“Na perspectiva do panorama visto de Brasília, a campanha
eleitoral será totalmente diferente das dos últimos anos em que prevaleceu o
marketing sobre o diálogo franco e maduro com a sociedade”.
(Dora Kramer, em sua coluna de hoje para o Estadão)
Há uma porção de erros nesta afirmação – que, se entendi
direito, não é o que pensa Dora Kramer, e sim o que ela tem ouvido de seus
interlocutores no Palácio do Planalto. Só me resta torcer para que os petistas estejam mesmo acreditando nesta bobagem de "menos marketing" - e que a oposição passe longe dela.
Em primeiro lugar a declaração acima evidencia a ilusão, bastante comum, de que o marketing
político se opõe ao diálogo franco com a sociedade. Ora, queridos: sem
marketing político a maioria da população nem sequer sabe que o diálogo está
acontecendo. Sem marketing político, o tal diálogo franco com a sociedade é
prazer reservado a poucos, nos debates que varam a madrugada, no Roda Viva e em
outros recantos de baixíssima audiência.
Obviamente, nas entrelinhas desta declaração percebe-se, também, aquela gostosa
demonização do marketing político – a quem o senso comum tupiniquim tem atribuído
todas as mazelas políticas da nação. Já escrevi no passado sobre como o bom marketing
- que é o de sucesso e, por isso mesmo, alvo constante de ressentimentos - não
mente. Cliquem aqui para reler.
Mas há mais: na revelação do petista à colunista está a certeza, agora
evidenciada pelas ruas, de que as pessoas estão fartas dos políticos
tradicionais, que querem algo diferente do que aí está. É esta certeza que, ao que tudo indica, está embalando a nova postura dos que habitam o Palácio do Planalto.
A rejeição aos políticos tradicionais pode até ser novidade para alguns setores da política e da
imprensa. Mas para o marketing político esta tendência mundial é tão velha
quanto a primeira eleição de Obama - que tinha como principal característica,
fartamente explorada por seus marqueteiros, um "jeito diferente de se comportar"; uma "postura independente" das tradições e
círculos políticos consagrados do cenário americano.
Em praias brasileiras, isto que hoje muitos acham que é
novidade desembarcou em 2010. Foi a bordo desta estratégia - da candidata “sem
marketing”, “diferente”, que “não tem jeito de político convencional” - que Marina
Silva alcançou quase 20 milhões de votos. Por óbvio que, agora, quando as ruas escancararam
aquilo que antes só os marqueteiros conseguiam enxergar, Marina vai seguir
firme no mesmo discurso.
Raimundo Colombo é outro exemplo. O catarinense – que em sua biografia diz não
acreditar em marketing, mas contratou para si um dos melhores marqueteiros do
país – tinha como principal característica a seu favor o fato de “ser diferente”
e “não parecer um político como os outros”. Era isto que aparecia nas pesquisas
qualitativas – e que alicerçou toda a sua vitoriosa jornada rumo ao governo do
estado.
Daí se conclui aquele óbvio que a oposição deve levar em conta se quiser ter alguma chance: essa história de “menos marketing e
mais qualquer-coisa-idealista-ou-romântica-que-você- quiser-inserir-neste-trecho nada mais é do que o bom e velho
marketing político. Na veia. E da melhor qualidade.
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