sábado, 30 de abril de 2011

Quem tem medo do PSD?

E não é que aquilo que mais irrita – ou diverte – os críticos do PSD é justamente o que mais me agrada?
O ecletismo ideológico apresentado na fase inicial de gestação da legenda é uma das coisas mais francas a surgirem na política nacional na últimas décadas. Tão franca, que desconcertou a maioria habituada àquela farsa natural que costuma pautar o surgimento de novos partidos no país.

Ok… Talvez “farsa” seja uma palavra forte demais. Mas está muito perto disso aquela atitude de dar a luz a uma legenda que já tem, antes mesmo de sair do berçário, suas bandeiras bem definidas, como se partidos, ao fim e ao cabo, não fossem um aglomerado de políticos que têm suas próprias agendas, reunidos por um mínimo de interesses em comum. Como se, no Brasil, o que definisse a ida de políticos de um partido para outro não fosse a maior ou menor possibilidade de realização dos seus projetos pessoais.

O que, me parece, sempre aconteceu, é que esta realidade tem sido bem camuflada, sob o manto ideológico dos programas amarradíssimos, que já nascem antes mesmo da legenda, oferecendo um discurso pronto para quem quiser embarcar. Um discurso que, porque nunca foi realmente concreto, acaba por virar pó, ao sabor das eleições, das alianças regionais e, no caso de uma passagem à oposição, da “governabilidade”.

As primeiras reações à franqueza ideológica que permeia o surgimento do PSD – assumir que não há uma ideologia definida – não me deixam mentir: esta camuflagem é cômoda; ordena as coisas para os chamados “formadores de opinião”; permite que eles rotulem, definam e julguem, de imediato, a nova legenda.

Não pensem que reagi de forma diferente. Não, senhores. Também torci o nariz. Mas, passados alguns dias, comecei a perceber que o que o PSD fez foi, apenas, escancarar à luz do dia a mecânica, até então oculta, de um nascimento partidário. Nada mais do que isso.

Ocorre que, nisso, desconstruiu, desarrumou as coisas de tal forma que os formadores de opinião, com raras exceções, reagiram como normalmente reagem os humanos diante do desconhecido: com estranhamento, espanto e, por vezes, medo seguido de agressividade.

Não sei o que será do PSD. A adesão imediata de quase 40 deputados federais e dois senadores foi uma demonstração de força, é claro. Digo que não sei o que será sob o ponto de vista de programa partidário. Mas vou lhes confessar que a franqueza inicial, a possibillidade de uma página em branco por ser escrita, me agrada. Porque sugere que qualquer agenda, por mínima que seja, advinda desta junção eclética de políticos, será mais verdadeira do que qualquer outra que já tenha nascido pronta. No mínimo porque será gestada – e a esta altura não há outra forma de fazê-lo – às claras.

É uma boa notícia. Principalmente para quem já cansou de ver certezas ideológicas, cantadas em prosa e verso, serem abandonadas na primeira esquina eleitoral. Se a guerra santa da última eleição presidencial, aquela baixaria de “meu pastor é melhor que o seu”, não lhe embrulhou o estômago, é provável que você não entenda o que estou falando.

Por ora, o que eu espero deste PSD – que não sei se vai ou não conseguir levantar, um dia, algumas bandeiras às quais eu possa aderir – é que se mantenha aberto ao debate, como parece disposto. Que deixe surgir, com naturalidade, novas lideranças. Que chame o eleitor, o quanto antes, para ouví-lo e construir, com ele, um programa. E que não cometa um erro mortal: trazer para si medalhões que só fizeram dividir e criar feudos em outras legendas, colocando a perder três eleições presidenciais.

Obs: com a migração para o Blogspot, os comentários deste post tiveram sua data original alterada. Fique registrado que todos foram feitos entre os dias 30 de abril e 05 de maio.

30 comentários:

Raimundo Gabriel disse...

como ex-udenista já começo antipatizando com este psd. afinal ele é da direita, da esquerda, do centro, lulista, dilmista, serrista, se eles próprios não se definem passo a considera-los um ajuntamento de oportunistas. o futuro vai dizer o que querem e para onde vão. a mim não merecem nenhuma fé.

