Antes de tudo: não estou aqui referendando o monitoramento que
os EUA estariam operando em outros países. Penso, sim, que é de uma extrema ingenuidade nossas autoridades tratarem a coisa como se fosse a descoberta da roda.
Quer dizer que altíssimas patentes do Governo Federal e da
Defesa acreditavam, até o último final de semana, que o país que inventou a
internet e a telefonia celular, e que vive sob ameaça terrorista, não estaria
bisbilhotando as comunicações através do mundo.?
Ai, me poupem, por favor. Seria o caso de recomendar menos Pollyanna
e mais seriados de televisão – que são ficção, ok, mas carregam consigo alguma
verossimilhança. Só que certamente não é este o caso.
O governo e os serviços de inteligência nacionais devem
saber – ou no mínimo desconfiar - que isto ocorre há anos. O que aconteceu, agora, é que as revelações de
Edward Snowden a respeito do monitoramento das comunicações no Brasil vieram a
calhar. Eu imagino até a Dilma fazendo uma dança comemorativa - no pior estilo Ângela
Guadagnin, lembram? – ao saber que os documentos de Snowden incluíam a nação.
Não é novidade que Hugo Chavez fez escola com este pessoal
que hoje nos governa. Logo, o que é
melhor para um governo, cujo povo anda nas ruas a reclamar de tudo e por tudo,
do que encontrar um inimigo externo? Muda-se a agenda do dia para noite. Na
pior das hipóteses, os gatos pingados que ainda persistem nas ruas começam a produzir cartazes contra os yankees. Na
melhor, vão pra casa porque a nação foi ameaçada é a hora é de união.
A operação de venezuelização
começou já no domingo com a matéria do Fantástico. A imprensa,
afobada, embarcou na onda com a manchete
“o Brasil é o país da América Latina mais monitorado pelos EUA" – uma estupidez
quando consideramos que se os EUA estão monitorando a América Latina, e o
Brasil é o maior país da América Latina, só pode ter o maior volume de
comunicações e, portanto, ser o mais monitorado.
Mas o fato é que a tolice sensacionalista colou e, já na
segunda-feira, os ânimos entre membros do governo e do parlamento estavam a tal
ponto inflamados que não houve espaço para uma voz mais sensata, que tentasse
dizer “respira aí minha gente, antes de sair a dizer - e fazer - bobagens”.
De ontem para cá o clima foi de histeria. Ideli Salvatti –
cujas fofocas palacianas davam conta de que estaria na frigideira de Dilma –
renasceu para avisar que a soberania nacional está em xeque e – malandragem da
primeira hora – querer apressar a votação do marco civil da internet na Câmara.
Os plenários do Senado e da Câmara,
aliás, viram discursos inflamados, como
não se via há semanas – pelo menos, desde meados de junho, quando todos passaram
a adotar um tom mais humilde de taciturno.
Hoje, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional,
foram aprovados requerimentos para se ouvir legiões: do colunista do The
Guardian aos representantes do Google e do Facebook, estão todos convidados. A
mesma comissão também aprovou um voto, a ser encaminhado à Presidência da
República, em que manifesta apoio a um eventual pedido de asilo ao governo
brasileiro por Edward Snowden.
Vinda do governo, a patacoada sem precedentes não espanta. Como
eu disse acima, as revelações de Edward Snowden acabaram oferecendo uma bela oportunidade de mudança de ares na pauta nacional. O que assusta é que parlamentares da oposição estejam
caindo neste jogo.
Entende-se que a oposição não possa ir a público dizer “calma
gente, não é bem assim”, sob pena de ser acusada, pelos governistas, de “traição
à pátria”. Mas que ao menos guardasse um silêncio cauteloso antes de cair na
arapuca que o destino armou e Dilma agarrou com unhas e dentes.
Um comentário:
Certo em tudo.
Será que não há alguma mensagem de amor entre Lula e Rose?
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