeza de que eu reflito antes de publicar um post. O problema é que você interpretou a minha crítica à cerimônia e ao fato dos militares resgatarem apenas a parte da história que lhes favorece - postura que, aliás, eles vivem a condenar no pessoal da luta armada - como uma discussão a respeito do mérito do golpe. Algo um tanto incompreensível já que aquele "e aqui pouco importa se foi para impedir a instauração de uma outra ditadura" era um aviso claro de que as causas não estavam em pauta. NG)

Aluizio Amorim disse...

Nariz,
você tem razão. Como democratas postulamos sempre a democracia, a alternância do poder e a liberdade. Entretanto, se não fossem os milicos bem que poderíamos ser hoje uma grande Cuba e nas ruas circularíam Simcas, DKWs e o que havia de carros importados em 1964. Será que teríamos energia elétrica suficiente? Será que teríamos alimentação suficiente? Ou estaríamos todos os dias nas filas dos supermercados da Sunab e do SAPS (credo, que coisa antiga)com as prateleiras vazias? Hehehehe...

(Até tu, Brutus?)

C, Mouro disse...

Vejamos, NG escreveu:

"e aqui pouco importa se foi para impedir a instauração de uma outra ditadura, só que de esquerda. Os fins não justificam os meios - e isto vale para todos."


E depois:

"O problema é que você interpretou a minha crítica à cerimônia e ao fato dos militares resgatarem apenas a parte da história que lhes favorece (...) como uma discussão a respeito do mérito do golpe. Algo um tanto incompreensível já que aquele "e aqui pouco importa se foi para impedir a instauração de uma outra ditadura" era um aviso claro de que as causas não estavam em pauta."

NG, não dá para negar que criticou o golpe nos comunas safados, sim. Seu post visou embelezar-se com a o "os fins não justificam ou meios". Ou seja, o "pouco importa se foi para impedir a instauração de uma outra ditadura" foi escrito com sentido, no contexto, diferente do que agora afirmas.

O fato é que condenastes a reação as barbaridades que já se iniciavam pelas mãos de facinoras socialistas apoiados por jovens inseguros e vaidosos que se pavoneavam com a propaganda de "salvadores revolucionários" e abanavam bandiras vermelhas em apoio fétido a Fidel e demais genocidas assassinos que encantavam paspalhos com sua propaganda moral fajuta.

Muitos destes "salvadores" ansiosos por cargos na ditadura socialista se encabularam somente depois da queda do muro, acreditando que se desmoralisariam se ainda insistissem na farsa de exibirem-se filantropos socialistas salvadores do mundo. Daí tornaram-se "democratas incondicionais" tal qua Zé Dirceu, Dilma, Genoino e etc. e tal.
O pavoneamento não pára. Fazendo surgir asneiras mastodônticas como a de que "o direito emana do povo"

...emana das preferências subjetivas majoritárias???
Então escravizar negros era direito dos brancos? pois o povo da época apoiava a escravidão como meio de prosperar. Assim, iniciava a violação em nome de um fim, e não uma reação.

É comum se achar, sim apenas acham, que o direito decorre de meros costumes, do arbítrio de intermediários de deuses, do voluntarismo estatal (como justiça sendo a vontade do mais forte: o Poder estatal) ou até de meras preferencias subjetivas majoritárias, relativisando cretinamente a idéia de justiça e de direito. É o falatório que se pauta pelo modismo inconsequente, os pavoneamentos irresponsáveis.

Se não postar reconhecerei seu legitimo direito de arbitrar dentro da sua "casa". É legitmo, é justo. Eu apenas opino se me é permitido. Escrevo

Brainiac disse...

OK, este será meu último comentário neste debate que já está um tanto frio, com o único intento de esclarecer minha posição.

Quando falei da melhor aplicação a 1964 do conceito de revolução usado pelos cientistas políticos, me referia à tese sustentada por René A. Dreifuss, um "sciencepô" uruguaio falecido já há alguns anos. Ele é autor de um livro que ainda é a última palavra sobre a participação "dazelite" empresariais e intelectuais de direita na preparação do movimento de 1964. Provou muito bem provado o seu ponto, sem deixar espaço para teorias alternativas. Se o que ele fez foi Ciência Política ou História, sei lá. Melhor chamar apenas de Ciência. À parte a discussão golpe/revolução, não me sinto à altura de discutir História contigo, pois é coisa que fazes 100% do tempo e com muito preparo, e eu por diletantismo e usando apenas minha curiosidade e o que me permite a memória.