Nome Próprio disse...

Ótimo,Nariz Gelado!

Eu, que estou aqui,”refundando-me”,saúdo o seu retorno.

Josefa Ivone Conceição disse...

Olá NG!

Estou muito feliz com o seu retorno. Estava anciosa para que voltasse logo. Quero lhe desejar muita saúde, paz e muitas alegrias. Sei que terás muitos temas para ser debatido daqui prá frente, pois estamos caminhando para mais uma eleição, e verdades, fofocas, picuinhas não faltarão com muita certeza! Leio todos os dias o blog do Coturno sou fã de carteirinha, como serei sua também daqui pra frente. Espero esquentar os dabates!
Força….. amiga ! Muitas felicidades!!!

Oliver disse...

Querida NG:
Aqui estamos de novo agitando nossas humildes bandeirinhas em favor da democracia. Fico feliz em relê-la, minha web-querida. Mas devemos ir devagar com a louça, como você bem descreveu em seu post. Esta estranha forma de democracia em que vivemos já me fez votar três vezes no mentor deste partido esquisito, sem que eu tivesse um pingo de apreço por suas ideias ou por sua trajetória política. Tudo para não ver a quadrilha petralha no comando de minha cidade e do meu Estado. Sou paulista – paulistano, o que me faz viver bem debaixo da administração do cidade-limpa. É medíocre. É farinha do mesmo saco. Por outro lado, fico feliz em perceber que o maior nome de nossa oposição atual é uma mulher que é tudo o que a imbecil que se aboletou naquela cadeira gostaria de ser e não tem “célebro” para tanto. Se o novo partido já nasce com a senadora falando mais grosso e firme que o nosso Hipocondráusio dos genéricos, isso pra mim é um alento. Vocês, mulheres, tem que tomar o poder. E rápido. Antes que os homens respinguem o azulejo todo, com suas baionetas meia-bomba e suas miras pra lá de descalibradas. Tá dificil. Na oposição, então, tá quase impossível.

Super K disse...

Bom Kassab pode ser desconhecido de muito dos brasileiros mas tem uma formação técnica de alto nível, de um Covas por exemplo. Não me refiro ao político, mas esse só se refina exercendo. Governar uma cidade como São Paulo não é uma tarefa para uma Marta Suplicy ou Mercadante. São Paulo se destaca das demais cidades brasileiras por ter sido governado, com raras exceções, por gente que sabe o que é organizar uma infraestrutura de uma cidade (incluo o Maluf também, apesar de péssimo político). A cidade do Rio de Janeiro só teve grandes alcaides no começo do século passado. Voltando ao assunto PSD, é uma tentativa válida e atualmente extremamente necessária e é bom que nasça de médio porte. Nisso ele sem querer acertou! Creio que nem ele esperava trazer pessoas do nível Katia Abreu, Fruet, Colombo. Acredito que mais políticos que considero honesto entrem para estruturar o PSD, é melhor para o país. Enfim esperemos!

Aluizio Amorim disse...

Salve, Nariz!
Fico feliz em vê-la de volta ao blog. Artigo está ótimo.
Abração

Carlos disse...

O que move o PSD é o medo. Medo de ser oposição. Medo de fugir da agenda petista. Seus líderes são aqueles que acham que estariam se queimando se continuassem associados com a imagem anti-PT do DEM (infelizmente mais uma imagem que uma realidade). Afinal Deus-Lula mandou estirpar o DEM. Os medrosos trataram de cumprir a ordem.Aliás, em SP, Kassab já tinha dado uma mãozinha a Lula ao articular a integração de 2 vereadores do DEM de São Bernardo à base de apoio de Luiz Marinho, dando-lhe a maioria na casa. O colaboracionismo kassabiano não é de hoje.

Giselle disse...

