sexta-feira, 1 de maio de 2009

Herança maldita

"Eu não sei o que vocês veem de novidade no que acontece na Câmara. Qual é a novidade que vocês descobriram? Que um deputado utiliza passagem? Isso é utilizado desde que o Congresso é Congresso, gente. Qual o país que não tem um problema? É preciso parar com a mania de achar que somente no Brasil é tem determinadas coisas".

Este foi o Lula, ontem, em entrevista coletiva no Copacabana Palace.

Esta postura, tantas vezes repetida, de um presidente da República que pensa que a corrupção é um tema menor, será a maior herança de Lula para o país. Herança cujos danos serão profundos e duradouros porque nos é legada por um presidente que apresenta índices inéditos de popularidade.


O partido usou caixa 2? Todos mundo usa. O companheiro ministro formou quadrilha? Ainda não foi condenado. O companheiro ministro quebrou, ilegalmente, o sigilo bancário de um cidadão? Deixa pra lá. O companheiro foi pego com quase 2 milhões de dólares, gelados, para compar um dossiê? Não há provas! O irmão foi pego fazendo tráfico de influência? Ele é só um lambari! , etc, etc, etc... Dá até para parodiar o presidente, dizendo que não há qualquer novidade em sua atitude - e que sua leniência com corruptos existe desde que Lula é Lula.

Para os que o apoiam, contudo, o importante é o número de cidadãos que saíram da miséria. O fundamental é, como diz o próprio Lula, que o governo está fazendo chegar mais comida na mesa do povo. Todo o restante, alegam os defensores do leniente, são detalhes que ficam pequenos diante de tamanho 'avanço social' Porque, dizem eles, basta olhar para o passado para perceber que Lula fez, nesta área, mais do que qualquer outro.

Essa é, de fato, uma argumentação quase imbatívell. Porque, desconsideradas as apropriações de programas anteriores e um quadro econômico para lá de favorável, é bem provável que ela seja verdadeira. O que pode nos ajudar compreender a dependência que os defensores de Lula desenvolveram em relação ao passado e o baixo nível de expectativas que decorre desta postura: Fernando Henrique Carodos é seu norte; é tudo aquilo que eles esperam superar. Nada abaixo de Fernando Henrique. Nada além dele.

Tanto isto é verdade que poucos são os que conseguem argumentar pautados no presente. E mais raros, ainda, aqueles que se aventuram a construir qualquer argumento olhando para frente. Vai ver é porque não gostam do que vêem quando se arriscam a vislumbrar o futuro. Quem pode condená-los? Uma nação de canalhas bem nutridos não é, de fato, uma coisa bonita de se ver.

3 comentários:

Ari disse...

Peraí, deixa eu ler de novo.
...
Caramba!
E pensar que uma mulher, possivelmente loura, escreveu isso! Vocês estão mesmo melhorando
...
Brincadeira. Desde Cecília Meireles, no meu horizonte, já conheci do que são capazes.
Admirável leveza e exigência.
Sugestão.
Norte.
Poder.
E parabéns.

Pedrão disse...

Desperdiçar o dinheiro dos contribuintes só é um problema menor nas repúblicas bananeiras. E não se trata de mixaria. Se você multiplicar a "mixaria" pelo número de parentes e apaniguados premiados, o que é "pouco" acaba virando muita coisa. Falando em "pouca coisa", muitos hospitais públicos e postos de saúde não recebem gaze e esparadrapo regularmente por falta de verbas.

marie tourvel disse...

Tá tudo muito banalizado, né, Nariz? Dá desânimo mesmo. Parece até que a gente é que pensa errado.