Anyway, concordo com o absurdo e o primarismo intelectual da tentativa de justificar 1964 como uma "Revolução Democrática" - era melhor não falar nada e deixar o fato em seu lugar, pois a construção não é mais do que um oxímoro. Ato de força que são as revoluções, elas são portanto incompatíveis com o método democrático. O termo surgiu com certeza porque se tratou de uma contra-revolução (ou contra-golpe se quiser), pois havia um projeto ditatorial em marcha pelo lado da esquerda - e isso já foi provado tanto pela Ciência Política quanto pela História. Mas usar o que poderia ter acontecido no passado para justificar hoje o que foi feito não é Ciência- é Política.

Mas os mais de 100 mortos pela esquerda armada após 1964 também são fatos que merecem o seu lugar, e não acho que diminua a causa a homenagem de 31 de março último. Merece homenagem todos os dias, assim como nos cansamos de ver na Imprensa gente falando dos "porões da ditadura". Falemos dos "porões do terror", portanto. Inclusive em 31 de março.

Abraços.

Paulo Araújo disse...

Caro Brainiac

“pois havia um projeto ditatorial em marcha pelo lado da esquerda - e isso já foi provado tanto pela Ciência Política quanto pela História”.

Não se discute que o projeto da esquerda marxista-leninista até hoje é ditatorial. O que se discute é se esse projeto estava em vias de se efetivar em 1964. No meu entendimento, não estava.O que havia de sobra na época era a costumeira bravata do PCB e do esquerdismo acadêmico com o seu deslumbramento francês pela “teoria” do foco, aliados à arrogância e dogmatismos típicos dos intelectuais marxistas. Pagamos os brasileiros pelas irresponsabilidades políticas de uma parcela. Não é preciso falsear a história, e defender o golpe de 64, para fazer luta política contra os atuais herdeiros do espólio esquerdista de 1964.

O que efetivamente jogou a CNBB e as Forças Armadas nos braços dos golpistas, e isso determinou o sucesso do golpe, foi algo bem mais concreto e de alto poder desestabilizador do Estado de Direito, a ponto de permitir que o golpe fosse ordenado sem maiores consequências. Lembro que Jango pulou fora assim que lhe foi garantida a partida para o doce exílio. Refiro-me aos reiterados ataques de Jango e aliados a dois princípios fundamentais para essas duas poderosas instituições: a hierarquia e a disciplina.

Resumidamente, são três os elementos mais importantes na geração do golpe de 1964:

1. A intensa pregação jurídica antiliberal pelo Estado forte que remonta aos primórdios da República (Francisco Campos, autor da famosa “polaca” de 1937, redigiu o Ato Institucional nº1).
2. A Igreja Católica com a hierarquia ameaçada pela crescente secularização das suas hostes (exemplo: o esquerdismo católico da Ação Popular).
3. As Forças Armadas com a ameaça à disciplina iniciada com o episódio da renúncia de Jânio, e culminando no governo Goulart com a fratura ocorrida no interior dos quartéis e evidenciada nas sucessivas manifestações de insubordinação pelas patentes inferiores.

Enfim, o golpe não se fez “contra os comunas safados”, isto é, não se fez para nos salvar de uma iminente revolução comunista. A atribuição de potência aos “comunas safados” para ordenar um golpe comunista em 1964 é de dar risada. Fazer isso é atribuir ao PCB e aliados uma organização e força política que eles nunca tiveram. Essa importância do PCB é restrita ao ambiente acadêmico. Na luta política efetiva, o PCB perde de balaiada para o PTB, PSD e UDN. Aí inventaram a desculpa de que sempre foram perseguidos etc.

Mesmo a luta armada como opção efetiva de luta política nunca passou de uma aventura esquerdista (mais uma) que custou vidas de inocentes e serviu de pretexto para o recrudescimento da ditadura.

Que se faça hoje a luta política e ideológica contra os “comunas” é legitimo e necessário. O que é errado fazer, mesmo que em nome dessa luta de hoje, é embaralhar ideologicamente os fatos do passado.