Bem vinda novamente. E parabéns pelo seu excelente texto.
Brasil, país da pouca vergonha, da total falta de moral e caráter.
Se os políticos fazem o que querem é porque tem um eleitorado omisso, alienado e o pior de tudo, compactua com essa pouca vergonha, pois se pudessem fariam igual.

liane muller beheregaray disse...

Lendo o blog do Coturno Noturno segui a indicação para ler o comentário na integra no seu blog, adorei.Ja incluí o seu blog nos meus favoritos.

Luiz Braz disse...

Existe um enorme eleitorado no Brasil que está orfão e ha muito tempo esta a procura de um partido que o represente verdadeiramente. O Dem e o PSDB ja mostraram que não estavam a altura de fazer isto. Se os dirigentes do PSD souberem agir vao engolir os eleitores deste dois partidos fajutas e leva-los aonde merecem estar, na sarjeta!

Zinha_09 disse...

Olá,querida NG!
Que alegria ler algo seu novamente!Vc não deve abandonar os textos de jeito nenhum! Eles são ótimos! Pena que vc seja bastane atarefada e lhe sobre pouco tempo para nos brindar com coisas lúcidas e bem embasadas!

Mas taí, vc escreveu algo que concordo plenamente!
Qdoo PSD “ameaçou” se formar,houve uma gritaria imensa,que me fez pensar:-Por que não se pode fundar um partido”?Qual o motivo de tantos comentários negativos e de tanta gente?

Mtos fizeram as ofensas que quiseram,inclusive alguns membros da oposição! Sei não, mas acho que a oposição está apenas colhendo o que plantou!

Enfim,acho que não podemos e nem devemos ser tão negativistas assim;temos que esperar o novo partido “crescer e aparecer”.Só então, depois de fazermos uma leitura correta do mesmo,poderemos fazer um juízo de valor!

Parabéns pelo texto e aceite meu abraço carinhoso!

marcia 1907 disse...

Isto que é volta triunfal!
Muito bom lhe reler!
E já começou provocando polêmica e fazendo pensar, qualidades importantíssima para um blog.
Felicidades!

Cristal disse...

Salve! Salve! Queridíssima … muiiiiiiitas saudades.

O Editor disse...

Olá! 1° Quero parabenizar sua volta a blogosfera, sejam bem vinda. A questão do PSD, vejo que pode ser um partido igual a outros da base aliada dos PT, nascera para vender apoio; Ou esta ocorrendo algo nos bastidores, da criação desse partido.

Um abraço, e viva a liberdade, enquando ela existir!

Carlos Alberto disse...

Gostei.
Graças ao Coturno Noturno estou aqui e gostei.
Sabe, também estranhei e reclamei muito do parto do PSD, mas você me deu um motivo para dar um crédito de confiança no ajuntamento que se fará partido.
Valeu!

Dr Evil disse...

NG,

Concordo inteiramente com voce. E nunca e demais lembrar que queimar esse partido novo e muito interessante para o PT que quer eleger um prefeito em SP a qualquer custo.

Seven disse...

Lúcida e precisa como sempre. Sou seu fã a muitos anos e saúdo seu retorno!

Nariz, acho que teremos que construir uma nova agenda para a oposição brasileira.

Em frente!

Waslon disse...

Excelente reflexão! Resta-nos esperar para verificar se as nossas bandeiras serão contempladas.

Márcio disse...

Ótimo texto. Fiquei conhecendo hoje o blog, redirecionado pelo Coturno Noturno. Abraços, já pus nos meu favoritos!

João disse...

Para ecletismo ideológico, já temos PMDB, PR e outros partidos que só servem para alugar apoio. Ao que parece, o PSD será mais um. O próprio idealizador, Gilberto Kassab, já fez questão de sair da oposição e disse que ele será um partido “a favor do Brasil” (já viu alguém formar um partido dizendo que ele é “contra o Brasil”?).

O que mais existe na babel partidária brasileira é “ecletismo ideológico”, que dá para se aliar a quem quer que esteja no poder.

O que nos falta são partidos de linha ideológica bem definida, como ocorre na Espanha, na Inglaterra e nos EUA, só para citar três exemplo, e de oposição.

PSDB e PFL já vinham fugindo disso, mas o novo partido os superou de longe. Foge como o diabo foge da cruz. Só serviu para acomodar políticos insatisfeitos em suas legendas e para enfraquecer ainda mais a oposição.

bruno disse...

Será um PSDB. É o que vira partido sem ideologia e com boas intenções tecnocráticas.

nogueira disse...

O partido é novo, o ideário político está em branco, está quase tudo começando do zero a zero, com exceção dos políticos que estão ingressando, pois já são bastante rodados.
Resta saber como atuarão em conjunto.

Elpidio disse...

Gostei NG do artigo e do partido, sou novato na area de blogs mas gosto muito de politica; apesar de ser atualmente uma desgraça em nosso país, boa sorte em seu retorno a este mundo das ilusões, aspirações e esperanças perdidas.

Mauricio Zane disse...

Se os políticos que integrarem o PSD não rezarem na cartilha do PT para mim já está de bom tamanho, o que vemos hoje é o silencio de quase todos, pois o PT e seus aliados (leia-se: asseclas) só fazem desqualificar seus desafetos, assistir uma sessão da Câmara Federal e do Senado dá náuseas em qualquer cidadão que tenha um pingo de decência.
No Senado temos o desprazer de ver diariamente petistas ocupando a tribuna declamando loas à “presidenta”, a qual até o momento não mostrou ao que veio.
Além de horas de cantilena, de lero-lero enchendo de cultura inútil os anais daquela casa.
Que venha o PSD, afinal estamos clamando no deserto por uma salvação.

Marcos disse...

Falta de lideranças no DEM e no PSDB permitiram isso. Os dois partidos-mãe estão claramente sem comando, o que gerou essa debandada. Mas é claramente um projeto de políticos em busca de visibilidade, não para melhor servir aos interesses do país, mas para melhor servir às suas ambições pessoais.
Esses políticos são como sanguessugas. Abandonam o PSDB e o DEM no momento difícil, o que é fácil. Quero ver fazer isso é nos momentos bons. Torço pra que fracasse, confesso.

Eduardo Graeff disse...

Interessante. Não tinham pensado no PSD do ângulo da franqueza ideológica. Mas, em matéria de escancarar, ninguém bate o PT com o Delúbio, não é?

LuízMS disse...

Sua análise é perfeita. Parabéns!

Vera Lucia disse...

Bem interessante seu post sobre o PSD, lúcido, inteligente. Tomara que seja mesmo algo de bom na política e não mais UM para dar apoio a esse governo de corruptos. A Oposição está moribunda, quem sabe o PSD com o correr do tempo e o desgaste do gov Dilma que com certeza irá acontecer pela herança MALDITA de Lula, surga alguém do PSD para disputar à presidencia em 2014? Sonhar não custa nada e têm nomes do PSD que podem sim deslanchar.
abçs.

Marcelo Dornelas disse...

Bom pra mim o PSD é um partido de oportunistas,sem identidade programática criado para a conveniência do Kassab e outros,apenas uma sigla para registro de candidaturas,nem de longe lembra o PSD getulista extinto,creio que não passa de um novo PMDB,e tem dado amostras disso,não se consideram centro,nem direita,nem esquerda,não é governo(mas na prática o que se vê é outra coisa),nem oposição,se consideram “independentes”,tipo o PV,acho que já temos partidos demais,principalmente fisiológicos,e qualidade de menos,se pudesse defini-lo diria que assim como o PMDB,é um partido onde todo mundo manda,ninguém obedece e cada um faz o que quer.

cavallieri@netpoint.com.br disse...

Olha! Sou de SP, o Kassab é um político com muito mais competência e inteligência do que se imagina por ai. E não é petista nem esuerdista.
O PSD é uma altermativa para coligações que coloquem o PT para fora. Ainda que no início sem uma cara definida, pode significar um princípio de retomada do poder por gente que dá valor a democracia.

Bem vinda NG,